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Marli Gonçalves

Nós, no tabuleiro


Nós, no tabuleiro - Gente de Opinião

Recuerdos. Adorei e sempre fui boa em jogos de tabuleiro. Criança com ataques de bronquite que me impediam de muitas vezes até de ir à escola, acabei lendo muito, adorando jogar e os desenhos animados que passavam na tevê. Isso foi até uns doze anos de idade. Fora morar numa rua movimentada, Rua Augusta, o que não permitia outras brincadeiras tradicionais com amigos, e no prédio não podia nem ficar lá embaixo. No máximo descia rápido para ver o Ronnie Von a caminho da TV Record para o programa da Jovem Guarda, sempre no horário. Então, quando dava, e meu irmão tinha alguma disposição, jogávamos. Lembro uma loja grande, na mesma Rua Augusta – era um sucesso, muitos aqui devem recordar. Só tinha ela, chamava “Modernas” e era o paraíso infantil dos brinquedos, todos os jogos naquelas caixas –as novidades, bonecas, maravilhas. Era caminho de ida e volta à escola primária, levada pela minha mãe que até tentava me distrair, mas eu a puxava para lá. Fiquei arrasada, mesmo anos depois, quando foi fechada; depois, demolida. Hoje lá tem um Habib´s.

Tudo me veio à lembrança nesses dias intranquilos em que estamos sendo chacoalhados pelos Estados Unidos e seu presidente pimpão, a cada dia mais fora de si, e essa parece ser a impressão mundial. O senhor laranja encasquetou com o Brasil fazendo chantagens inaceitáveis para tentar livrar o amigo golpista que sempre tentou copiá-lo em tudo. Copiar até no incentivo à invasão aos prédios dos Poderes, como ocorreu no Capitólio quando foi o Trump quem esperneava por não ter sido eleito. Realmente parecidos, mas na insanidade, retrocesso e visão de que o mundo gira em torno deles. Não gira, embora Trump esteja tentando jogar o War (guerra, em português), de conquistas territoriais sobre o mapa-múndi dos sonhos da sua cabeça.

Dei risada sozinha lembrando dos movimentos e peças do xadrez. A gargalhada foi lembrar do movimento do cavalo, em forma de "L", duas casas em uma direção e depois uma casa perpendicularmente. Creio que certas pessoas quando jogam xadrez devem odiar isso, o L que virou símbolo da derrota deles em 2022. O xadrez é jogo estratégico, onde tudo é feito para evitar a captura do rei, o xeque-mate. No xadrez está exposta a realidade do poder, dos soldados, os peões, dos castelos, a torre. Da religião, o bispo. E ainda a frenética rainha, a peça mais poderosa, capaz de se mover em qualquer direção por qualquer número de casas, um perigo quando lhe damos espaços. Entenderam, né?

Mas tem muito mais no tabuleiro neste delicado momento, agora com um jogador colocado de castigo com tornozeleira e restrições. Vai ficar sem jogar algumas partidas. O dominó sem encaixes. A partida do Banco Imobiliário, respondendo e frustrando o ataque aos domínios nacionais. A participação do filho, deputado até não sei quando, Eduardo Bolsonaro, e que se mudou para os Estados Unidos com dinheirinho no bolso para conspirar me fez lembrar daquele que ficava do lado de fora das partidas, tentando soprar jogadas, ou burlar as regras para ajudar alguém a roubar a vitória. Aquele que estica os olhos para entregar a jogada dos outros.

Enfim, esse momento em que são jogadas bombas tarifárias no tabuleiro e que podem atingir não só a nossa soberania pelo que trazem em seu interior, mas a vida de todos, causando crise econômica, desemprego e insegurança, parece a continuidade do filme de terror que vivemos por quatro anos, uma tentativa de elevar a discórdia incentivando caminhos para tomada de poder. Será necessária muita inteligência e ponderação para mexer as peças no transcorrer do que está posto à mesa de forma violenta.

Meu medo é que saia do tabuleiro e vire um “braço-de-ferro” quando duas pessoas tentam derrubar o braço uma da outra sobre uma mesa. Mas que também descreve uma pessoa ou situação que demonstra força, determinação e poder, na política, nos negócios ou em qualquer área. A torcida de ambos os lados se aglomera para assistir. Pior, estamos mais para “Jogos Vorazes”.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, cronista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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