Quinta-feira, 18 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte CCCXXIII - Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 3ª Parte – XXXI No Caminho dos Semivivos - I


A Terceira Margem – Parte CCCXXIII - Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 3ª Parte – XXXI  No Caminho dos Semivivos - I - Gente de Opinião

Bagé, 14.10.2021

 

No artigo publicado no dia 07.10.2021, o “Jornal do Brasil”, n° 22, de 05 e 06.05.1968 informava que em junho de 1965, aquele periódico repercutiu numa série de 6 reportagens sob o título “No Caminho dos Semivivos”, mostrando, sem conotações ideológicas, o extermínio da população indígena pelos fazendeiros, latifundiários e comerciantes. A excelente qualidade do trabalho recomenda que o republiquemos:

 

Jornal do Brasil, n° 132 – Rio, RJ

Quarta-feira, 09.06.1965

Rondon, 75 Anos Depois

No Caminho Dos Semivivos (I)

[Reportagem - Juvenal Portella /

Fotos - Rubens Barbosa]

 

Nascido para proteger os índios, pois o espírito do Decreto n° 9.214, de 15 de dezembro de 1911, que o Presidente Washington Luís, 17 anos mais tarde ratificou em outra lei, era exclusivamente esse, o SPI não conseguiu cumprir esse objetivo, principalmente pela omissão de muitos de seus funcionários. Em Cuiabá, ele mantém uma Inspetoria com 11 postos funcionando deficientemente; 58 funcionários, a maioria incapaz profissionalmente; apenas um velho caminhão para atender a todo o serviço e a verba é insignificante.

 

Seu atual chefe, no cargo há somente 4 meses, teme que a sua boa intenção em diminuir a intensidade do drama seja tragada pelas várias dificuldades que está encontrando. Os números mostram, embora de maneira deficiente devido ausência de estatísticas, que mais de 10 mil índios vivem nas regiões Centro e Norte de Mato Grosso, ainda não pacificados. Muitos chegam a ser até violentos e atiram flechas nos aviões que sobrevoam as áreas onde habitam. Essa hostilidade tem duas explicações:

 

1)  Não tiveram ainda qualquer contato com aqueles que o SPI chama de civilizados, e

 

2)  Reagem contra os ataques dos homens que desbravam as matas com várias intenções, principalmente os seringalistas. De resto, apenas 1.300 ‒ ou um pouco mais ‒ vivem em meio ao homem civilizado, em postos oficiais, Aldeias próprias, trabalhando para fazendeiros, na caça, na pesca ou mesmo pelas ruas, sem nada fazer.

 

A vida do índio está de tal maneira deformada que já não é possível estudá-la isoladamente. Identifica-se, nos dias de hoje, com a dos, homens do sertão, dada a atividade que executa, quer em proveito próprio, quer para proveito de outros, que é o caso mais comum. Por princípio, os índios pacificados deveriam habitar uma Aldeia de casas construídas com o barro, a madeira e o sapé ‒ taipas ‒ dirigida por um homem do SPI. Na realidade, isso não acontece, na maioria dos casos há índios espalhados por fazendas, há os que trocaram uma roça pela caça ou pesca para não morrer de fonte e ainda existem os que nada fazem, a não ser provar da pinga que lhe dão. Os poucos que conseguiram progressos passam o tempo entregues a toda sorte de tarefas em busca do sustento, todas elas, porém, passageiras e sem dar perspectivas de algo bom para o futuro. Futuro é uma palavra que os índios desconhecem e temem.

 

Para os mais velhos, como o Capitão Seremecê, de um grupo dos xavantes, o passado e o presente deram a fórmula para acabar com o futuro.

 

Mesmo de memória fraca, o robusto Seremecê ainda consegue lembrar-se da mão protetora de outros tempos e se lhe pedem o nome de um “branco bom”, ele não hesita: “Marechal Rondon”. Chega a ser impressionante a maneira como o velho militar é venerado pelos índios, sejam eles Xavante, Bororo, Pareci ou Nhambiquara. O grande exemplo disso está numa prece que um grupo de índios Bororo fez e um deles leu diante de um retrato de Rondon, em 1912:

 

Grande Chefe! Tu és bom, muito bom mesmo, muito bom! Tu sim, és nosso verdadeiro amigo. Tu, sim, dás aos Bororo o que eles precisam e desejam. Como o Sol, tu não cansas nunca na tua amizade pelos Bororo. Vem! Volta depressa! Nós estamos com muitas saudades de ti, homens, rapazes, mulheres, moças, meninos, meninas. Os Bororo todos estão com imensas saudades de ti. Vem! Volta depressa! Assim seja.

