Terça-feira, 14 de novembro de 2023 - 11h29

Ao anunciar que o governo não conseguirá honrar o
compromisso de reduzir a zero o déficit primário ao final de 2024 (2º ano de
mandato), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, desmoralizou o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que prometeu atingir essa meta. Ainda
ignorou o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, enviada ao
Congresso pelo próprio governo, peça da qual constava o déficit zero, agora
relativizado pelo presidente. Lula culpou o mercado, a quem tachou
de “ganancioso demais”, e, além de desautorizar o ministro da Fazenda, que vem
buscando incansavelmente adesões importantes para a meta do déficit zero,
desrespeitou o Congresso Nacional, empenhado em dar suporte ao ministro, e
arriscou perder a credibilidade junto a investidores, credores e sociedade
civil. O resultado do posicionamento do presidente não contribui para a melhoria
da credibilidade do país e poderá até mesmo causar redução na taxa de
crescimento do PIB e dificultar o ritmo da redução da taxa de
juros. Trata-se de um péssimo sinal à nação por parte de quem
assumiu com enorme benevolência do Congresso Nacional. Basta lembrar que, mesmo
antes de empossado, o novo governo foi autorizado a gastar mais R$ 145 bilhões,
por meio da Emenda Constitucional nº 126, artigo 3º, que flexibilizou o teto de
gastos, pelo qual as despesas não podiam crescer acima da inflação. A torneira
foi aberta e, menos de um ano depois, o governo admite que não vai fechá-la.
O arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso já
sinalizava que os gastos públicos sempre crescerão mais do que a inflação. Em
momentos de recessão ou de baixo crescimento crescerão menos, é verdade, mas
ainda assim, acima da inflação. Os números mostram que os gastos do governo
federal em 2023 têm como limite o equivalente ao total de gastos do exercício
de 2022, corrigido pela inflação de 7,20% (IPCA) e acrescido dos R$ 145 bilhões
autorizados pelo Congresso. É preciso lembrar também que o Orçamento
2023 acabou turbinado com dinheiro extra para o pagamento do Bolsa Família – R$
600,00 por mês por família cadastrada, durante todo o ano –, para investimentos
sociais como Farmácia Popular e merenda escolar – e para investimentos em
infraestrutura. Ao final de 2023, a União terá gasto R$ 5,490 bilhões, o
correspondente mais da metade (51,41%) do PIB (Produto Interno Bruto). Serão R$
2,01 bilhões em pagamentos de juros e encargos das dívidas (somando 18,79% do
PIB), R$ 3,0 bilhões em despesas compulsórias (28,03% do PIB) e R$ 191,0
bilhões em despesas discricionárias (1,79% do PIB). Restarão para investimentos
o montante (pífio) de R$ 144 bilhões (1,35% do PIB). Além disso, há mais R$ 145,0
bilhões (1,36% do PIB) em investimentos extras concedidos pela Emenda
Constitucional nº 126. Vale enfatizar que dos 51,31% do PIB comprometidos com
esses gastos, apenas 2,71% terão sido aplicados em investimentos. Mais grave
ainda é que metade disso é de caráter excepcional, garantido pela Emenda
Constitucional. Como se observa, há razões de sobra para o Brasil
olhar com maior atenção os gastos da União. Somente a título de juros, em razão
da dívida pública nacional atingir R$ 7,96 trilhões, o correspondente a 74,4%
do PIB, o país paga anualmente R$ 955 bilhões, ou seja, 8,92% do PIB. É
estarrecedor que o país comprometa 26,30% do total anual de suas receitas
públicas apenas para financiar a dívida pública (rolagem da dívida).
Passou da hora de o Brasil tratar a situação fiscal com mais seriedade. Em nome da transparência, deveria ser obrigatória a divulgação não apenas do déficit primário, mas também do déficit nominal, este sim o verdadeiro. Isso evitaria que as autoridades tratem com menosprezo a existência do déficit fiscal que hoje, no Brasil, é da ordem de 9,52% do PIB, considerando-se os juros das dívidas (8,92% do PIB) mais o déficit primário (0,6% do PIB). Um número totalizado que precisa ser revelado à nação. Esse imenso déficit jamais será reduzido se não for encarado pelo governo o problema do gigantismo da máquina pública. Sozinha, ela consumirá estimados R$ 3,0 trilhões no próximo ano. Isso corresponderá a cerca de 26% do PIB 2024, estimado em R$ 11,50 trilhões, considerando-se R$ 10,7 trilhões (PIB de 2023) e admitindo-se inflação de 4,5% no ano e mais crescimento de 3% do PIB. Não é viável para o país gastar R$ 3,00 trilhões em despesas compulsórias quando a arrecadação tributária da União será de R$ 2,42 trilhões (21% do PIB). Importante destacar que a carga tributária atual corresponde a 33,71% do PIB e a arrecadação tributária prevista para 2024 atingirá R$ 3,98 trilhões. Caso o Brasil não se convença da necessidade de redução da gastança pública e dos privilégios que cada vez impõem mais ônus, a fim de impedir a explosão da dívida pública – ainda que bem distante -, corremos o risco de chegar ao fenômeno intitulado “dominância fiscal”, onde a política fiscal expansionista (gastança pública) predomina sobre a política monetária (BACEN) e remete a uma situação em que o Banco Central se vê impedido de elevar a taxa de juros para combater a inflação porque a elevação do pagamento de juros sobre a dívida pública amplifica o desequilíbrio fiscal. Esse desequilíbrio provoca efeitos devastadores: apavora e afugenta os investidores, deprecia o Real e a inflação se acelera. Gerar, de forma irresponsável, déficit é o caminho para a perpetuação do subdesenvolvimento, o que remete a lição do professor Roberto Campos de que “só há uma razão para o subdesenvolvimento Brasileiro: a mania de distribuir fatias impossíveis de um bolo ilusório”. Esse cenário (dominância fiscal) ainda se encontra muito longe no horizonte, porém se não prevalecer o prever (no sentido de planejar, estudar), em vez do prover (UTI) – muito mais que mera troca de vogais -, quando acontecer o despertar poderá ser tarde demais. O Brasil segue sistemática e teimosamente ignorando os ensinamentos de Marco Túlio, o imperador de Roma (ano 55 a.C.): “O orçamento deve ser equilibrado, o Tesouro Público deve ser reposto, a dívida pública deve ser reduzida, a arrogância dos funcionários públicos deve ser moderada e controlada, e a ajuda a outros países deve ser eliminada, para que Roma não vá à falência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver às custas do Estado”. Mais de dois mil anos é tempo suficiente para que a lição tenha sido aprendida.
(*) É engenheiro com especialização nas áreas de
macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi
vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos livros “Brasil, um país à
deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”. Site: https://samuelhanan.com.br.
Ilustração: Gama Livre.
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