Segunda-feira, 17 de outubro de 2016 - 07h45

Professor Nazareno*
Em 1980 eu passava por Porto Velho, capital do ex-território de Rondônia, onde terminei fincando raízes. A caminho do Peru e depois da Nicarágua sandinista, fugia da ditadura militar, da seca e das incertezas de futuro na Paraíba. Com pouco mais de 140 mil habitantes, a cidade parecia um esgoto a céu aberto. Exatamente como agora, 36 anos depois. Não havia saneamento básico, arborização, urbanização e muito menos água tratada. O prefeito da cidade era o engenheiro Francisco Paiva nomeado pelo então governador Jorge Teixeira. Estávamos no mês de janeiro e a lama era o que mais se via nas esburacadas e fétidas ruas. A rodoviária da capital, localizada na antiga Avenida Kennedy era suja, fedida, mal arrumada e seus banheiros exalavam carniça. Era muito comum ver no meio das ruas tapurus e urubus dilacerando carcaças de animais mortos.
Naquela época só havia duas emissoras de televisão na cidade: a TV Rondônia, afiliada da Rede Globo, e a TV Nacional. Ambas praticamente só retransmitiam programas gravados exatamente como fazem hoje. A especulação imobiliária era uma constante e o já precário sistema de transporte coletivo, além de muito caro, era uma desgraça. A cidade parecia um faroeste de quinta categoria por causa do garimpo no rio Madeira. Prostíbulos imundos e duelos entre garimpeiros eram cenas comuns. O antigo Trevo do Roque vivia abandonado pelas autoridades e o lugar era como Porto Príncipe pós-terremoto. Um cabaré sem a madame. Os políticos de então, quase todos nomeados, prometiam, como muitos fazem atualmente, mundos e fundos para a população pobre e recém-chegada ao “Eldorado”. As mazelas daquela cidade continuam vivas em 2016.
Infelizmente nada mudou na capital dos rondonienses apesar de quase quarenta anos. Só vinha e vem para esta cidade quem tem negócios ou parentes. As autoridades eram quase todas de fora. Hoje, temos dois candidatos a prefeito, ambos também de fora. Um nasceu no desenvolvido e civilizado Paraná, o outro veio de Pernambuco. Ambos, claro, dizem que amam de coração esta fedorenta capital. Neste período, pelo menos 13 prefeitos já passaram pelo Palácio Tancredo Neves e nenhum nada fez para mudar a realidade da mais suja e imunda das capitais do país. Porto Velho fica no 98º lugar em IDH e qualidade de vida dentre as 100 maiores cidades do Brasil. Uma posição vergonhosa para uma cidade rica que tem três hidrelétricas, um rio caudaloso com água potável como o Madeira e tem na agropecuária e no extrativismo o seu carro-chefe.
Porto Velho nunca teve um grande administrador, eis a verdade. Nunca tivemos uma espécie de Jaime Lerner de Curitiba ou um Pereira Passos do Rio de Janeiro no início do século passado. Aqui nunca teve alguém que realmente amasse a cidade como sendo sua verdadeira casa, sua terra natal. Fala-se que Chiquilito Erse foi um Deus como administrador. Mas isto é pura balela, pois não se vê nada por aqui que tenha marcado as suas duas administrações. Porto Velho sempre se pareceu com uma currutela daquelas de garimpo, um chiqueiro sujo, fedido e sem cuidados. Nada daqui presta, nada daqui tem futuro, nada daqui vai para frente. Espaço Alternativo, viadutos, ponte escura. Não temos praças, iluminação decente, áreas verdes nem recantos de lazer. A Porto Velho dos sonhos está apenas nas cabeças de Hildon Chaves e Léo Moraes. Tomara que o eleito aprenda a lição do Nazif: se nada fizer, perderá o emprego.
*É Professor em Porto Velho.
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