 

O ESQUEMA

 

Nos primeiros tempos da pacificação, Rondon preocupou-se muito com uma providência, que acabou sendo adotada, oficialmente e vigora ainda, a de criar um Posto com funcionários encarregados de prestar toda a assistência aos índios que fossem sendo cativados. Assim caberiam aos homens dos postos criar as condições necessárias para que os indígenas não desacreditassem no civilizado e, principalmente, tivessem meios para desenvolver suas atividades de modo a auferir lucros com isso. Durante muito tempo essa medida deu resultados positivos, mas, há cerca de 10 anos, as coisas tomaram outro caminho, chegando a uma situação insustentável atualmente.

 

Vivendo em Postos, os índios teriam, se tudo funcionasse perfeitamente, não só os recursos, mas as possibilidades que não tinham na vida selvagem.

Para se ter uma ideia da utilidade do esquema montado, basta que se explique o seguinte: o SPI, por força de seus regulamentos apenas controlaria o trabalho dos índios, mas todos os seus lucros aplicaria em benefício da melhoria da lavoura, da pecuária ou reverteria na criação de outras fontes de renda, como serraria, que é a mais prática devido à quantidade de madeira em disponibilidade na mata.

 

O Inspetor Regional de Cuiabá, Mato Grosso, Sr. Hélio Jorge Bucker, que deu estas informações, afirmou, no entanto, que, no plano da realidade, tudo isso é apenas teoria, uma vez que nada funciona na prática. E as causas do não funcionamento são muitas, indo até mesmo ao terreno da corrupção. Em vez de viverem aldeados, com uma assistência mínima, que envolve as de aspecto material e inclusive, moral; os índios estão ao abandono.

 

SITUAÇÃO

 

Uma das mais importantes zonas do Serviço de Proteção aos índios é a que envolve o Estado de Mato Grosso, onde funcionam duas Inspetorias Regionais (IR) ‒ a quinta, em Campo Grande, e a sexta, em Cuiabá ‒ devido à área enorme. A sexta conta parte da história do Marechal Cândido Mariano Rondon, pois foi em suas terras que ele ligou grande parte dos fios telegráficos, a sua mais importante missão.

 

Para os que não sabem, o engenheiro militar Rondon foi designado por ato do então Ministro da Guerra; General J. N. de Medeiros Mallet, a 11 de julho de 1900, para construção da linha telegráfica do São Lourenço a Miranda, em Mato Grosso.

 

Esta, aliás, foi uma das missões de Rondon, pois muitas outras iguais lhe foram atribuídas. O aviso do Ministro ao Capitão do Corpo de Engenharia dizia:

 

 

A linha telegráfica partirá da margem esquerda do Rio São Lourenço, junto à estação desse nome e irá em demanda da Vila de Miranda, ou até à margem direita do Rio Apa, se assim resolver o Governo, passando por Santo Antônio do Itiquira, Coxim, Corumbá e Coimbra. Será escolhido entre Coxim e Corumbá um ponto que melhor convier, podendo ser aquele, para dele tirar um ramal que vá ter diretamente ao local que for escolhido para a concentração das forças do 7° Distrito Militar no vale do, Rio Aquidauana.

 

Foi durante este trabalho que Rondon exerceu uma série de atividades estudos de Botânica, Zoologia, Geologia, Geografia etc. ‒ entre as quais aquela que o notabilizou: a pacificação das tribos indígenas que encontrava pelo caminho. Graças ao seu trabalho, conseguiu o apoio dos Bororo numa das etapas de alongamento da linha telegráfica. Por este e outros motivos, a Sexta Inspetoria Regional do SPI é das mais importantes. Em sua área Rondon construiu vários postos para proteção aos indígenas, a maioria ainda em funcionamento.

 

O QUE É

 

A Sexta IR está praticamente falida. Até o prédio que ocupa, numa das ruas centrais de Cuiabá; não lhe pertence e há uma ameaça de despejo por falta de pagamento. Seu Chefe é o Sr. Hélio Jorge Bucker, oficial reformado do Exército. Há quatro meses ocupa o Posto, tendo, antes, ocupado o cargo em outras Inspetorias e funcionando na sede do Serviço, quando estava instalada na Guanabara. Pelo que constatou durante esse tempo, o Sr. Bucker se vê num dilema: enfrentar problemas ‒ grandes ‒ já existentes e os que estão sendo criados pelos invasores de terras do patrimônio indígena ou renunciar.

