Quarta-feira, 29 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte CLXXXVII - Navegando o Tapajós ‒ Parte V


A Terceira Margem – Parte CLXXXVII -  Navegando o Tapajós ‒ Parte V - Gente de Opinião

Bagé, 05.04.2021

 

Navegando o Tapajós ‒ Parte V

 

Complexo Hidrelétrico do Tapajós

 

A conclusão, óbvia, é que a Amazônia precisa ser internacionalizada para evitar que utilizemos os cursos d’água daquela Bacia Hidrográfica para produzir energia e proporcionar o desenvolvimento daquela região em nosso benefício exclusivo. Então, para começar, é urgente impedir a construção das hidrelétricas, enviando seguidas delegações de notáveis que se prestem a fazer o ridículo papel de defensores de etnias das quais mal conhecem a designação correta e certamente desconhecem a localização das aldeias. (Antônio Delfim Neto)

 

As inúmeras manifestações de personalidades tanto estrangeiras como nacionais e de alienados artistas Globais sobre a construção da Hidrelétrica de Belo Monte fizeram minha mente madrugar no passado. No longínquo pretérito, o escritor Gastão Cruls dissertava sobre a área sem nunca tê-la conhecido pessoalmente baseando-se apenas em relatos e vivências de outros cronistas. Seu romance “A Amazônia Misteriosa” e a “Hileia Amazônica” tinham como cenário a Região Norte do país, ainda desconhecida pessoalmente por ele. Em 1928, porém, Cruls resolveu conhecê-la acompanhando a Expedição do General Rondon, que subiu o Rio Cuminá até os campos do Tumucumaque, nos idos de 1928 e 1929, e que resultou no épico “A Amazônia que eu vi”. Os relatos, em forma de diário, são ricos e encantadores, trazendo à baila o conhecimento nativo e mostrando a beleza da Hileia captada pela atenta retina de Cruls.

 

O escritor retrata fielmente, através de sua inspirada e impecável escrita, como nenhum pesquisador ou naturalista estrangeiro teve a capacidade de fazer antes dele. Gastão precisou vê-la “in loco” para captar e entender sua essência, sua magia, suas carências, seus mistérios e suas riquezas. A Região Amazônica precisa de energia limpa, renovável, com menor custo para a sociedade para empreender sua jornada definitiva na senda do desenvolvimento sustentável. Os projetos atuais dos Complexos Hidrelétricos dos Rios Madeira, Xingu e Tapajós são, sem dúvida, as melhores opções para a ampliação do parque energético brasileiro pois, além de serem capazes de produzir grande quantidade de energia, permitirão a integração ao Sistema Interligado Nacional (SIN) reforçando a transferência de energia entre as várias regiões, aumentando a oferta e segurança do sistema elétrico. Os linhões que estão sendo construídos para levar energia de Tucuruí até Manaus serão aproveitados por Belo Monte, possibilitando, num futuro próximo, que a bauxita extraída no Porto Trombetas e Juriti seja processada, transformando-nos, de meros vendedores terceiro-mundistas de matéria-prima, em exportadores de alumínio. A energia propiciará mais conforto aos ribeirinhos, mais eficiência aos hospitais e escolas, mais segurança, mas isso não interessa aos “talibãzinhos verdes” que usam roupas de grife e são pagos por Organizações que costumam rasgar ou desrespeitar nosso sagrado pavilhão verde-amarelo. Aqueles que condenam a construção das hidrelétricas deixam-se arrastar pelas cantilenas das ONGs e missionários estrangeiros a quem não interessa que suas ovelhas tenham acesso à modernidade, a oportunidade de melhorar de vida e de livrar-se de seu jugo.

 

Apagões e Racionamentos à Vista

 

O consumo nacional de energia elétrica vem registrando uma expansão média de 7,0 % ao ano, liderado, fundamentalmente, pelo consumo industrial. Para que o Brasil possa continuar sua marcha para o desenvolvimento sustentável, atendendo às demandas crescentes, sem enfrentar problemas com o fornecimento de energia, é necessário que se acelere a liberação das licenças ambientais e que nossos governantes enfrentem corajosamente as questões sociais que afligem os atingidos pelas barragens. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) defende a necessidade de serem construídas 34 novas usinas até 2021, sendo 15 delas na Amazônia Legal. Caso isto não se concretize virá, o apagão e o caos se instalará.

 

Eletronorte e os Programas Indígenas

 

O governo tem uma carta na manga que não está sendo devidamente apresentada à sociedade nacional e às lideranças indígenas atingidas pelas barragens que são dois Programas Indígenas modelares desenvolvidos em parceria com a Eletronorte.

 

Programa Waimiri Atroari (PWA)

www.waimiriatroari.org.br

A Terceira Margem – Parte CLXXXVII -  Navegando o Tapajós ‒ Parte V - Gente de Opinião

Em maio de 2011, a população dos índios Waimiri Atroari (WA) era de 1.469 pessoas, com uma taxa de crescimento de 6% ao ano. Esse índice somente foi possível com as ações mitigadoras empreendidas pela Eletrobras Eletronorte devido aos impactos provocados pela construção da Usina Hidrelétrica Balbina em suas terras.

