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A desumanização que quer ser normalizada: o que pensar disso?


Viviane Gago - Gente de Opinião
Viviane Gago

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Toronto mostrou que a brincadeira com os bebês reborn vai muito além de um simples resquício da infância. Os cientistas apontam que a interação dos adultos com as bonecas busca estabelecer vínculos emocionais, dar vazão à expressão criativa e vivenciar benefícios terapêuticos significativos.

Colecionar bonecos, ter brinquedos queridos e especiais e até dinâmicas para fins terapêuticos etc, tudo bem e faz parte, mas aqui destacamos aspectos que nos levam para o contexto das disfuncionalidades, que merecem reflexão. 

A conexão humana está morrendo? É um questionamento necessário no atual momento social. Quando se fala em comportamento humano, nem o céu é o limite, definitivamente. 

Bebês reborn, bebês robôs (lovots), cachorros robôs, bonecos de acompanhamento/sexuais, IAS criadas pelas próprias pessoas para se relacionar são algumas das tecnologias que estão surgindo em todos os cantos do mundo, em especial, no Oriente. 

Outro dia me deparei com uma notícia envolvendo um casal que estava disputando a guarda de um bebê reborn na justiça, após o divórcio. Eles afirmavam brigar pela boneca em virtude do “apego emocional”. 

Não obstante e indo mais a fundo na notícia do tal caso, havia interesse financeiro envolvido, porém o ponto que se quer destacar aqui é que sob o ponto de vista jurídico o bebê reborn não é membro da família e; portanto não está vinculado ao direito de família e suas consequências legais. A questão é que o Judiciário já está lotado de demandas e está recebendo outras com esta temática e que representam claramente o cenário atual, com mais uma dose de insanidade envolvendo a sociedade. 

Quanto ao bebê reborn, há ainda notícias dizendo existir parto simulado, pessoas levando esses bebês no hospital, Dia das Mães de tais bebês que parecem gente etc. Profissionais explicando que essa fuga da realidade, distorce o que é real e que essas pessoas ficam na ilusão, na fantasia, colocam vida em algo que não existe, tratando-se de pessoas devastadas emocionalmente, carentes, com problemas psicológicos graves. 

As notícias mostram ainda que há projeto de lei para proibir o atendimento de bebês reborn no SUS, com penalidade que pode chegar a 10 (dez) vezes o valor do serviço. 

Bebês robots, os lovots, fofinhos, que fazem barulhinho bonitinho etc e que seduzem muitas pessoas leva-nos ao questionamento: será solidão que a fazem pessoas despenderem de uma quantia de aproximadamente R$16 mil reais para obter um exemplar desses? 

E as várias crianças de carne e osso, que não conseguem um lar adotivo? Por que não são vistas e apoiadas pelos seus semelhantes carentes e solitários? 

Parece-nos que as pessoas querem comodidade, pouco desgaste, envolvimento e exposição, ficando cada vez mais centradas em si e em suas bolhas particulares convenientes. 

Os nossos fiéis amigos, os cães, já têm sua versão robótica também. Não sujam as casas, não soltam pelos, não comem, não fazem xixi e “caquinha”; prometendo amizade, sem custo, ao longo do tempo. 

Para quem sabe o que é ter animais de estimação, será que tais cachorros robôs substituem os nossos amados cães que nos recebem com um super entusiasmo, alegria e amor? 

E o que dizer dos bonecos acompanhantes com forma e tamanho de ser humano real?  Vários modelos, cores, formas etc. 

E a própria arte em formato de filmes, por exemplo, que estão nos mostrando relacionamentos amorosos profundos entre os seres vivos e a tecnologia. Pessoas satisfazendo seu lado emocional e até mesmo instintivo com esses objetos e/ou ficção criada pela tecnologia (Inteligência Artificial). 

Uma coisa é fato, as pessoas voltadas para essa desumanização crescente, estão centradas somente em si próprias, não precisam aprender, ceder, doar-se, ouvir e nem respeitar outras opiniões; só o que prevalece é o que ela quer, pensa e sente.
 

Pessoas solitárias, pessoas entendendo que outras não valem a pena estão substituindo o humano pelo que não é humano, ou seja, substituindo seres vivos por máquinas. 

Temos necessidades da conexão com outros seres em qualquer idade, e do diferente até para evoluir. O homem é um ser social, sempre foi e será. 

Uma coisa é fato, o AMOR na medida certa é a cura para tudo, e mesmo quem diga que isso é bobagem, no fundo sabe que tempo, atenção e amor é o que realmente importa e o que todo mundo quer. Um beijo, um abraço, um olhar, uma palavra, o tempo de alguém nunca poderá ser substituído. 

Vamos refletir: normalizar a desumanização favorece a quem? E está a serviço do que? Vamos pensar.


*por Viviane Gago, advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site

 

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