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Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte XCI - Madeira-Mamoré ‒ Ferrovia do Diabo ‒ XII


A Terceira Margem – Parte XCI - Madeira-Mamoré ‒ Ferrovia do Diabo ‒ XII - Gente de Opinião

Bagé, 19.11.2020

 

Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LX

 

Madeira-Mamoré ‒ Ferrovia do Diabo XII

 

 

Jornal do Comércio, n° 188 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Quarta-feira, 08.07.1885
Publicações à Pedido

Comissão de Estudo da
Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré

 

 

No jornal de 14 do mês passado fiz uma declaração com o fim de afastar de mim qualquer responsabilidade sobre certos fatos sumamente graves que se deram nesta Comissão. Assim procedendo não tive preensão de provocar discussões, quer com o chefe desta Comissão, quer com qualquer outra pessoa que dela tivesse feito parte. Não vejo, por conseguinte, motivo para o Sr. Moerbeck tanto se zangar, sobretudo tendo S. S. sido, com pequena interrupção, meu companheiro de cama e mesa desde o mês de julho de 1884 até os célebres seis dias que passamos juntos em casa do Sr. Flores, boliviano que mora perto da foz do Beni.

 

O amigo deve lembrar-se que chegamos nessa casa, de volta de Bananeiras, no dia 4 de setembro e aí permanecemos até o dia 9 desse mesmo mês, em que foi dado o toque de retirada. Em todo caso, se S. S. quer discussão mantenha-se nos assuntos da minha declaração e deixe-se de fazer conjecturas sem fundamento e alcance útil. Toda discussão séria e leal sobre o assunto dos meus artigos estou pronto a sustentar, e desejo mesmo que se faça por parte do Governo um exame bastante rigoroso sobre os negócios desta Comissão, e, se S. S. quer processo judiciário, achar-me-á pronto, para ele. Para provar; quem fala a verdade todo meio decente e eficaz me serve.

 

Não tenho interesse algum que o Governo seja convencido do que tem havido nesta Comissão pertence ao chefe dela e agora também a S. S. de provocar rigoroso exame sobre este negócio, e ao Governo, como o mais interessado, em procurar a verdade. Já fiz da minha parte o que convinha fazer, e que era de meu dever: livrar-me de toda responsabilidade.

 

Prefiro responder a um processo pelos meus artigos do que acarretar com a responsabilidade de tais fatos, sobretudo quando tenho a convicção de ter nesses artigos dito sempre a verdade: e, se assim não fosse, de há muito que me teria retirado, sobretudo depois que o Sr. Moerbeck, tão oficiosamente quanto habilidosamente, ofereceu-me ocasião oportuna para fugir da responsabilidade de meus artigos. Estou cansado de esperar pelo processo que o Sr. Moerbeck disse que ia intentar contra mim. Parece-me, porém, que S. S. é quem se aproveitará da ocasião, que, com tanta habilidade quis fornecer-me, para uma retirada.

 

Enfim, como não posso ficar eternamente à espera do processo de S. S. dou por finda a minha tarefa na imprensa. Contudo, terminando, farei a seguinte ponderação: nos grandes cometimentos, as datas dos seus principais fatos são de importância capital, e se o meu artigo de 14 do passado nada de melhor fez, ao menos teve em resultado a verificação de que a última estaca não foi positivamente batida em Guajará-mirim no dia 7 de setembro de 1884, como declarou em um telegrama a S. Exª o Ministro da Agricultura o engenheiro chefe. Há ainda dúvidas, pois vejamos.

 

Pinkas, engenheiro chefe, disse que foi a 7 de setembro, na Gazetilha deste jornal, Moerbeck, chefe da 4ª turma, que foi a 4 de setembro, no Jornal de 17 do mês passado. De Pressy, chefe da seção, que falta-lhe a memória para declarar a data certa, mas que, entretanto, lembra-se que a última estaca foi batida na 1ª quinzena de setembro, Jornal de 28 do mês passado. Nehrer, desenhista auxiliar, o público sabe o que ele tem dito a esse respeito.

