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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Batalha Naval de Itacoatiara – Parte IV


Batalha Naval de Itacoatiara – Parte IV - Gente de Opinião

Bagé, 25.06.2020

 

Permanecendo com Ildefonso Guimarães:

 

Tropas Legalistas

 

Quando desembocamos na Enseada de Itacoatiara, os dois navios dos rebeldes estavam fundeados em frente à Cidade, distando mais ou menos umas duas milhas marítimas do nosso ponto de aparição. Naturalmente, aguardavam o prazo que tinham dado à população de Itacoatiara pra evacuar a Cidade que ia ser bombardeada.

 

Sabíamos, pelo rádio, que eles haviam intimado a nossa tropa, comandada pelo Tenente Álvaro Souza e entrincheirada na rua da frente, a se render, uma vez que não aceitara as suas propostas de adesão feitas primeiramente.

 

Nesse intervalo, as autoridades locais, sem dúvida com o propósito de ganhar tempo, enquanto aguardavam a nossa chegada, haviam mandado o Vigário da paróquia, a bordo de uma catraia, parlamentar com os sediciosos em nome do Prefeito, pedindo uma dilatação do prazo do ultimato, alegando ser este insuficiente para a retirada da população civil. Quando a catraia do Padre estava chegando de volta ao porto, eles nos avistaram e começaram a atirar.

 

O primeiro tiro de canhão que chegou a nos ameaçar com mais perigo, felizmente passou por cima do “Ingá” e foi atingir uma serraria que havia acima um pouquinho de Itacoatiara; o segundo, esse pegou na proa do nosso navio. Foi um estrondo dos diabos; sinceramente, pensei que íamos a pique.

 

A granada abriu um enorme rombo na proa e, no momento do impacto, viu-se faiscar pelo ar um buquê de estrias incandescentes enquanto os estilhaços, batendo contra as chapas de ferro da amurada, ora saltavam pelo convés, ora embicavam nas águas como pássaros ardentes.

 

Mas, felizmente, foi esse o único tiro de canhão que nos atingiu; mesmo porque não demos muito tempo para que eles continuassem a utilizar a artilharia. Ainda assim, com a proa avariada, prosseguimos na investida, mudando sempre alternadamente o quadrante de direção, para que eles tivessem maiores dificuldades de pontaria e fomos nos aproximando o máximo possível, vencendo a barragem de fogo, que essa era a tática do Comandante Lemos Bastos. Oficial Superior da Marinha, ele logo percebeu que os canhões dos rebeldes não ofereciam assim tão grande perigo para o nosso avanço, já por não contarem com atiradores experimentados em artilharia naval – o que era óbvio pela imperícia que demonstravam – já porque a situação de suas peças, em relação à amurada do “Jaguaribe”, não ameaçava os pontos vitais das nossas embarcações: eles não tinham campo de tiro para nos atingir na linha dos porões ou do leme, onde qualquer rombo ou dano poderia promover a invasão de água ou desgovernar o navio, pondo assim em perigo a sua estabilidade de marcha. Seus canhões só podiam bater um ângulo de mais ou menos uns vinte graus verticais sobre a amurada de seu próprio navio e isso mesmo a uma distância razoável.

 

Lemos Bastos sabia, portanto, que a nossa vantagem estava em avançar o mais rápido que nos permitisse o fogo do inimigo e chegarmos perto dele para impedir que continuasse a utilizar os canhões.

 

Sendo nossos navios mais altos [mesmo que o maior deles, o salineiro “Jaguaribe”] quando chegássemos a uma distância favorável de tiro de fuzil e metralhadora, seria fácil para nós a manutenção de um fogo cerrado sobre o convés dos contrários, neutralizando gradativamente sua ação de fogo, inclusive de infantaria. Quando conseguimos isso, o nosso Comandante jogou o “Ingá” pra cima do “Jaguaribe” e deu sinal ao “Baependy” para que se encarregasse do “Andirá”.

 

Aí nós começamos a atirar pra valer.

