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Silvio Persivo

A crise do Covid-19: impactos na economia e no comportamento das pessoas


A crise do Covid-19: impactos na economia e no comportamento das pessoas  - Gente de Opinião

A maior crise sanitária do Século XXI atinge o mercado valorizando o local e mudando comportamentos

Uma análise dos impactos da pandemia do coronavírus sobre a economia brasileira demonstra que seus efeitos foram avassaladores e ainda perduram mesmo com a melhora da circulação das pessoas e do aumento do consumo derivados da queda dos níveis de propagação do vírus e da vacinação. Quando examinamos friamente a questão da pandemia é preciso verificar que a pandemia de Covid-19 tem deixou marcas profundas no mundo inteiro com mais 4,4 milhões de vidas perdidas. É a maior crise sanitária do século 21 com uma receita para impedir sua propagação que criou enormes problemas econômicos e de sobrevivência aumentando o desemprego e a pobreza.

Também, pela forma impositiva das medidas de restrição, ou exigiu dos estados a injeção de recursos financeiros em escala tão elevada para buscar reduzir os impactos econômicos e o agravamento das desigualdades sociais. Levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostrou que, em 2020 os países do G-20 aportaram US$ 25 trilhões nas suas economias por medidas de estímulos fiscais (US$ 15,23 trilhões) e monetários (US$ 9,32 trilhões). Os déficits fiscais médios (a diferença entre as receitas orçamentárias dos países e suas receitas como proporção do PIB, atingiram em 2020 11,7% no caso das economias avançadas, 9,8% nas economias de mercado emergentes e 5,5% para países em desenvolvimento de baixa renda.

O Brasil, que retomava uma tendência de crescimento, apesar de medidas econômicas adequadas do governo brasileiro, como as de manutenção de empresas, empregos e auxílio emergencial, acabou tendo uma queda de 4,1% em relação a 2019. Isto porque, no 2º semestre de 2020, surpreendeu com uma retomada agregada da economia em “V”, o que suavizou as previsões de queda superior a 9% no Produto Interno Bruto (PIB) que foram feitas pelas agências internacionais e pelo mercado. A reversão parcial das expectativas, porém, ainda assim representou a queda do PIB de R$ 7,7 trilhões, em 2019, para R$ 7,4 trilhões, em 2020, ou seja, R$ 300 bilhões a menos.

Rondônia, como seria de se esperar, sentiu os impactos da pandemia, a partir de 20 de março do ano passado, quando se editou o decreto de Calamidade Pública. Estima-se que o PIB de Rondônia, a soma de todos os bens e serviços que se produz durante o ano, tenha tido, em 2020, uma queda de 4%, ou seja, um impacto de R$ 1.800.000,000,00 (Hum bilhão e oitocentos milhões) que deixaram de girar até o final do ano. As estimativas é de que, mesmo com a retomada da economia, por conta dos efeitos ao longo do tempo,  estes prejuízos já ultrapassaram os R$ 2,9 bilhões.

O governo estadual e os municipais, na sua grande maioria, no ano passado, não sentiram tanto pelos recursos que receberam do Governo Federal e a manutenção dos níveis de consumo. Por exemplo, a Secretária de Finanças apontou que o faturamento acumulado das empresas rondonienses contribuintes do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) superou em 17,6% o faturamento acumulado no mesmo período do ano anterior. A SEFIN informou que a arrecadação própria deu um salto, entre agosto e dezembro de 2020, de R$ 376,4 milhões acima do valor registrado no exercício de 2019, mesmo considerando a perda de arrecadação de R$ 183,3 milhões na fase inicial da pandemia, de abril a julho. Mas, é preciso verificar que este dado é ilusório, pois, reflete os efeitos indiretos do auxílio emergencial para 51% das famílias do estado e que, o consumo se concentrou em algumas empresas de setores como supermercados, alimentos, bebidas, enfim, gastos básicos e, especialmente, grandes e médias empresas, mas, 95% das empresas do Estado são micros e pequenas.

É verdade que graças a isto também o Governo do Estado e os municípios tomaram medidas visando minimizar os efeitos econômicos da crise seja pela dilatação do prazo de pagamentos de taxas e impostos, seja por medidas burocráticas que visaram facilitar a vida das empresas e, dentro das possibilidades, programas de apoio, inclusive de crédito.

Entretanto não se pode negar que os impactos foram muito mais fortes em setores que tiveram suas atividades quase que completamente restringidas, por serem consideradas como atividades não essenciais, como as áreas de lazer, de entretenimento, de turismo, os serviços de uma forma geral. Uma estimativa considerada boa, ainda que os dados oficiais não reflitam, de fato, o que houve, seja por problemas de formalização ou falta de informações é a estimativa de que o impacto global resultou no fechamento de 11,4% das empresas do Estado. É muito comum que muitas empresas, sem caixa e com problemas de recursos, fecharam sem preocupações formais. Com a retomada e a melhoria do nível de emprego, mesmo assim a taxa de desocupação de Rondônia, que é uma das mais baixas do País, oscilou muito para cima, no ano passado, quando se estima que foram fechadas cerca de 27 mil vagas, daí o recente crescimento da formalização de novas empresas, a grande maioria de MEI, microempreendedores individuais, ou seja, “empreendedorismo forçado”, pessoas que por falta de empregos buscam trabalhar por conta própria para sobreviver. Mesmo agora, com a reabertura, 83% das famílias afirmaram que perderam renda e isto se reflete no poder aquisitivo de Rondônia que se encontra num patamar de 11,4% abaixo da média nacional. Assim, por exemplo, no Dia das Crianças, a última data de vendas do 2º semestre, as vendas, num primeiro balanço, foram só 2% maiores do que as de 2019, o que ainda é insuficiente para repor os prejuízos.