 

O mais extraordinário de tudo isto é que no meu artigo de 14 de junho não me referi a datas; perguntei simplesmente:

 

‒Quem bateu a última estaca em Guajará-mirim!

 

A esta pergunta ninguém respondeu, e como esta é a última vez que sobre este assunto virei à imprensa, finalizo esta com a mesma pergunta:

 

‒Quem bateu a última estaca em Guajará-mirim!

 

Eu não fui. Seria o Sr. Moerbeck? (JC, n° 188)

 

 

Jornal do Comércio, n° 267 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Sexta-feira, 25.09.1885
Publicações à Pedido

 

Comunicação de Estudos da
Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré

 

 

À S. M. O IMPERADOR, À S. EX. O SR. MINISTRO DA AGRICULTURA E AO PÚBLICO, COM
ESPECIALIDADE À CLASSE DOS ENGENHEIROS.

 

Tendo eu em tempo feito por este Jornal uma declaração de grave importância sobre os trabalhos desta Comissão, julgo-me com o dever, depois da publicação do relatório do Engenheiro-chefe Pinkas, de voltar à imprensa para relatar os fatos e chamar a atenção do público e, sobretudo, a do Governo Imperial para as minhas declarações já feitas pela imprensa, a fim de confrontá-las com o que se acha escrito no relatório da Sr. Pinkas ultimamente publicado. Lendo esse relatório fiquei, encarando-o debaixo de certo ponto de vista, possuído do mais vivo contentamento pela importante razão de ter nele visto estampadas as mais evidentes provas de tudo quanto asseverei pela imprensa, conquanto a sua leitura não possa deixar de indignar a qualquer homem de bem, e eu nele seja tratado com um tão injusto esquecimento. Antes de prosseguir convém declarar que sou oficial, 1° Tenente do Exército Austríaco no qual servi per muitos anos, sendo distinguido com a nomeação de cavaleiro, Ritter, da Coroa de Ferro da Lombardia Austríaca, e com duas medalhas de campanha ganhas por ter combatido na Batalha de Solferino em 1859 e na de Custoza em 1866.

 

Possuo os documentes comprobatórios de tudo isto. Por conseguinte vindo para o Brasil tive em vista melhorar os meus meios de vida pelo trabalho honesto e digno do homem de bem.

 

Servi nesta Comissão como desenhista e auxiliar técnico e nessa qualidade fui designado para servir na 4° turma que tinha de correr a linha de exploração desde o Ribeirão até Guajará-mirim. Prestei nesta turma serviços sérios e aproveitáveis à Comissão, posso mesmo asseverar que do pessoal técnico ninguém prestara melhores; pois fiz o nivelamento durante seis dias, tendo sido depois dispensado desse serviço com ordem de jogar ao Rio as cadernetas, as quais acham-se ainda em meu poder e as entregarei ao Governo quando me forem exigidas.

 

No Escritório da turma fui encarregado de forjar as cadernetas de nivelamento, etc. Enfim, o que se passou nessa trama acha-se descrito na carta que dirigi ao Sr. Pinkas e da qual abaixo publico os trechos que são de interesse para o Governo Imperial e para o público. Se não continuei a prestar mais serviços técnicos à Comissão, não foi por culpa minha. Do campo fui retirado por ter declarado que não achava na picada estacas, visto o chefe da turma, o Sr. Moerbeck, não comparecer no campo depois dos primeiros dias, deixando o empreiteiro abrir as picadas ao seu talante ([1]).

 

Contudo prestei muito bons serviços à Comissão, debaixo de outro ponto de vista; pois, fiquei desde 10 de setembro até 20 de outubro como chefe da turma dirigindo-a; e nessa categoria prestei importantes serviços, sendo o mais valioso o da retirada.