 

Nós atirávamos neles sobre o convés; quando chegamos mais perto, o “Jaguaribe” começou a recuar e nós atirando sempre com o fim de imobilizar os canhões. Lembro-me bem que a minha peça de metralhadora recebeu ordem de concentrar o seu fogo sobre a guarnição de um canhão que ficava a boreste do convés do “Jaguaribe”; pelo binóculo pude ver o Cabo apontador que estava de pé à direita da peça, de olho colado ao visor, dar um salto e sair se batendo como galinha no torniquete quando uma bala o pegou na altura do baixo-ventre. Aí, a confusão se espalhou entre os serventes-de-guarnição; vi bem quando o encarregado da culatra deu um pulo para trás, largando o ferrão da conteira ([1]) sobre o pé do conteirador, fazendo-o cair de bruços sobre o canhão. Então, os outros serventes, o atirador e os dois municiadores, abandonaram a peça, correndo adoidados pelo convés, até que uma rajada das nossas “hotchkiss” ([2]) acabasse de uma vez com a agonia deles.

 

Avançando sempre, enquanto o outro recuava, em manobras de abordagem que levaram talvez uns 40 min, o “Ingá” foi empurrando o adversário contra a costa fronteira a Itacoatiara, até que o “Jaguaribe” bateu num baixio e aí nós o pegamos pelo meio. Foi uma porrada sensacional como nunca vi outra na minha vida; um estrondo oco-medonho, seguido logo de um profundo gemer de ferragens se partindo, tudo misturado aos gritos de homens esmagados e ao pungente mugido dos bois amarrados no convés de popa, enquanto a metralha varria destroços com sua vassoura de morte. Um inferno! Só quem já passou por isso pode avaliar.

 

Eu vi o navio se partindo, atingido a bombordo pela proa do “Ingá”, mais ou menos na altura da casa de máquinas: foi aquela fumaceira, que saía adoidada pela gaiuta da chaminé, quando a caldeira estourou. Aí, as ferragens e o madeirame foram estalando e saltando pelo ar em meio aos gritos dos feridos e dos que procuravam escapar se atirando n’água. Mais que isso, o pior era ver a agonia dos bois, coitados!

 

Eu me lembro que fiz o sinal da cruz e disse comigo mesmo: “Encarnação, que Deus te perdoe por este horror que estás causando, mesmo não sendo tua culpa!

 

Mas quando eu olho, assim, vejo que o “Jaguaribe” tinha enganchado no nosso navio, preso por aqueles ferros estriados da proa do “Ingá”, no rombo aberto pela granada. Naquele corpo-a-corpo entre os dois paquetes, o “Jaguaribe”, à proporção que afundava, ia puxando a gente e, quando eu dei pela coisa, custou-me a acreditar naquilo que via: pois não é que, apesar de tudo, ainda havia um grupo de rebeldes, uns cinco ou seis junto de uma peça, atirando em nós de fuzil por trás do canhão!

 

Mal eu ponho a cara para espiar, eles largaram chumbo no meu rumo: foi o fogo pipocar e eu me abaixar, escutando o impacto das balas rebentando no costado e sentindo os cascões de ferro caindo em cima de mim.

 

No mesmo instante, a voz da nossa metralhadora falou em resposta e quando tudo silenciou e eu pude me levantar, os cinco alucinados estavam amontoados uns sobre os outros ao lado do canhão: debaixo deles, longos caminhos de sangue escorriam como grossas centopeias, buscando as valetas do costado, no rumo do Rio. Essa foi a última visão que tive do “Jaguaribe”. Logo depois, sob o enorme peso da adernagem, ele se soltou do “Ingá” com um longo rangido de ferros e foi se sumindo rapidamente nas águas, ficando na superfície apenas aquele demorado borbulhar de rebojo.

 

Enquanto isso, uma outra batalha continuava, travada entre o “Baependy” e o “Andirá”; parecia uma luta entre Davi e Golias, só que terminou às avessas: O “Baependy”, pesadão, fazia desdobradas surtidas para atingir o contrário; este, porém, mais leve e obedecendo ao desespero de seu timoneiro, conseguia safar-se constantemente por contar com maior facilidade de manobra. Nesse entremeio, a fuzilaria trocava endereço e convés a convés, acompanhada em contracanto pelo matraquear das metralhadoras.

 

De terra, a tropa da 1ª Companhia, entrincheirada no barranco, atirava contra o “Andirá”, mas parte desse fogo, ora se perdia na distância, ora vinha sobre o “Ingá”, agora no meio do Rio. Que diacho! Os nossos soldados foram ficando queimados com essa situação, pois a essa altura já pensavam que o pessoal de terra tivesse aderido aos rebeldes.

