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Gente de Opinião

Sandra Castiel

Meus olhos


Meus olhos - Gente de Opinião

Quando comecei a conhecer meu rosto, percebi nele duas luzes acesas, tão brilhantes...

Apagavam-se quando eu adormecia, e, ao amanhecer, apresentavam-me a vida.

Mais do que as pessoas, encantavam-me os animais, as árvores, a delicadeza das flores, o céu, os rios, e tudo que neles havia.

Em minha numerosa família, não tínhamos festa de aniversário, mas recebíamos presentinhos e muitos abraços.

No dia em que fiz nove anos, meu pai tomou-me pela mão e levou-me para o comércio; fiquei extasiada! A mão forte de meu pai segurando com força minha mão de criança...Meu entusiasmo não cabia no peito. Não importava o sol intenso da cidade, às duas horas da tarde, não importava o apressar do passo em meio aos buracos das ruas de barro para acompanhar o andar daquele homem alto e forte; era o meu pai.

Assim, entramos numa modesta lojinha da rua Barão do Rio Branco, e as luzes dos meus olhos tornaram-se mais intensas: pequenos brincos de ouro enfeitados com pedrinhas, sobre um veludo grená, e a voz forte do meu pai: - Sandra, escolha!

Maravilhada, escolhi um par de brincos que ficavam pendurados nas orelhas. Ao olhar meu rosto no pequeno espelho sobre o balcão, descobri a vaidade. Confesso que cultivo esse alegre sentimento até hoje.  

 Não sei o que foi feito dos brincos, mas sair com meu pai foi o presente mais bonito de minha infância.

 Ponho-me a pensar na infinidade de imagens que meus olhos já viram, “montanhas “de imagens das mais diversas naturezas: belas, esplendorosas, fascinantes, tristes, dramáticas, terríveis, enfim, todas elas enviadas para o cérebro e armazenadas neste incrível departamento, que é a memória. 

Hoje, poucas imagens me surpreendem neste mundo de meu Deus; talvez por essa razão meus olhos tornaram-se cansados, apesar das lentes, e acham que não vale a pena abarrotar o cérebro com tantos recursos digitais; vai que o próprio arquivo transborde?

Que me perdoem os que não compreendem e criticam: continuo a fotografar e a contemplar a natureza, e tudo o que dela vem: amo os animais. Dói-me seu olhar inocente a confiar no homem. Fazem-me lembrar da história de João e Maria, duas crianças presas pela bruxa malvada que os fazia engordar, para leva-los ao caldeirão, além dos pobrezinhos que são abandonados nas ruas do mundo, nas estradas, para a morte certa. 

Meu sentimento de amor pelos animais (aprendi com meu pai) só aumenta e será assim até o último dia de minha vida. Tenho gato, tenho cachorro, alimento os passarinhos que vivem nas árvores. Como dizia o filósofo, a vida inteira precisamos de graça e gentileza. Certamente isto acende as luzes festivas dos meus olhos cansados... 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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