 

Tendo o Sr. Moerbeck abandonado o serviço e fugido Rio abaixo, depois da altercação que teve com o chefe de secção Pressy, fiquei pela força das circunstâncias obrigado a dirigir a descida do Rio com todo o pessoal e material da Comissão, correndo riscos enormes, como se acha descrito na carta que abaixo publico.

 

Prova o fato de ter eu ficado atrás com todo o pessoal e material o ofício e a carta, abaixo publicados, que o Sr. Moerbeck dirigiu-me ordenando-me a destruição dos batelões, a fim de que os bolivianos não pudessem aproveitar-se deles; como se o Brasil estivesse em guerra com a Bolívia, e que essa estrada não fosse feita com o desiderato de estreitar mais as boas relações que existem entre estes duns países.

 

O Sr. Pinkas escrevendo um relatório tão romanesco, no qual narra tantas peripécias, em que ele fora o único “valiente” de inaudita coragem, e transcreve os relatórios de todos os chefes de seção e de turma, não devia deixar, pelo menos, de transcrever também alguns trechos da minha carta, já que não quis pedir-me um relatório sobre o que se passou durante a minha direção na 4ª turma, pois não podia ser sem importância para o Governo Imperial a descrição das últimas peripécias desta Comissão.

 

Porém para preencher essa lacuna publicarei, abaixo deste, a carta já acima aludida, que escrevi ao Sr. Pinkas em janeiro do corrente nano. Também preciso ter o meu relatório publicado, e como nele seria descrito o que eu escrevi nessa carta, acho melhor publicá-la, porque assim provo que o que hoje digo é exatamente o que já tinha sido escrito em janeiro deste ano, e por conseguinte muito antes de poder ler o relatório do Sr. Pinkas.

 

Esta última consideração é de alta importância, pelo que chamo bem a atenção para ela.

 

Da leitura do relatório o que mais impressionou o meu espírito, já tão indignado pela leitura de tantas faltas de verdade, foi o relatório do Sr. Moerbeck, não porque os dos outros, sobretudo os dos Srs. Horta e Buarque, tenham sido mais verdadeiros do que o dele ou contenham menos peripécias que se não deram, porém pelo fato de ter eu acompanhado sempre de perto a pessoa do Sr. Moerbeck, de termos sempre permanecido nas mesma barracas de seringueiros, onde passávamos juntos os dias.

 

Fiquei, por conseguinte pasmo quando li o que o Sr. Moerbeck diz ter visto. Realmente o Sr. Moerbeck viu muita coisa da sua rede. Enfim depois do que eu acabo de aqui dizer, pode-se imaginar o nojo de que fiquei possuído quando li o seguinte trecho do final do relatório do Sr. Moerbeck:

 

Esta narração despretensiosa não é mais do que um “espelho fiel” dos fatos ocorridos; se os trabalhos foram executados e se a sua conclusão custou sacrifícios, estes foram feitos somente visando a dois fins: servir ao País e obedecer às ordens, e imitar o exemplo daquele que, por seu trabalho, por sua energia e por seu merecimento, obteve do Governo Imperial ser engenheiro chefe de um dos mais arriscados empreendimentos que se executou no Brasil.

 

De tudo isto o que há de real é o seguinte: que quanto ao cumprir as ordens e imitar o exemplo do Sr. Pinkas, foi a única verdade que contém esse relatório do Sr. Moerbeck e também posso asseverar a que encontrei em todo o volumoso relatório do Sr. Pinkas.

 

Coisa assim nunca vi!!! (JC N° 267) [...]

 

Bibliografia

 

JC N° 188. Comissão de Estudo da Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Comércio n° 188, 08.07.1885.

 

JC N° 267. Comunicação de Estudos da Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Comércio n° 267, 25.09.1885.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

·       Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·       Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·       Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·       Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·       Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·       Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·       Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·       Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·       Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·       Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·       Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·       Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·       Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·       E-mail: hiramrsilva@gmail.com.



[1]    Talante: arbítrio, ao seu gosto.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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