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Silvio Persivo

Baixa taxa de desemprego: pleno emprego ou ilusão


Baixa taxa de desemprego: pleno emprego ou ilusão - Gente de Opinião

A taxa de desemprego no Brasil manteve-se em 5,6% no trimestre encerrado em agosto de 2025, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado repete o menor patamar da série histórica iniciada em 2012 e representa cerca de 6,1 milhões de brasileiros desocupados, o número mais baixo já registrado. À primeira vista, os números indicam um mercado de trabalho sólido. Contudo, economistas e analistas alertam que a aparente bonança esconde uma realidade marcada pela informalidade, subocupação e precarização das relações laborais. Isto se baseia em que para ser considerada desempregada, a pessoa precisa atender a três critérios definidos pelo IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:

1)   não ter trabalhado sequer uma hora na semana de referência;

2)   ter procurado trabalho nos últimos 30 dias; e

3)   estar disponível para assumir uma vaga, caso surja.

Estas condições deixam fora da estatística milhões de brasileiros que, embora desejem trabalhar, não possuem meios financeiros para procurar emprego-como o custo de transporte- ou estão subocupados, isto é, trabalham poucas horas por semana em atividades eventuais sem contar os que vivem de subsídios do governo, como o Bolsa Família.  Além disso, há o grupo dos desalentados, que desistiram de buscar emprego por falta de oportunidades ou desânimo com o mercado. Embora invisíveis nas estatísticas oficiais, eles representam uma parcela expressiva da população em idade ativa.

É preciso acentuar que de acordo com o IBGE, cerca de 39 milhões de brasileiros estavam na informalidade em agosto de 2025, o que equivale a 38% da força de trabalho ocupada. Esses trabalhadores não têm acesso a direitos básicos, como férias remuneradas, descanso semanal e 13.º salário. Outro ponto preocupante é o avanço das plataformas digitais de trabalho- motoristas, entregadores e prestadores de serviços por aplicativos- que, apesar de representarem uma nova dinâmica no mercado, operam sem garantias trabalhistas e sob forte pressão econômica. Segundo a economista Maria Silva, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), “a atual taxa de desemprego mascara a deterioração das condições laborais. Há uma geração inteira que trabalha mais, ganha menos e vive sem proteção social”. O discurso de “pleno emprego”- sugerido por parte do mercado financeiro e autoridades-ignora o caráter limitado da metodologia oficial. Embora o número de pessoas ocupadas tenha aumentado, a qualidade dos empregos criados caiu, com expansão de postos informais e temporários. Além disto, o poder de compra dos salários permanece em queda devido à inflação e ao aumento do custo de vida. “Mesmo com uma taxa de desemprego baixa, o trabalhador brasileiro está em situação pior do que há dois ou três anos”, observa o economista Ricardo Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A redução da taxa de desemprego é positiva, mas não pode ser confundida com progresso social. O verdadeiro indicador de bem-estar laboral vai além do número de pessoas empregadas-passa pela qualidade das condições de trabalho, pela segurança de renda e pela preservação dos direitos trabalhistas. Enquanto essas dimensões não forem incorporadas à análise, o “pleno emprego” continuará sendo uma ilusão estatística- e o trabalhador brasileiro, a parte mais frágil dessa equação. E o que vale para o Brasil vale para Rondônia onde apesar de ser vangloriar de manter o segundo lugar em taxa de desocupação do país apresenta, em Porto Velho, um imenso contingente de jovens desalentados, que não procuram mais empregos porque não conseguem (ou não existem). São jovens, em geral, sem experiência de primeiro emprego e que precisam de aprendizado e medidas que estimulem serviços de alta tecnologia, de maior valor agregado e produtividade para poderem ser aproveitados. 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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