Quinta-feira, 5 de junho de 2025 - 11h57

Tempos estranhos
Vivemos em Rondônia um tempo estranho: o tempo em que o certo
se tornou arriscado e o errado, altamente compensador. Desde 2023, decisões
judiciais em série — algumas em efeito dominó após falas do presidente da Azul
Linhas Aéreas — vêm restringindo preocupantemente o acesso à justiça, sobretudo
dos mais vulneráveis.
Não por acaso, a Azul celebrou publicamente "os
esforços" do Judiciário rondoniense para "reduzir a
judicialização" — um gesto que, nas palavras de Igor Britto,
representante do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, em Audiência
Pública na Câmara Federal, 11/06/2024, entrou para a história como a primeira
chantagem empresarial explícita à Justiça: condicionar a manutenção de voos
à redução do número de ações.
Desjudicialização forçada e ficção
institucional
A justificativa? Desafogar o Judiciário de processos movidos
contra “grandes litigantes”, empresas mi ou bilionárias que praticam
ilegalidades em larga escala e, por essa razão, sobrecarregam os juízes de
trabalho. A consequência? A porta da justiça começa a se fechar justamente para
quem mais precisa passar por ela.
Com todo respeito às “boas intenções”, o que vemos é um processo
forçado de desjudicialização – evitar o acesso à justiça, estimulado por
agentes que ignoram a coletividade e atuam para empresas bilionárias — como
concessionárias de energia, bancos e companhias aéreas. Tudo isso com ares de
modernidade e racionalização da justiça. Pura ficção institucional.
A lógica do “ilícito lucrativo” venceu. Vale a pena lesar o
rondoniense. Compensa financeiramente.
As hipocrisias dos discursos em torno do “dano
moral”
A luta da advocacia consumerista nunca teve
como foco o dano moral apenas. É pelo direito de o cidadão ser
ouvido. É por dignidade. É pelo acesso à justiça. É por uma série de
retrocessos, todos de amplo conhecimento de toda a advocacia e daqueles que
deveriam encabeçar esse grito de socorro da forma adequada.
Assim, reduzir a defesa da cidadania à discussão sobre o dano
moral é o tipo de falácia que alimenta o retrocesso. Passa-se a ideia de que “a
advocacia está atrás do dano moral”, tenta-se colar na profissão uma pecha
mercantilista — a mesma que empresas como a Azul usaram para desmoralizar
publicamente advogados e advogadas de Rondônia em rede nacional.
Cidadãos invisíveis
Quando um beneficiário de um salário-mínimo do INSS precisa de
amparo do Poder Judiciário, porque o banco o abordou com marketing agressivo,
omitiu informações relevantes sobre o serviço “empurrado”, induzindo-o a
empréstimos com juros extorsivos e passando a “raspar” sua conta corrente cada
vez mais ao final de cada mês, deixando-o sem dinheiro para colocar comida na
sua geladeira, o Judiciário tem o dever constitucional de escutá-lo e dar
resposta adequada. Não se trata de técnica processual. Trata-se de ética.
Hannah Arendt, pensadora crítica do autoritarismo e da
desumanização estatal, nos ensinou que o sujeito só se torna humano quando é
visto, ouvido e pode agir. Silenciar esse sujeito é devolvê-lo à
invisibilidade.
Prática Predatória dos bancos e a
“uniformização de entendimento”
O Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO) fará a uniformização da
jurisprudência quanto à “configuração de erro substancial na contratação de
cartão de crédito consignado em substituição ao empréstimo consignado
convencional” e suas repercussões jurídicas. A advocacia está alerta.
O recém-instaurado Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – Tema 15 vinculará
todos os juízes do Estado. Ou seja, encerrará a discussão sobre o tema em
Rondônia. Será definido, entre outros pontos, se há confusão gerada ao
consumidor pelo marketing agressivo e falta de transparência e de boa-fé das
instituições bancárias quanto a própria natureza do “produto”, juros envolvidos
e demais cláusulas.
Os bancos fazem que o cidadão, geralmente idoso ou de baixa renda,
acredita contratar um empréstimo, quando na verdade se trata de um cartão de
crédito atrelado à Reserva de Margem Consignável.
