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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

O Rei dos Rios – Parte IV - Lenda da Pororoca (Raymundo Moraes)


Raymundo Moraes - Gente de Opinião
Raymundo Moraes

Bagé, 07.07.2020

 

Diz a lenda que, antigamente, a água do rio era serena e corria de mansinho. As canoas podiam navegar sem perigo. Nessa época, a Mãe d’Água, mulher do boto Tucuxi, morava com a filha mais velha na ilha de Marajó. Certa noite, elas ouviram gritos: os cães latiam, as galinhas e os galos cocorocavam. O que é? O que não é? Tinham roubado Jacy, a canoa de estimação da família...

Remexeram, procuraram e, nada encontrando, a Mãe d’Água resolveu convocar todos os seus filhos: Repiquete, Correnteza, Rebujo, Remanso, Vazante, Enchente, Preamar, Reponta, Maré Morta e Maré Viva. Ela queria que eles achassem a embarcação desaparecida.

 

Mas passaram-se vários anos sem notícia de Jacy. Ninguém jamais a viu entrando em algum igarapé, algum furo ou mesmo amarrada em algum lugar. Certamente estava escondida, mas, aonde? Então, resolveram chamar os parentes mais distantes - Lagos, Lagoas, Igarapés, Rios, Baías, Sangradouros, Enseadas, Angras, Fontes, Golfos, Canais, Estreitos, Córregos e Peraus - para discutir o caso. Na reunião, resolveram criar a Pororoca, umas três ou quatro ondas fortes que entrassem em todos os buracos dos arrebaldes, quebrassem, derrubassem, escangalhassem, destruíssem tudo e apanhassem Jacy e o ladrão.

 

Ficou determinado que a caçula da Mãe D´Água, Maré da Lua, moça danada, namoradeira, dançadeira e briguenta avisaria sobre qualquer coisa que acontecesse de anormal. E foi assim que pela primeira vez surgiu em alguns lugares o fenômeno, empurrado pela jovem moça, naufragando barcos, repartindo ilhas, ameaçando palhoças, derrubando árvores, abrindo furos, amedrontando pescadores...

 

Até hoje, sempre que Maré da Lua vai ver a família é um deus nos acuda! Ninguém sabe de Jacy e a Pororoca segue em frente destruindo quem ousa ficar na frente, cumprindo ordens do boto Tucuxi que, resmungando danado, diz:

 

Pois então continue arrasando tudo. (MORAES)

 

Terras Caídas

 

Denominação dada na Região Amazônica ao escavamento produzido pelas águas dos Rios, fazendo com que os barrancos sejam solapados intensamente, assumindo por vezes aspecto assustador. Em alguns casos, podem-se ver pedaços grandes de terra sofrerem deslocamentos como se fossem Ilhas flutuantes. (GUERRA)

 

O desmoronamento ocorrido em Manacapuru foi um caso clássico de terra caída do tipo deslizamento de material inconsolidado que, no caso, é a lama. Já em São Paulo de Olivença é um caso de terra caída associada à erosão fluvial. Ocorrem escorregamentos associados à atividade humana, com a ocupação desordenada e obras sem o devido acompanhamento técnico. (Geólogo Renê Luzardo da CPRM)

 

Antonio Teixeira Guerra comenta:

 

As margens solapadas continuamente pelas águas acabam ruindo e o Rio arrasta e traga grandes blocos de terra, da terra firme, muitas vezes com casas, vegetação, animais ou moradores. O fenômeno é observado, com maior frequência, no Rio Madeira, em decorrência da velocidade de sua correnteza, embora ocorra também nas calhas dos Rios Solimões e Amazonas. Muito mais vulneráveis, ainda, são os depósitos de areia, lama e resíduos vegetais, carreados e acumulados pelo próprio Rio nos períodos de cheias que formam grandes bancos de areia e, com o passar dos anos, verdadeiras Ilhas. Estes locais formados por sedimentos extremamente instáveis são mais vulneráveis às ações das águas e ao fenômeno das “Terras Caídas”. (GUERRA)

 

Na vazante o Rio escava e solapa pacientemente a nova Ilha e, em uma de suas cheias formidáveis, ele é capaz de dissolver o trabalho de anos a fio em poucas horas arrasando tudo e arrastando consigo os imprevidentes que teimam em desconhecer sua fluída dinâmica.

 

Nenhum fenômeno das “terras caídas” foi tão desastroso como o que ocorreu em Juruti na década de 1980. A Cidade, na sua origem, construída em terra firme teve, ao longo dos tempos, sua frente aumentada por sedimentos carreados pelo Rio Amazonas. Com o passar dos anos, o nível do depósito foi se elevando e os moradores passaram a construir edificações e ruas.

 

A associação do aumento significativo do peso sobre o instável depósito e as frequentes mudanças na dinâmica do Rio, finalmente, romperam o equilíbrio e tudo desceu levado pelas águas. O Rio, no dia dos pais, em 1984, retomou praticamente 200 metros da Cidade em uma ação que durou das 20h30 até a meia noite.

 

Em março de 2007, um fenômeno de “Terras Caídas” de grandes proporções ocorreu na “Enseada da Saracura”, margem direita do Rio Amazonas a 35 quilômetros de Parintins, provocando ondas de aproximadamente seis metros de altura, atingindo 130 pessoas e provocando a morte de um agricultor.

 

Bibliografia:

 

GUERRA, Antonio Teixeira. Novo Dicionário Geológico-geomorfológico – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Bertrand Brasil, 2010.

 

MORAES, Raymundo. Na Planície Amazônica ‒Brasil – São Paulo, SP –Companhia Editora Nacional, 1936.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·    Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·    Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·    Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·    Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·    Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·    Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·    Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·    Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·    Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·    Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·    Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·    Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·    Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·    E-mail: [email protected].

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