 

Mas, o que é a Sexta Inspetoria? O Sr. Bucker respondeu, citando alguns dos problemas do SPI:

 

De modo geral, os recursos do SPI são parcos, haja vista que a dotação orçamentária para o ano de 1965, para atender a todo o Serviço, foi de Cr$ 1 bilhão e 500 milhões, sendo que Cr$ 1 bilhão e 100 milhões se destinam ao pagamento do pessoal, sobrando Cr$ 400 milhões para atender a todos os Postos Indígenas e Inspetorias de todo o Brasil. Calculamos, a grosso modo, uns 120 Postos em todo o território, instalados, sendo pensamento a criação de mais alguns. Essa dotação é irrisória uma vez que aqui mesmo, em Cuiabá, vemos que certos seringalistas obtém do Banco da Borracha financiamentos superiores a Cr$ 300 milhões para uma exploração que não importa em construções e em obras, apenas alimentação e pagamento do pessoal.

 

Explicou que os Cr$ 400 milhões restantes da dotação, são distribuídos entre as Inspetorias para auxílio direto aos índios, não dando oportunidade de construir, de melhorar, intensificando o trabalho nos Postos, de maneira a torná-los autônomos.

 

É pensamento da Diretoria que as inversões sejam reversíveis e não como antigamente, quando os recursos eram aplicados para a compra de imóveis e materiais, sem que houves.se uma preocupação de criar condições a fim de que os postos adquiram meios de produzir suas próprias rendas.

 

Com relação especificamente à Sexta Inspetoria, o Sr. Hélio Jorge Bucker confessou que ela não deixa de ser grave, exatamente por falta de recursos que permitam a autonomia dos postos.

 

Para dar um exemplo de como é ruim a situação na parte administrativa, basta que se diga que, para 11 Postos, temos apenas um caminhão já obsoleto para o atendimento. Existem Postos a Norte, Sul, Leste e Oeste da região, sendo que alguns chegam a distar até mil quilômetros da sede e quando chove o acesso a eles se torna impraticável, dado às condições das estradas, entre outras coisas.

 

OS POSTOS

 

O SPI, segundo seus funcionários, sofre antes de tudo o problema de ser um órgão do Ministério da Agricultura e não um Departamento, por exemplo, com autonomia para resolver vários problemas ligados aos indígenas, inclusive o de aspecto social, o da integração do índio na vida do País.

 

Esse e outros problemas não podem, ser resolvidos com os minguados recursos do Serviço, que, integrado como um órgão auxiliar, tem pouca projeção. Além do mais é preciso notar que o trabalho com o índio não é daquele que se pode planejar, uma vez que surgem situações imprevistas a todo instante, forçando medidas que só podem ser atendidas se houver uma elasticidade maior. Da forma em que se situa, os problemas continuam a ter suas soluções adiadas.

 

É necessário, por outro lado, que exista o desenvolvimento da região para que possam os índios e o próprio SPI acompanhá-lo.

 

E na realidade existe isso em alguns Postos, como nos de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Esses Postos, pode-se dizer, já são altamente autossuficientes, produzindo como qualquer particular. Produzem o trigo, a madeira etc., ajudando ainda a outras inspetorias que não possuem esses recursos.

 

Com relação aos 11 postos da Sexta Inspetoria, porém, ocorre praticamente o contrário: apenas o do Bugres tem apresentado progresso. Esse posto se situa na Barra do Bugres, no município do mesmo nome, tem uma área de 24.625 hectares.

 

É habitado pelos índios Umutina, também conhecidos como Barbado, e Pareci. Está localizado entre os rios do Bugres e Paraguai, possui terra fértil e a principal, fonte de renda é a indústria extrativa, com a exploração da ipecacoanha [poaia], além de seringais nativos. Os 150 índios moram em bangalôs de alvenaria. Os demais postos são estes:

 

1    C. Magalhães, no Município de Santo Antônio de Leveger, habitados por índios Bororo. Por avião gasta-se, de Cuiabá, 125 quilômetros e por via terrestre 180. Há pista de pouso;

 

2    Gomes Carneiro ‒ no mesmo município do anterior e povoado, ainda, por índios Bororo. Por via aérea a distância é de 150 quilômetros e 200 por terra;

 

3    Galdino Pimentel ‒ ainda em Leveger e também abrigando Bororo. A distância, por avião, é de 150 quilômetros e 210 por terra;

