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Silvio Persivo

Arte para quê?


Arte para quê? - Gente de Opinião

A questão do que é a arte e da beleza da arte tem sido um tema sempre permanente nas discussões intelectuais. De certa forma, entre os brasileiros, foi abordada a relação entre arte e beleza pelo poeta Afonso Romano de Sant’Ana, que considera ter havido um desvirtuamento da arte ao se realçar o conceito se abandonando o objeto, ou seja, a arte passou a ser conceitual, enfim, mais explicações da arte do que arte mesmo. Outro intelectual brasileiro que se debruçou sobre o tema foi Ferreira Gullar que lamenta a covardia da crítica de arte que, talvez por medo ou mesmo por dinheiro, deixou que os critérios da arte se tenham diluído, de tal forma que a arte, agora, pode ser qualquer coisa que se denomine de arte. Este tema me rondava a cabeça em razão de um vídeo do artista rondoniense Joeser Alvarez que sob o título “Arte Para Quê?”, fez o que chamou de “Um registro documental e artístico no qual, quase uma centena de produtores culturais e artistas, manifestam de modo diverso e, por vezes confluente, suas visões sobre a finalidade da arte, conferindo a esse repertório uma semântica rica e diversa . As imagens foram captadas por câmeras e celulares ao longo de 10 anos”. O vídeo é mais dinâmico e provocador e, como se pode ver no Youtube facilmente(https://www.youtube.com/watch?=ZmelLX7rZus&feature=youtu.be&fbclid=IwAR1z9gnN4l1TKzdqf2fEpjMm5G2z3XrXRDtzckd2qUwozbg65wDPVjb5_Pw) uma busca de explicações sobre a visão de cada um sobre a arte. É uma coincidência, um pouco dolorosa, embora os céticos não acreditem em coincidência, que o vídeo surja quando morre um filósofo que muito se ocupou da arte e da beleza: Roger Scruton.  É dele, aliás, um livro muito interessante denominado de “Beleza” onde alerta para o permanente desejo de dispor da beleza desde da arrumação da casa, passando pela arrumação da mesa num jantar para os amigos, do jardim mais simples ao mais sofisticado, e até mesmo  nas vestimentas, especialmente, nos nossos tempos de redes sociais e “zilhões” de fotografias de celebridades e desconhecidos. No cotidiano, a beleza é buscada por todas as culturas e fica evidente na exposição de Scruton, ao dizer sobre a beleza, que não se estabelece um critério firme para a definição do que é a beleza, pois, isto passa por um conjunto amplo de possibilidades, ao mesmo tempo, que sempre o desejo de beleza se relaciona com critérios formais e com uma certa sensação de bem-estar e aconchego. O que ressalta é que, sem sombra de dúvida, a arte consiste numa das mais apropriadas atividades para a busca da beleza. Scruton, que nada tem de saudosista,  escreve que : “... tudo que afirmei acerca da experiência da beleza insinua que ela possui fundamentos racionais. Desafia-nos encontrar significados em seu objeto, traçar comparações críticas e examinar nossas próprias vidas e emoções à luz do que descobrimos”.  Para ele, a questão é a de que, no mundo moderno, há na arte uma fuga da beleza e da verdade. Então, talvez, a pergunta certa não seja “Arte Para quê”, mas, “Arte Por quê”. Daí, o importante é perguntar até onde a arte serve para a vida. Ou, talvez, indo mais longe, como se faz da vida uma arte. Fazer arte na vida, no entanto, hoje, em dia, até para obter 15 segundos de fama, milhões já fazem, independente da beleza e da verdade. 

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