Essa ação desumana, praticada de forma PREDATÓRIA, acaba
com o salário ou benefício social dos cidadãos e coloca a cada dia mais pessoas
em situação de desespero financeiro, aniquilando sua dignidade e condenando-os
ao superendividamento, à exclusão do mercado e à invisibilidade social.
A ilusão do acordo como justiça
Firmar convênios com empresas como a Energisa — historicamente
marcada por práticas ilegais em massa, resistência a acordos e persistência em
recorrer até as últimas instâncias — não parece compatível com o interesse
público. A experiência tem mostrado que, nesses acordos institucionais, como o
chamado “Projeto Iluminados” entre
TJRO e Energisa, a empresa comparece com todo seu aparato jurídico.
Já o consumidor, naturalmente hipossuficiente, entra sem advogado,
sem informação clara e sem plena noção do que está abrindo mão. O resultado? Um
selo oficial da Justiça sobre renúncias que ele – cidadão - sequer entende ter
feiorto.
Advocacia independente e resistência
Foi diante desse cenário de silencioso esvaziamento dos direitos
consumeristas que surgiu o movimento Por Justiça na Justiça —
articulado por advogados independentes, especialmente da seara consumerista,
inconformados com a postura omissa da atual liderança da própria instituição
diante do enfraquecimento progressivo do acesso à Justiça.
Um movimento que rechaça a narrativa reducionista do “dano moral”,
porque sabe — e sempre alertou — que a pauta é muito mais profunda: trata-se da
defesa da gratuidade judiciária, da inversão do ônus da prova, da preservação
de direitos historicamente reconhecidos e, sobretudo, da imagem da advocacia —
sistematicamente atacada por grandes grupos econômicos assessorados por
operadores de uma desjudicialização que somente exclui e nada resolve.
Como já apontava Friedrich Nietzsche, a moral, muitas vezes, serve
não para libertar, mas para controlar. Aquilo que é vendido como virtude — como
dever, como o “certo a se fazer” — pode ser apenas uma forma mais sofisticada
de manter o outro calado. E poucas formas de dominação são tão perversas quanto
fazer o cidadão acreditar que está errado por insistir em lutar por seus
próprios direitos.
Porque não há dominação mais sutil do que aquela que convence o
oprimido de que sua resistência é um exagero. E quando as instituições
silenciam quem mais precisa ser ouvido, elas não apenas negam o direito, elas
negam o sujeito.
Modus Operandi da
Indústria de Lesar Consumidores
Desde o início de minha atuação na advocacia em 2010 presencio o
massacre diário sofrido por consumidores humildes, principalmente idosos,
vítimas de abusos praticados pelos “grandes litigantes”, que lucram com o
ilícito e entopem o Judiciário de trabalho. O que mudou de lá para cá? O modus
operandi é o mesmo.
Só trocaram os nomes das empresas. A expressão “indústria de
lesar consumidores”, popularizada em artigos pelo advogado Gabriel Tomasete
— referência nacional em mobilizações sociais e ações civis públicas consumeristas
—, segue atual. Essa engrenagem não desapareceu — apenas se tornou mais
refinada e aliada a articulações que desafiam os limites da legalidade.
Advocacia Incômoda
Mas se é verdade que o cenário atual favorece os grandes, também é
verdade que a resistência se organiza. A advocacia que honra o artigo
133 da Constituição seguirá sendo incômoda. Seguiremos denunciando acordos
ilegítimos, revelando as estatísticas escondidas sob a promessa de eficiência.
Indignação, ação e apelo
A advocacia não pode assistir inerte ao desmonte institucional da
justiça social. Como ensinou Sobral Pinto, “a advocacia não é profissão para
covardes”. É tempo de coragem, de postura e de voz ativa.
Aos juízes rondonienses e àqueles que hoje ocupam posições de
decisão no Poder Judiciário de Rondônia, lanço um apelo: não deixem que a
justiça seja resumida à eficiência gerencial. Justiça não é gestão de fila.
Justiça é ouvir o cidadão, é reequilibrar a balança, é enxergar o humano por
trás do número de processos.
Não venham dizer que “acesso demais” gera crise. A verdadeira
crise é vivida por quem chega ao Judiciário e encontra uma porta estreita,
quase trancada por dentro — alguém que já perdeu quase tudo, menos a esperança
de ser ouvido com dignidade.
Não estamos pedindo privilégio. Estamos exigindo justiça.
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.
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