 

4    Piebage ‒ é o terceiro Posto em Leveger a ter índios Bororo, 165 quilômetros por ar e 225 por terra, as distâncias;

 

5    Dr. B. Farias, em Rondonópolis. Para se chegar lá é necessário percorrer 240 quilômetros de avião ou 320 por automóvel. Os Bororo são os índios que habitam a região;

 

6    Simões Lopes, situado em Chapada, abrigando Xavantes e Bacaeris. Está distante de Cuiabá 225 quilômetros por avião e 310 por terra;

 

7    Marechal Rondon ‒ dista 280 quilômetros via área de Cuiabá e 480 por via terrestre. Bacaeris e Xavantes são os seus habitantes;

 

8    José Bezerra, em Rosário Oeste ‒ povoado por índios Cajabis. Dista 275 quilômetros de avião desde Cuiabá e 500 por via terrestre;

 

9    Major Libânio ‒ situado no Município de Diamantino e habitado pelos índios da tribo dos, Pareci e Iranche. É preciso voar 325 quilômetros ou andar 830 para se chegar lá;

 

10   Pirineus de Sousa ‒ Município de Mato Grosso, habitado pelos Nhambiquaras. Dista 530 quilômetros por via aérea e 1.020 por terra, tomando-se por base Cuiabá.

 

Conta-se, ainda, o Posto Santana, que está funcionando há menos de dois meses e foi organizado pelo misto Inspetor Regional, Sr. Hélio Jorge Bucker. Esse Posto, chefiado pelo Agente João Viegas, já produziu mais de Cr$ 1 milhão e, conforme sua estrutura, tende a ser dos mais eficientes.

 

SITUAÇÃO

 

Não se tem, nos dias de hoje, um quadro geral da distribuição geográfica dos índios pacificados. Isso devido a diversos problemas, que serão estudados em outras reportagens desta série.

 

Na realidade, calcula-se em um pouco mais de 1.300 e menos de 1.500 o número dos indígenas assistidos ‒ de certa forma. Em número bastante inferior grupara-se os não aldeados, mas que, de certa forma, têm algum contato com os civilizados. Vai a mais de 10 mil, distribuídos em várias tribos, a quantidade de índios não pacificados, mas de existência conhecida.

 

O panorama em Mato Grosso dos aldeamentos de índios não pacificados é o seguinte: índios Solui, Cinta-Larga, Tabaiuna, Madonha, Cabeça-Seca, Arara, Canoeiro, Cajabi [embora existam grupos já pacificados dentro desta tribo], Orelha-de-Pau, Tchicão, Beiço-de-Pau; restos dos Nhambiquara e três tribos desconhecidas.

 

Com relação aos postos indígenas, pode-se ainda dizer que são os seguintes, pertencentes à Quinta Inspetoria Regional: Cachoeirinha, Ipeg, Panai, Lalima, Alves Barros, Nalique, São João Aquidovão, Benjamim Constant, Vitorino, Uriti, José Bonifácio e Francisco Horta. Em todo o País, segundo o Major Luís Vinhas, Diretor do SPI, estima-se em 120 mil os índios sob assistência oficial e mais ou menos esse número o dos que ainda não foram pacificados. Vários Postos chamados de atração estão sendo fundados e em Mato Grosso há planos para quatro deles, o primeiro dos quais deverá ser o atual Posto Indígena José Bezerra, que está situado em terras não pertencentes ao patrimônio indígena e sem qualquer utilidade.

 

Postos de atração, segundo o SPI, são os locais onde se procura fazer os primeiros contatos com índios desconhecidos. Esse trabalho é cansativo e demorado para ser executado por um ou grupo de homens sem condições de permanecer na mata durante muito tempo.

 

O processo de cativar o índio é demorado e às vezes dura até dois anos. Primeiro, a expedição deixa presentes num lugar próximo à área onde eles vivem e vai embora, voltando um ou dois meses mais tarde. Verifica, então, se os presentes foram ou não levados. Se foram deixam mais e repetem a operação, até que, se tudo estiver dando certo, acabam por encontrar no mesmo lugar presentes deixados pelos índios. Na terceira ou quarta vez que isso ocorrer, os membros da expedição não se afastam, ficam observando de longe. Os índios fazem o mesmo. E isso vai acontecer até que haja uma coincidência no momento de depositar os brindes.

 

Contou o Sr. Hélio Bucker que o primeiro contato direto provoca “uma emoção de não se poder conter as lágrimas”.

