Sábado, 4 de janeiro de 2025 - 08h05
Os primeiros passos de 2025 bem claudicantes. O
verão chegou com todo mundo já pronto para ir ao forno e depois se resfriando
em enchentes e fazendo ginástica de tapas certeiros em qualquer mosquito que se
aproxime perigosamente em momento crucial de surto de dengue, a propósito ainda
sem vacina, porque o povo que tem de aprová-la ainda boceja por aí.
Não é desalento, mas retrato desses primeiros dias já revelado em todas
as cores. Ouvidos invadidos pelo zumzumzum dos pernilongos e das promessas –
algumas quase que ameaças - dos eleitos e reeleitos que agora já mudam do rumo
que apresentaram. Ainda teremos de nos preocupar com os eleitos fora de nossas
fronteiras e com enorme capacidade de nos atormentar, direta ou indiretamente.
Se algumas destas ameaças se concretizarem veremos cenas impressionantes de
aviões chegando aos aeroportos repletos de quem foi e que agora serão
despejados aqui de volta com suas malas repletas de sonhos, contando aventuras.
Nas cidades, seremos atropelados pelo autoritarismo travestido de modernidade e
gestão que sempre esquece de nos consultar sobre as reais prioridades, antes
destruindo para construir, passando boiadas em nome de poderosos, destruindo a
memória, a vegetação, tacando cimento, erguendo arranha-céus, e esquecendo as
pessoas e a infraestrutura necessária, vendendo a vez com marteladas, sem
fiscalizar o que acontecerá a partir daí.
Trouxemos do ano anterior uma mochila pesada, a começar pela política,
justiça e economia nacional em momento confuso e cambaleante, inclusive com
outras voltas - neste caso, de personagens dos quais nos julgávamos livres, mas
tais quais os pernilongos continuarão a nos azucrinar quando o que mais
queríamos era nem ouvir mais seus nomes nem sobrenomes. Dos palcos, surgem
ainda outros em anúncios que até nos fazem rir, ou chorar, projetando seus
nomes como candidatos à sucessão de qualquer coisa, até do horror. Pior, ganham
espaço, com apoiadores que se apressam em querer um canto também, já que tudo
anda tão normalizado, parece tudo bem esse inferno. Cada opção pior do que
outra.
As contas de janeiro começaram a chegar até bem antes do fim do ano
passado, como um alerta para que moderássemos as comemorações de fim de ano.
Amargas, reajustadas com base no dólar; urubus aproveitando as correntes
quentes sobrevoam nossos recursos. Nada tem muita explicação, uma notícia
atropelada por outra e a gente com essa impressão sobre o tempo passando tão e
mais rápido que não tem nem como esboçar reação. Os protestos agora se dão em
um outro mundo, o virtual, poucos chegam às ruas, poucos são levados adiante.
Criamos verdadeiros mundos paralelos, cidades, ringues de batalha, como um
imenso jogo distópico com milhões de participantes atuando ao mesmo tempo e
dando a impressão de que essa é a participação possível.
As balas certamente continuarão cruzando os ares encontrando corpos
inocentes, comandos e milícias se espalhando, assim como desmedida violência
policial, tudo junto e misturado. Mulheres e minorias em risco, liberdades
conquistadas indo para o ralo em assustadoras canetadas saídas de reuniões
esquisitas e de troca de favores, vindas - para piorar - de um governo
silenciado, acuado, chantageado, infelizmente ainda perdido e atordoado em dois
anos de mandato.
Nossos primeiros passos com sapatos velhos. Precisamos trocar as solas.
Nem que seja para que comecem a ranger para chamar mais a atenção nos caminhos
que percorreremos, e em busca de corrigi-los. Enquanto há tempo.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do
Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para
homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São
Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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