Empreender no Brasil não é fácil. Nunca foi fácil. E, com a pandemia, em Rondônia, a grande realidade é que as empresas tentam sobreviver com uma carga elevada de compromissos atrasados, muitas continuam com dificuldade de ter recursos para as folhas de pagamento e os compromissos não esperam, de forma que, em geral, a busca de sobrevivência leva à procura de crédito, o que dadas as condições, estima-se que, com todas as concessões que se tentou dar, somente alcance 17% delas, justamente as mais formalizadas e bancarizadas.  A intenção de consumo das famílias vem, gradativamente, subindo nos últimos cinco meses, porém, ainda é 4,6% abaixo da nacional.

Diante da situação, o Governo de Rondônia, por meio da Superintendência Estadual de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura – SEDI, criou o Comitê Socioeconômico de Retomada da Economia, visando

discutir propostas de incentivo à economia e aos empresários, com a participação de representantes do Tribunal de Contas da União – TCU, Empresários, Associações Comerciais e lideranças de diversos segmentos. Algumas ideias discutidas foram postas em prática, todavia, a ação do governo, e deve-se dizer dos governos, inclusive a União, é muito lenta quando se trata de reparar prejuízos a outros setores. Há limitações legais, é claro, porém, a prioridade dos governos, historicamente, tem sido manter as contas em dia (o que não é errado, mas, a forma deveria ser pelo estímulo ao investimento). Não há nenhum estudo estadual sobre o fechamento de empresas, sobre os prejuízos que tiveram com as medidas de fechamento. Talvez, a melhor forma de tratar o problema fosse buscar, via uma secretaria estadual, pedir para empresários que perderam seus negócios ou tiveram prejuízos informar ao governo para se criar um programa de recuperação para esses empreendedores. Contudo não é uma tarefa nem fácil, nem rápida. Ainda mais que a sobrevivência de muitas empresas ainda continua em perigo até porque

a pandemia do novo coronavírus mudou a maneira como as pessoas vivem, se relacionam e consomem. Não se trata apenas da transformação imediata, do primeiro momento, mas, a rotina da população foi alterada de uma forma que vai provocar impactos de longo prazo no comportamento das pessoas. Com um cenário assim, as empresas e marcas enfrentam o desafio de entender as mudanças e se reposicionar no mercado, o que exige modernização, digitalização e novos investimentos.

Entre as prováveis tendências a R/GA Network Global aponta que mudaram, talvez, de forma permanente alguns comportamentos como:

1- A reinvenção da casa

O confinamento, por longo tempo nas casas, implicou na adaptação nos lares da rotina de trabalho e estudo. Neste período, o público reproduziu experiências externas dentro de suas casas e se acostumou com serviços delivere, bem  como com o crescimento de plataformas de trabalho digitais e programas de exercício em casa;

2-Valorização do local

As restrições, com o apoio da digitalização e do home office, levaram à valorização da produção local, que deve ganhar força como fator de compra. Durante a crise, as pessoas passaram a apoiar o comércio e a produção local e isto deve ser mantido no pós-pandemia. Até mesmo grandes empresas, para não perder mercado, buscaram soluções para apoiar a cadeia de pequenos e médios empreendedores;

3- O Minimalismo

A pandemia afetou as famílias de diversas formas, inclusive, a renda. Este fator leva o público a pesquisar mais os produtos e os preços e a repensar o que realmente é essencial. Em especial também induz  a mudar comportamentos relacionados a saúde e alimentação, que passam a ser prioridade, porém, também se reflete na interrupção ou redução de  gastos com itens de luxo;

4- Mais digital e menos contato

O isolamento social claramente acelerou os processos de digitalização das empresas e levou os  consumidores, que não estavam acostumados a usar serviços digitais, a ver que podiam comprar com conforto e segurança, sem contato. É um comportamento, como aponta o crescimento no Brasil para 30% do consumo via e-commerce que tende a perdurar e crescer;

5- Cocriação e cultura maker

Com orçamento apertado e tendo que ficar em casa, as pessoas estiveram mais dispostas a testar novos hábitos e criar produtos ou buscar novas soluções. Este movimento deve se acentuar  com o surgimento de inovações e possibilidades criativas para a rotina e o trabalho;

 

6-Influência dos especialistas

Por mais que tenham tido o seu comportamento questionado, o engajamento em perfis de influenciadores aumentou na pandemia. Um estudo recente da Kantar revelou que o desempenho dosanúncios em conteúdo deste gênero cresceu 40%. No meio deste dilema, devem se sobressair os criadores de conteúdo que tragam conhecimento e propósito, bem como os que sejam reconhecidos por sua excelência nos seus campos de trabalho;

7- Foco no coletivo

A crise estimulou o público a se unir e pensar coletivamente. As empresas passaram a ser cobradas e a fazer a diferença para seus funcionários, consumidores e a comunidade. Este foco no coletivo deve se estender para uma revisão nos modelos de negócio e uso de dados;

8- Experiências especiais

Com a retomada das atividades as pessoas deverão procurar

Oportunidades de viver experiências fora de casa. Devem valorizar mais isto, mas, o  desejo de aproveitar a vida não se desligará de cuidados e regras de segurança, nem de buscar extrair o máximo da experiência. Certamente isto deve estimular tendências de moda, esportes radicais, shows culturais e tatuagens. 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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