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Silvio Persivo

Uma grande gafe diplomática



Esta questão de Honduras é complicada e complexa, mas, de forma indevida, o Brasil acabou por se envolver em problemas internos de outra nação. È preciso lembrar que José Manuel Zelaya Rosales foi eleito presidente de Honduras em 2005 e que, recentemente, anunciou a intenção de realizar uma consulta popular para verificar a possibilidade de que a população hondurenha, nas eleições gerais previstas para o mês de novembro deste ano, se manifestasse também sobre uma mudança da Constituição da República de Honduras. Não uma mudança qualquer, mas, sim uma tentativa de continuidade no poder contra a qual o Congresso Nacional daquele país manifestou-se contrario e, inclusive, aprovou uma lei para impedir a realização de qualquer espécie de referendo ou plebiscito nos 180 dias antes das eleições. Com isto, a consulta de Zelaya não teria validade jurídica e também o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Romeo Vasquez, recusou-se a dar apoio logístico à consulta tendo, por isto, sido afastado de suas funções. Para, supostamente, enterrar de vez a pretensão de continuidade de Zelaya uma decisão judicial, avalizada pela Suprema Corte, indicou que a consulta era inconstitucional. Mas isto não o demoveu de suas intenções de se perpetuar no poder, daí que se há um golpista este é o próprio Zelaya. 

Somente a visão torta de que, contra as leis e os poderes constituídos, a decisão deveria estar nas mãos do povo é que sustenta que Zelaya teria sido vítima do golpe, mas, de fato, em 28 de junho, quando os militares invadiram o palácio presidencial, prenderam o presidente e o enviaram para fora do país estava, como no passado fizera o Marechal Lott no Brasil, evitando o golpe. Com Zelaya fora do poder, o governo não foi reconhecido e nem aceitou os reiterados convites da Organização dos Estados Americanos para uma solução negociada. E Zelaya lançou uma campanha cujo mote era: pátria, restituição ou morte. É um direito dele, mas, qual a motivação de outros países para embarcar numa barca furada desta? De qualquer forma tudo estava bem enquanto as manifestações sobre a situação de Honduras concentravam-se no campo dos apelos diplomáticos, mas, com a volta Zelaya ao país tudo mudou. Não somente por ter tido apoio da Venezuela para ser levado até lá como pelo fato de que, a partir da embaixada brasileira, mesmo sem pedido de asilo político, passou a conduzir ações políticas que não condizem com o comportamento que nosso país deveria adotar, caso Zelaya estivesse na embaixada sob a condição de asilado político. Sem exigir esta condição para a permanência do político na sua embaixada e o deixando incitar a população, o Brasil não somente toma partido como transforma sua embaixada num centro de insurreição política. Tanto que ninguém na embaixada se opôs a Zelaya fazer discursos para o povo diretamente do prédio. É contra nossa tradição diplomática este tipo de comportamento que age de modo a interferir em assuntos internos de outra nação. Não se pode negar a hipótese de excessos por parte das forças hondurenhas, mas é inegável que Zelaya contribuiu para incitar a violência em Honduras. E o pior de tudo com a conveniência e o aval do governo brasileiro. É mais uma triste erro de nossa diplomacia. 

Fonte: Sílvio Persivo - silvio.persivo@gmail.com 
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