 

Felizmente, foram contidos. O Capitão Lemos Bastos era um grande Comandante. Numa de suas investidas, depois de quase uma hora de luta, o “Baependy” conseguiu fazer uma volta mais rápida e pegar de raspão o navio inimigo: a esfregadela arrancou algumas chapas de ré e o “Andirá” começou a fazer água e a perder pouco a pouco a capacidade de manobra. Nesse momento, quem pôde se safar, safou-se; pegou salva-vidas, bote, se agarrou em quanta matalotagem ([3]) tinha condições de flutuar. Mas, verdadeiramente, ou aquela gente estava louca, possuída de algum demônio da chacina, ou lutava por uma espécie de ideal de destruição. Sim, porque idealismo político eu não acredito até hoje que eles tivessem, aqueles pobres insanos, conduzidos ao abatedouro pela esperteza de uns poucos.

 

Digo isso porque, no momento em que o “Andirá” se foi para as profundezas, partido ao meio como um palito de fósforo, numa investida final do “Baependy” que o apanhou à altura da meia nau, nesse momento ainda havia dois escaleres cheios de soldados rebeldes atirando contra os nossos navios. Aí, um cabo da minha Companhia, chamado Pedro João, que dirigia a 2ª Peça de metralhadoras embarcada no “Baependy”, comandou uma rajada contínua e liquidou com eles.

 

Revoltosos de Óbidos

 

Pois bem, como eu ia dizendo, continuei me arrastando no rumo da popa, porque era o lugar mais seguro para se cair n’água sem ser muito visado pela fuzilaria do inimigo. Isso porque o “Andirá” sempre de proa para o lado dele que era a melhor maneira de evitar o abalroamento.

 

Então, eu fui seguindo, me movendo como uma cobra na caça e quando cheguei ao convés de ré – sempre por baixo do assovio das balas – avistei o dentista Emílio Pereira que tinha vindo com a gente a bordo do “Andirá”, comissionado no posto de Capitão.

 

Nisso eu passei por perto do Aristarco, irmão do Cabo Ataulpho, e encontrei ele caído de lado em cima d’uma caixa de cebolas, os olhos me espiando sem viço, d’uma maneira desconforme que até hoje me arrepia. Mais adiante – embaixo duma mesa perto da copa – dei de cara com o cadáver do Toscano, um que tinha vindo de Belém como escrivão da “Mesa de Rendas” ([4]) e acabou se entregando ao Coronel Pompa com todo o apurado do Governo.

 

Tinha um enorme buraco bem no meio da testa, como se seu assassino tivesse querido abrir nela um terceiro olho, por onde o miolo tinha espocado e saía pra fora amarelo, como uma flor de jurumu ([5]) quando começa a brotar.

 

Pois não é que quando eu chego perto do dentista – que já tinha passado uma perna por cima do balaústre e estava criando coragem para se jogar n’água – senti o sopro frio de uma bala tinindo nos meus ouvidos e no mesmo instante ouço o berro do dentista: Aaaai! – e vejo ele se enrolar feito um embuá ([6]) e cair n’água se torcendo todo, igual tamuatá ([7]) quando se joga água fervente.

 

Atirei-me atrás dele e então o que eu apreciei de perto, assim palmo em cima de minha cara, é uma coisa que nem gosto de lembrar: o coitado penando nas vascas da morte; esperneando, se esbulhando em agonias, enquanto as águas avermelhavam em redor dele – e de repente o acontecido, a coisa que toda vez que me volta no pensamento me bota um frio na boca do estômago e aquele medo horrível que até hoje me gela por dentro quando me lembro: o homem escabujando ([8]); aos poucos só a cabeça aparecendo, indo pro fundo e voltando a boiar, com aqueles olhos, já de finado, olhando fito na minha direção. Depois a baita rabanada e um enorme rabo de peixe aparecendo à flor d’água, como um relâmpago; coisa de um metro ou mais, sei lá! Boiou como o gume d’um chanfalho ([9]), rebrilhante ao Sol. Foi um instante apenas, uma lasquinha de tempo em que tudo aconteceu; o tanto suficiente praquela meia-lua cinzenta relampejar e o dentista se mostrar de corpo inteiro, por uma vez derradeira, dobrado ao meio como um bagaço de cana saído da moenda e levantado por uma força tremenda vinda de baixo que, no passar d’um segundo, amostrou ele e sumiu com seu cadáver duma vez por todas. Acho que só podia ser uma piraíba ([10]), e se era, foi a maior que já vi na minha vida.

Pode ser que o pavor tivesse aumentado o tamanho dela na minha vista, mas eu juro que nunca mais vi uma bicha daquele porte, nem mesmo dessas maiores que os caboclos traziam pra retalhar no mercado.

