Segunda-feira, 31 de março de 2025 - 11h25

“É no
Exército que é mais fácil e mais tentador estabelecer este princípio: cale-se e
não raciocine.” Leon Trotsky,
intelectual bolchevique organizador do Exército Vermelho
Em qualquer organização, e principalmente
no Exército, nenhuma prática é mais funesta do que sonegar opinião, com
a justificativa da hierarquia ou da disciplina. A arte da guerra - e mesmo a democracia
- recomendam exatamente o contrário, ou seja: não impedir, mas sim incentivar o
jovem comandante a expressar sua opinião, e até sua própria vontade, submetida
essa liberdade à disciplina e ao respeito às normas, simplesmente. Ademais, a lealdade, princípio que fundamenta
a liderança e a coesão dos homens em torno de qualquer grande empreendimento
humano, depende muito da confiança mútua entre chefe e subordinados, somente obtida
pelo conhecimento e respeito às opiniões livremente expressas.
Comandantes habituados a
contentar seus superiores, e subordinados que sempre concordam com seus chefes não
passam de incompetentes, além de naturalmente desleais. Essa incompetência não
impede o aparelho administrativo militar (a burocracia militar) de funcionar, com
êxitos medíocres e prejuízos subestimados, ao menos. Acontece que um Exército precisa de uma
organização combativa de massa, capaz de violência organizada, e não pode ser
constituído de funcionários bajuladores e servis, mas sim de homens fortemente
temperados do ponto de vista moral, capazes de empenhar a vida por seus valores
e crenças.
O Soldado é diferente de qualquer
outro “trabalhador” porque – a despeito de sua graduação – ele deve compenetrar-se
da sua responsabilidade sobre cada assunto da missão, elaborando
conscientemente uma opinião pessoal e sendo capaz de defendê-la corajosamente
por todos os meios. Isso inclusive pode ser questão de sobrevivência, caso um
combatente se veja sozinho no campo de batalha, por exemplo. Contudo, a opinião
do subordinado não deve jamais ir de encontro à disciplina racionalmente
compreendida (isto é, não burocraticamente), e nem de comprometer a unidade da
ação.
A evolução da geopolítica
ocidental depois da Guerra Fria buscou isolar a guerra da política, submetendo
o militar a uma situação de dependência decisória que aos poucos lhe estreitou
os horizontes, e promoveu o seu afastamento da compreensão mais ampla da ação
política. Na verdade, os militares foram levados a concentrar sua atenção
apenas nos objetivos imediatos da ação, o que fez com que eles perdessem de
vista a própria natureza das relações políticas, que na sua essência são o
fundamento da ação bélica. Assim, o estamento militar ocidental foi levado a
certas práticas “democráticas” fundamentadas em atributos especificamente
castrenses – com ênfase na disciplina – obrigando a “subordinação das Forças
Armadas ao poder civil”, e demonizando qualquer posicionamento político das
instituições militares. Não sem razão, o Exército Francês na década de 50 do
século passado orgulhava-se de ser “o grande mudo” e, até o presente, o
Exército Brasileiro considera transgressão disciplinar qualquer manifestação
pública de conotação política, de seus militares.
Mas, se na opinião do
estadista francês Georges Clemenceau, “a guerra é um assunto importante
demais para que se possa confiá-lo inteiramente às mãos dos generais” não
podemos esquecer que ela continua sendo uma das maneiras eficazes de exprimir
as intenções dos governos. Os conflitos na Ucrânia e em Gaza, bem como os
ataques do Irã a Israel, ou as fanfarronices de Maduro contra a Guiana são as
provas da atualidade desse entendimento. É necessário que o político e o
General ouçam um ao outro e que eles consigam se entender, mesmo que não
queiram.
Nos últimos 35 anos, o viés
ideológico da diplomacia, os revanchismos paroquiais obsoletos e a ignorância
geopolítica dos governos do Brasil têm feito os políticos – e a própria
sociedade – deixarem de ver a organização militar como um conjunto de relações
de ajustamento de conflito, portanto políticas. Tal entendimento incapacitou o
País de atuar estrategicamente no cenário mundial e desqualificou o poder
militar para suas missões constitucionais. Pior ainda, fortaleceu os aspectos
negativos da disciplina, o que tem justificado
a observância obtusa das leis e a obediência passiva das Forças Armadas ao
governo, atitude consubstanciadas no que se conhece como “ethos
burocrático”.
A predominância abusiva desse
“poder civil” incompetente sobre o estamento militar, agravada pela atual bem orquestrada campanha
de descrédito das Forças Armadas movida pelo próprio governo, atolou a Defesa
Nacional nesse ethos burocrático, situação diariamente constatada por seus
aspectos exteriores: simplesmente o
chefe ordena e os subordinados obedecem; aquele que dá as ordens não se
preocupa se elas preenchem uma função aglutinadora na relação das forças em
presença; não há preocupação das ordens serem obedecidas porque se acredita
nelas, e nos seus objetivos, ou porque se teme sanção disciplinar; e opiniões
contrárias são consideradas transgressão, sequer são ouvidas.
Completamente surdo às ameaças
do ambiente estratégico mundial, nosso “poder civil” entende que é necessário
cortar os “privilégios” da classe militar, não vê qualquer ameaça em abrir a
Amazônia para o estrangeiro, e pensa que o Exército deveria ser empregado como
bombeiro nas queimadas. Ministros em
juízo afirmam que “os nossos militares gostam mais de suas armas do que de
suas esposas”, enquanto autoridades advogam a criação de uma Guarda
Nacional de cunho estritamente político, a fim de retirar do Exército parte de
suas missões constitucionais.
Dizia o General De Gaulle,
ex-presidente francês e herói da II Guerra Mundial, que “[...] o Exército está a serviço do Estado – com a
condição de que haja um Estado”. O
General Goes Monteiro, que foi Ministro da guerra no Governo de Getúlio Vargas,
afirmava que “[...] as Forças Armadas são instrumento da política externa do
Estado”.
Hoje, diante de um governo
incompetente e de soldados incapazes de ao menos expressar uma opinião
contrária ao que se alardeia diária e injustamente sobre suas instituições, nos
parece que o Exército Brasileiro não está a serviço do Estado, e que as Forças
Armadas não são instrumento da nossa política externa.
Gen Marco Aurélio Vieira
Foi Comandante da Brigada de Operações
Especiais e da Brigada de Infantaria Paraquedista
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