Sexta-feira, 5 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Sandra Castiel

PAI


Já ouvi em algum lugar que o dia dos pais foi uma invenção do comércio do passado para vender gravatas. Acredito. Seja lá qual for a origem desta homenagem, a gente acaba meditando sobre o pai que tem ou o pai que teve;  quem é pai acaba também meditando sobre o pai que  consegue ser. Creio que seja assim com a maioria das pessoas. Quanta coisa mudou ao longo das décadas com relação à figura do pai!

Antigamente (e ainda hoje isso existe), a mulher era quase santificada pela maternidade no seio da família. Bastava ser mãe para tornar-se uma espécie de santa, alguém muitíssimo reverenciada pelos filhos, o que era positivo; mas era como se apenas dela emanasse o verdadeiro amor pelos filhos. O mesmo não ocorria com relação à figura paterna, esta é a impressão que guardo da época.  Ao pai cabia o papel de provedor absoluto; a grande maioria dos pais, chamados “chefes de família”, mantinha certo distanciamento dos filhos, aliás, o pai era figura temida pelos filhos porque exercia sua autoridade. Sou levada a crer que esse distanciamento era ideológico-cultural, uma hierarquia cultivada através das gerações pelo senso - comum, a fim de preservar os costumes e os valores da sociedade, manter os filhos nos trilhos. Outra época...

Hoje, o distanciamento no tempo e a maturidade me fazem olhar os pais de antigamente de outro modo; eram homens que evitavam ao máximo demonstrar sua vulnerabilidade; demonstrar fragilidade emocional não lhes era permitido, embora tantas vezes o amor pelos filhos lhes saltasse do peito e não conseguissem segurar a emoção. Afinal de contas, amor é amor, amor de mãe ou amor de pai! E há que se valorizar com total reconhecimento a importância de um pai na vida de um filho: porto seguro, ombro amigo, mão grande e forte que sustenta a da cria nas horas difíceis, inspiração para a vida; e isso se mantém ao longo da existência, mesmo que seus cabelos estejam totalmente brancos, mesmo que seu andar tenha um passo lento e trôpego, mesmo que seu rosto seja marcado pelos anos. É uma pena que tantos filhos só se deem conta disso tarde demais... 

Fico a refletir sobre as grandes transformações pelas quais passou a família de um modo geral: o pai deixou de ser provedor único, e a ausência da mulher de plantão no lar levou esse pai a assumir tantas vezes as tarefas domésticas e os afazeres com os filhos. Hoje temos pais separados, pais que compartilham a guarda dos filhos, além de pais que vivem em outras formações familiares. É a modernidade!

Não importa a época em que viveram e que vivem os pais; exceções à parte, todos se igualam no mesmo sentimento que faz seus olhos marejarem, independentemente da idade que tenham: o amor pelos filhos.

Espero que você, meu amado pai, daí de onde está, no céu dos paizinhos que já se foram, receba minha homenagem e meu afeto mais profundo.

Feliz Dia dos Pais a todos os Pais!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 5 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Paixão Literária

Paixão Literária

Na juventude, tive uma paixão devastadora por um escritor bastante conhecido no universo das letras. Jamais havia sentido pelos namoradinhos da époc

CONTINHOS MARGINAIS IV - BABA DE MOÇA

CONTINHOS MARGINAIS IV - BABA DE MOÇA

Ele a conhecia de vista. Moravam no mesmo bairro, passavam pelos mesmos lugares, todas as manhãs. Ela há muito estava de olho nele: alto, olhos clar

Literatura: escritores e estilos

Literatura: escritores e estilos

I    “Espero que não a tenha perturbado, madame. A senhora não estava dormindo, estava? Mas acabei de dar o chá para minha patroa, e sobrou uma xíca

Continhos marginais II - O terremoto e as flores

Continhos marginais II - O terremoto e as flores

Empresária e rica, sua casa era uma alegria só: vivia entre filhos jovens, entre amigos e amores (estes, um de cada vez, enquanto durasse a paixão).

Gente de Opinião Sexta-feira, 5 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)