 

Mas bem, aí eu não sei se foi o cagaço, mas só sei dizer que senti dentro de mim uma força dupla, e uma vontade danada de viver me encheu de sustância pra me afastar o mais rapidamente do navio, evitando ser sugado pelo redemoinho da hélice. Por essas alturas, muita gente já havia se atirado n’água desde quando o Baependy” conseguiu dar o primeiro catiripapo no “Andirá”, pegando ele de raspão pelo costado e revirando umas chapas da popa que nem quando a gente abre uma lata de sardinhas.

 

Teve até uma parada cômica nessa ocasião, que a gente – passado todo aquele inferno de desespero – se divertia só de relembrar: um Cabo corneteiro do 4° Grupo, apelidado de “Porca Velha”, conseguiu se salvar agarrado num porco; um animal que ele tinha arrastado do convés da 3ª do “Andirá”.

 

Os dois caíram n’água – o porco na frente e o corneteiro atrás e o “Porca Velha” se grudou no toutiço ([11]) do barrasco ([12]), que saiu nadando com ele pra terra.

 

Dessa parada, eu tinha até uma fotografia, tirada de bordo do “Baependy” por um primo meu que fazia parte da tropa do Vinte e Sete: o “Porca Velha” sendo salvo por um de seus irmãos!

 

De bordo do “Baependy”, eles atiravam na gente mesmo dentro d’água. Não tinham contemplação. Até dos náufragos.

 

Pelo menos, enquanto eles não puseram o “Andirá” a pique, bala passava raspando a água: plsum... plsum, e a gente boiando a esmo, se batendo pra manter o fôlego e logo mergulhando pra desviar da fuzilaria. Entre os que boiavam, não podia distinguir quem era morto quem era vivo, pois muitos já defuntos ainda eram mantidos à tona pelos coletes salva-vidas.

 

Depois quando o “Baependy” conseguiu finalmente flechar de proa o costado do “Andirá”, foi aquele despautério de estalo: p r á a... tá... tá... tá... tá... ta!

 

A trombada foi levando todo com beira, quebrando a porra do gaiola como quando a gente pisa numa barata e escuta ele espocar ([13]) debaixo do sapato. Sorte que eu já estava a uma boa distância; senão, tinha sido engolido como tantos outros que ficaram a bordo e foram pro fundo junto com o navio.

 

Do “Andirá”, fomos poucos os que sobramos. A maioria dos que se salvaram eram gente da tripulação que se puseram ao fresco assim que a coisa começou a ficar preta. Nós, os praças, fomos pouco mais de uma dezena entre os que mais tarde foram recolhidos pelos escaleres legalistas. A maior parte viva da nossa Expedição foi do pessoal que vinha no “Jaguaribe”, que esses, porque o navio deles afundou perto da margem oposta, conseguiram alcançar a terra, onde depois foram caçados pelas patrulhas inimigas, a não ser os que se embrenharam logo na mata e conseguiram escapar.

 

O instante mesmo do abalroamento é outra coisa daquelas horas de aperto que eu lembro até hoje como estivessem passando uma fita de cinema pelo meu pensamento.

 

A proa do “Baependy” como que suspensa no ar, a toda velocidade, espirrando pelos lados aqueles bigodes d’água, levantados como guampas de um arpão na direção do “Andirá”. De parte a parte, sem descanso de um minuto, a trafegagem das balas indo e vindo pelo ar e a gente vendo perfeitamente o arrebentar esverdeado das chamas nos canos das metralhadoras e, de mistura, o pisca-pisca vermelho do olho dos fuzis, enquanto as balas, ora ricocheteavam no costado dos navios e vinham na direção de quem estava de bubuia ([14]), ora bordavam de pontos negros a brancura da coberta.

 

Depois, a pancada surda, o estalar agoniado do madeirame se partindo e das ferragens se retorcendo, e os botes com sobreviventes que se afastavam do casco para não serem tragados pelo sorvedouro ([15]) em que afunilava o navio. Os que boiavam, uns agarrados em destroços, outros sustentados em boias, bracejavam na voragem ([16]) sem rumo certo privados de tino pela canseira ou pelo excesso de cachaça ingerida.

