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Gente de Opinião

Sandra Castiel

Paixão Literária


Paixão Literária - Gente de Opinião

Na juventude, tive uma paixão devastadora por um escritor bastante conhecido no universo das letras. Jamais havia sentido pelos namoradinhos da época (jovens como eu) coisa igual. Por conta dessa louca “paixão”, passei um período difícil: não comia direito, não dormia direito, arrastava-me para a faculdade, com os pensamentos totalmente voltados para a figura dele. Durante as aulas, apenas meu corpo estava ali, pois a alma já tinha subido em busca daquele escritor genial. Aliás, cheguei a planejar uma viagem à região onde ele havia nascido, crescido e escrito boa parte de seus livros. Nos meus sonhos, percorria as ruas e os lugares que ele costumava frequentar, e o encontrava. Imaginava a cena: eu o via e me aproximava, “casualmente”, cara a cara com ele; estava certa de que ele se encantaria por mim, por meu rosto bonitinho de mulher jovem e “apaixonada”.

Havia uma particularidade que, confesso, preferia ignorar: meu Apolo era casado e tinha filhos; mas isto, à época, ingênua e cega de “paixão”, não significava nada para mim: eu o arrebataria do casamento, mesmo que ele tivesse uma dúzia de filhos; só desejava vê-lo escrever, escrever, escrever!

A viagem nunca aconteceu, claro; manteve-se no plano dos sonhos, sabia que seria em vão; jamais poderia arrebatá-lo. Até que o tempo, mestre da vida, grande rio sempre em movimento, passou...  Ensinou-me, dentre tantas outras coisas importantes, que “paixão” é como dor de cotovelo; demora a passar, mas passa, sobretudo quando o objeto da paixão está morto há muitas décadas. Foi assim. Minha paixão era uma paixão literária. E eu sabia disso.

Acho que tudo começou, quando li um dos contos dele que trazia memórias da infância, memórias terríveis que me levaram às lágrimas: O conto se chama O Cinturão. Apaixonei-me pelo seu talento, pela sua sensibilidade, pela criança vulnerável e triste que foi, pela dura vida que teve no sertão nordestino, vida que tão bem retrata em sua grandiosa obra.

Continuo amando Graciliano Ramos, um dos maiores ícones da literatura brasileira.    

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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