Segunda-feira, 18 de agosto de 2025 - 08h05
Na juventude, tive uma paixão
devastadora por um escritor bastante conhecido no universo das letras. Jamais
havia sentido pelos namoradinhos da época (jovens como eu) coisa igual. Por
conta dessa louca “paixão”, passei um período difícil: não comia direito, não
dormia direito, arrastava-me para a faculdade, com os pensamentos totalmente
voltados para a figura dele. Durante as aulas, apenas meu corpo estava ali,
pois a alma já tinha subido em busca daquele escritor genial. Aliás, cheguei a
planejar uma viagem à região onde ele havia nascido, crescido e escrito boa
parte de seus livros. Nos meus sonhos, percorria as ruas e os lugares que ele
costumava frequentar, e o encontrava. Imaginava a cena: eu o via e me
aproximava, “casualmente”, cara a cara com ele; estava certa de que ele se
encantaria por mim, por meu rosto bonitinho de mulher jovem e “apaixonada”.
Havia uma particularidade que,
confesso, preferia ignorar: meu Apolo era casado e tinha filhos; mas isto, à época,
ingênua e cega de “paixão”, não significava nada para mim: eu o arrebataria do
casamento, mesmo que ele tivesse uma dúzia de filhos; só desejava vê-lo
escrever, escrever, escrever!
A viagem nunca aconteceu,
claro; manteve-se no plano dos sonhos, sabia que seria em vão; jamais poderia
arrebatá-lo. Até que o tempo, mestre da vida, grande rio sempre em movimento, passou... Ensinou-me, dentre tantas outras coisas
importantes, que “paixão” é como dor de cotovelo; demora a passar, mas passa,
sobretudo quando o objeto da paixão está morto há muitas décadas. Foi assim. Minha
paixão era uma paixão literária. E eu sabia disso.
Acho que tudo começou, quando
li um dos contos dele que trazia memórias da infância, memórias terríveis que
me levaram às lágrimas: O conto se chama O Cinturão. Apaixonei-me pelo
seu talento, pela sua sensibilidade, pela criança vulnerável e triste que foi,
pela dura vida que teve no sertão nordestino, vida que tão bem retrata em sua
grandiosa obra.
Continuo amando Graciliano
Ramos, um dos maiores ícones da literatura brasileira.
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Empresária e rica, sua casa era uma alegria só: vivia entre filhos jovens, entre amigos e amores (estes, um de cada vez, enquanto durasse a paixão).
Há alguns anos assisti, no Rio de Janeiro, a um filme sobre a vida pessoal de Charles Darwin, o cientista inglês cuja teoria contida no livro A Ori