 

De bordo de dois escaleres, uns homens alucinados respondiam ainda ao fogo de bordo do “Baependy”, onde a turma acho que atiçada pelo ódio que criaram na gente durante o combate – continuava atirando sobre os vencidos. Mas foram logo silenciados, os dos escaleres, porque contínuas rajadas da metralha inimiga – que não deixou ninguém vivo, nem gente nem barco – meteram tudo no fundo. Um bocado de gente morreu ali; uns levados pras profundezas dentro do próprio navio, outros atingidos pelas balas ou arrebentados, mesmo de fora pela explosão da caldeira.

 

Depois, o navio desapareceu e o Rio ficou coalhado de pedaços; coisas mil que apareciam de bubuia ([17]) misturadas com os corpos, uns de vivos que sobrenadavam sem rumo, outros de mortos ou de feridos manquitolando à deriva, sustentados pelos coletes salva-vidas. Havia também os que se amontoavam nos botes, quase só tripulantes, que tinham se afastado a tempo do local do afundamento.

 

Eu, felizmente, consegui agarrar umas achas de lenha que passaram perto de mim e fiquei me aguentando nelas, com os pés em movimento e a cabeça malmente de fora, pra não perder o fôlego. Não fosse alguém do “Baependy” me enxergar dando sopa e resolvesse experimentar a pontaria na minha cabeça, como fizeram com muita gente! Graças a Deus eu tive sorte, não tinha chegado a minha vez; senão, era mais um entre os cadáveres que boiavam por perto, amarrados em seus salva-mortes.

 

Flutuavam meio de pé, a cabeça vergada para a frente, e a cara chapinhando n’água, feito, mal comparando, aqueles calungas trapezistas com que a gente brincava no nosso tempo, fabricados de lascas de fasquio ([18]). Finalmente, tudo silenciou. Acho que quando alguém do comando deles se apercebeu de que agora aquilo não era mais uma batalha, tinha virado brincadeira de magarefes ([19]), concurso de assassinatos por atacado.

 

O fogo cessou. Aí eles começaram a arriar os escaleres e foram recolhendo gente – Os que ainda estavam vivos, é claro; os poucos do falecido “Andirá” que sobraram daquela carnificina sem propósito.

 

Solicito Publicação

 

Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·    Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·    Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·    Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·    Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·    Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

·    Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·    Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·    Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·    Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

·    Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·    Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

·    Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

·    Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

·    E-mail: [email protected].



[1]   Conteira: parte posterior do reparo do canhão.

[2]   Metralhadora Leve Hotchkiss M1922: arma de origem francesa do início do século XX. Foi adotada pelo Exército Francês em 1909, no calibre 8 mm; e posteriormente pelo Exército Brasileiro em 1922, no calibre 7 mm.

[3]   Matalotagem: mantimentos para a tripulação.

[4]   Mesa de Renda: as Mesas de Rendas foram criadas no período da Regência, na primeira metade do século XIX, e destinavam-se a operar despachos aduaneiros e fiscalização em portos de escasso movimento, cuja renda não compensasse a instalação de uma aduana completa. (Memória da Receita Federal)

[5]   Jurumu: abóbora, girimum, jerimum, jurumum.

[6]   Embuá: piolho-de-cobra – lulus sabulosus cllindroiulus.

[7]   Tamuatá: espécie de cascudo, conhecido também como bodó.

[8]   Escabujando: debatendo-se em desespero.

[9]   Chanfalho: sabre.

[10]  Piraíba (Brachyplatystoma filamentosum): é a maior espécie de peixe de couro da América do Sul e uma das maiores do mundo. A enorme cabeça representa 1/4 do tamanho do seu comprimento que chega a atingir mais de 2,8 m e 200 quilos. Indivíduos com até 60 quilos são conhecidos como filhote.

     Tubarão-Touro (Carcharhinus leucas): a descrição, acima, nos permite lembrar que já foram capturados diversos tubarões, com mais de 2 m, em toda a Bacia do Rio Amazonas. Um deles foi capturado em Ucallpa, Peru, a 5.000 mil km da Foz do Amazonas. Estes tubarões, que podem viver tanto em água salgada como em água doce, são uma das espécies mais perigosas do mundo. As fêmeas são maiores que os machos e podem atingir até 3,5 m.

[11]  No toutiço: na nuca, no cachaço.

[12]  Barrasco: porco que não foi castrado.

[13]  Espocar: pipocar.

[14]  Bubuia: boiando.

[15]  Sorvedouro: redemoinho.

[16]  Voragem: redemoinho.

[17]  Bubuia: flutuando.

[18]  Fasquio: ripa.

[19]  Magarefes: abatedores de gado.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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