Quinta-feira, 8 de maio de 2025 - 15h19
Há alguns
anos assisti, no Rio de Janeiro, a um filme sobre a vida pessoal de Charles
Darwin, o cientista inglês cuja teoria contida no livro A Origem das Espécies impactou
boa parte da comunidade científica mundial.
O filme é
muito bom, chama- se Criação. Mostra um Darwin ainda jovem, na Inglaterra dos
idos de 1830 mais ou menos, casado e pai de muitos filhos.
Darwin
era cristão. Mas à medida que avançava nas descobertas científicas, suas
convicções religiosas diminuíam. Perdeu completamente a fé, quando morreu sua primogênita,
Anne Elizabeth, de dez anos, uma menina linda e inteligente, com quem compartilhava
profunda e transcendental conexão.
MORTE E CULPA
Atormentado
e cético, Darwin tenta trazer para sua realidade a esposa que, desesperada,
busca na religião algum consolo para suportar a dor da perda. - O céu não
existe! – Diz à esposa um Darwin cruel, tentando fazer com que a mulher, de
joelhos diante do altar, enxergue o mundo através de seu olhar de cientista.
Pobre
mãe... Como suportar tanta dor, a não ser imaginando a filha no céu,
sorridente, a brincar com anjinhos, saltitando por entre os jardins celestiais?
Darwin era casado com uma prima, Emma, e atribuiu ao parentesco a enfermidade e a consequente morte da filha. Culpou-se por ter tirado a criança da casa de campo, onde a família vivia, e levado-a para a cidade, a fim de ser tratada pelo médico em quem confiava. O tratamento não conseguiu debelar a doença, a criança passou por grande sofrimento, definhando longe da mãe e dos irmãos, alojada com o pai em um quarto de hospedaria, onde se deu a morte.
OS PASSOS DO ESPÍRITO
De volta ao lar, Darwin vê o espírito da filha com frequência; busca auxílio médico, porém discorda da argumentação de que seu inconformismo estaria fabricando alucinações. Resolve voltar à hospedaria onde ficara com a filha e onde se dera a morte. Ali, tenta seguir os passos de seu espírito; dorme na mesma cama em que a filha dormira, agonizara e morrera. Enfim, naquele cenário que o atormenta, deixa que o pranto até então contido lhe lave a alma. Quanta dor! ...
REFLEXÃO
O aspecto
mais marcante dessa história é ver na tela, em relevo, a fragilidade de nossa
existência e de nossas convicções; a inconstância de nossa alegria; a
insustentabilidade de nossa leveza.
Os
extremos presentes na vida de Darwin, fé e descrença, felicidade e tristeza, reportaram-me
à problemática filosófica das dualidades ontológicas do ser: leveza e peso. A
condição humana é marcada por essa dualidade
Não
obstante os postulados filosóficos, acredito que a leveza do ser está naquilo que
é imutável (exclua-se deste raciocínio a morte) e que lhe alimenta a alma, tais
como, o riso de uma criança, o amanhecer de um novo dia, o pôr do sol, as
estrelas do céu, o voo de um pássaro, o amor pelos filhos, a própria
subjetividade e tantas outras coisas verdadeiramente importantes, que levam
este ser a amar a vida.
Em contrapartida, não há como sustentar esta
leveza, diante de uma tragédia pessoal, como à de Darwin.
Manter a leveza pressupõe desconectar-se do
mundo e dos outros, como uma forma de negar a dor e o sofrimento inerentes à
existência?
Existir e ser é difícil.
Sandra Castiel - sandracastiell@gmail.com
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