 

Esse trabalho, porém, é muito prejudicado, principalmente por causa das penetrações dos seringalistas, visando à indústria extrativa, que, para conseguir o objetivo, forçam um recuo do índio da área que ocupa, quando não acabam com quase toda a tribo.

 

Os índios não são hostis, querem o contato, a pacificação. No primeiro contato ficam otimistas, mas é quando surgem homens que, não sabendo disso, amedrontam-se ao vê-los e provocam o choque.

 

Com relação às missões religiosas, explicou que elas não chegam a ter unta influência malévola. Mas há algumas que chegam a prejudicar, trazendo obstáculos à administração, uma vez que influem nos encarregados, contrariando a orientação do SPI.

 

Essa história que diz ser o índio um preguiçoso não é verdadeira, porque se fosse ele não sobreviveria. Enfrenta todas as intempéries, numa luta desigual, além da luta pela sobrevivência enfrentando os perigos do mato. O contato com o civilizado é que pode prejudicá-lo, isso sim.

 

INTEGRAÇÃO

 

Há alguns indígenas que estão quase que completamente integrados na vida normal, por força da dedicação de um ou outro funcionário mais dedicado, como é o caso do Agente Flávio de Abreu, hoje assessorando o Inspetor Bucker. Esse servidor, homem tipicamente sertanejo, serve há quase 20 anos no SPI e toda sua vida, praticamente, tem-se passado no campo. No tempo em que foi encarregado do Posto Piegaba, procurou dar aos índios, usando para isso de uma energia que considerava necessária, todos os recursos que lhe eram possíveis a fim de que eles não se tornassem uns párias.

 

Graças a isso alguns elementos Bororo e Xavante conseguiram melhores conhecimentos e hoje servem quase que como funcionários do Serviço. Um deles, Otaviano, considerado um dos melhores peões do norte mato-grossense, é o maior exemplo do trabalho consciente do Sr. Flávio. Infelizmente, os frutos não são maiores porque a consciência dos que cuidam do índio impede que sigam a orientação do companheiro.

 

Mas, pelo progresso que alguns indígenas alcançaram, o que se permite acreditar que outros possam chegar às mesmas condições, perde o sentido a diferenciação que se faz entre eles e as demais pessoas: índios e civilizados. Além disso, pesa o fato de que o índio não tem mais o corpo nu, usando hoje as mesmas roupas que usamos. Claro que as condições são outras, pois raramente um homem ou mulher indígena tem mais de uma peça de roupa e quando isso acontece, não chega a três.

 

Entre as crianças o problema é o mesmo e há uma explicação. Caberia ao SPI fornecer roupas e calçados, mas como a verba não permite e sem os recursos próprios que os Postos deveriam ter e não tem, raramente isso acontece.

 

Há dias, na base do crédito, o Sr. Bucker conseguiu alguma coisa, mas aí surgiu um outro problema, criado pelo próprio indígena: em vez de botas, que são, realmente, mais apropriadas para a vida do campo, ele queria sapatos do tipo esporte. (JB, N° 132)

 

Bibliografia

 

JB, N° 132 a 138. Rondon, 75 Anos Depois No Caminho Dos Semivivos (I a VI) ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Jornal do Brasil, n° 132 a 138, 09 a 16.06.1965.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·      Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·      Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);

·      Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·      Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·      Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·      Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·      Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·      Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·      Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·      Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·      Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·      Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·      Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·      E-mail: [email protected].

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 18 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Poder Civil Não Ekxiste

Poder Civil Não Ekxiste

Bagé, 16.04.2024Repercuto mais um belo e oportuno artigo de meu caro Amigo, Irmão e Mestre Higino Veiga Macedo.Poder Civil Não Ekxiste ([1])(Higino V

Terceira Margem – Parte DCCXXVIII - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte IX

Terceira Margem – Parte DCCXXVIII - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte IX

Bagé, 15.04.2024  Direito Internacional Privado e Aplicação de Seus Princípi

Terceira Margem – Parte DCCXXVII - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte VIII

Terceira Margem – Parte DCCXXVII - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte VIII

Bagé, 12.04.2024  O Imbróglio chamado “Prince of Wales”  Diário de Pernambuco

Terceira Margem – Parte DCCXXVI - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte VII

Terceira Margem – Parte DCCXXVI - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte VII

Bagé, 10.04.2024  Naufrágio do “Prince of Wales” (5 a 08.06.1861)  Diário do

Gente de Opinião Quinta-feira, 18 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)