 

A situação dos índios WA antes do início do Programa, em 1988, era totalmente diferente. A população contava com 374 pessoas. A redução populacional chegava a 20% ao ano. Na produção havia pequenas roças e dependência alimentar externa. A cultura estava em processo de perda dos seus valores, não se realizando mais as prin­cipais manifestações de seu patrimônio cultural e os WA se encontravam em fase de desmorali­zação como etnia. Na educação, as escolas não existiam e eles desconheciam a escrita. No campo da saúde, o quadro era de epidemias de sarampo, malária e gripe, subnutrição, diarreias crônicas, falta de atendimento odontológico e de vacina­ção. A terra não estava delimitada nem demar­cada e havia processo de invasão em andamento, além da situação fundiária totalmente irregular. Hoje é totalmente diferente. Na produção observam-se grandes roças, estoque de animais para abate [peixes e gado] e total independência alimentar. Houve o resgate de todas as práticas culturais e de sua dignidade como povo indígena. Na educação, são 21 escolas com 60 professores indígenas, 63,4% dos WA são alfabetizados e o restante em processo de alfabetização. Na saúde, nenhuma doença imunoprevenível nos últimos 15 anos, com controle total de doenças respiratórias, da malária e de outras doenças endêmicas, boa nutrição e vacinação de 100% da população. O controle da saúde dos índios é informatizado. A terra está demarcada, homologada, sem nenhum invasor e com fiscalização sistemática dos seus limites e dos transeuntes das estradas existentes dentro dos territórios WA.

 

A situação fundiária está totalmente regularizada, com registro em cartório de imóveis e serviço de patrimônio da União. (www.eln.gov.br)

 

Programa Parakanã

www.parakana.org.br

A Terceira Margem – Parte CLXXXVII -  Navegando o Tapajós ‒ Parte V - Gente de Opinião

Em maio de 2011, a população dos índios Parakanã era de 883 pessoas, resultado da taxa de crescimento de 5,1% ao ano. Esse índice somente foi possível com as ações mitigadoras empreendidas pela Eletrobras Eletronorte devido aos impactos provocados pela construção da Usina Hidrelétrica Tucuruí nas terras dos Parakanã. A situação do povo Parakanã antes do início do Programa, em 1986, era totalmente diferente. A população contabilizava 247 pessoas. Na produção havia dependência total dos alimentos fornecidos pela Funai. A cultura encontrava-se em processo de perda dos seus valores culturais e manifestações como festas tradicionais, pinturas corporais e ritos de passagem e morte. A língua estava sendo perdida gradativamente, bem como os conhecimentos dos mais velhos sobre a natureza, seus mitos, sua medicina e tecnologia. Enfim, sua história. As escolas não existiam e desconheciam a escrita. No campo da saúde, o quadro era grave: epidemias de sarampo, malária e gripe, hepatite B, subnutrição, diarreias crônicas, nenhum atendimento odontológico, falta de vacinação e de qualquer controle sobre a saúde. A terra era demarcada, mas com pendências de registros e regularização. Hoje, além do aumento populacional, grandes roças têm produção de excedentes; foi resgatada a prática do extrativismo e da coleta de frutos para comercialização, como açaí, cupuaçu, castanha, entre outros, o que resultou em total independência alimentar. Também houve o resgate de todas as práticas culturais. Na educação, são doze escolas com 57,86% da população Parakanã alfabetizada na língua materna e em Português, além de grande parte da população em processo de alfabetização.

 

Na saúde, não se observou nenhuma doença imunoprevenível nos últimos 12 anos. Há controle total das doenças respiratórias, malária, hepatite B e de outras doenças endêmicas, além de boa nutrição, vacinação de 100% da população, controle informatizado da saúde dos índios e um programa de saúde bucal preventivo, curativo e corretivo. A terra está demarcada, homologada e sem nenhum invasor, com fiscalização sistemática dos seus limites e dos transeuntes da rodovia Transamazônica, que faz limite com as terras indígenas Parakanã. A situação fundiária está totalmente regularizada, com registro em cartório de imóveis e no serviço de patrimônio da União. (www.eln.gov.br)

 

Hidrelétricas a “Fio D’água

 

Nas novas usinas, denominadas hidrelétricas a “fio d’água”, a produção de energia é proporcional à vazão natural do Rio. Nelas, como é o caso das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia e Dardanelos, no Mato Grosso, não é necessária a construção de grandes barramentos para acumular água.

 

Estas hidrelétricas dependem, fundamen­talmente, do volume e da velocidade dos cursos d’água. No caso de Santo Antônio, por exemplo, a barragem é de 13,9 metros de altura com um reservatório de 271 km², sendo que deste total 164 km² são de áreas que o Rio inunda, normalmente, no período das cheias.

 

Quebram-se Ovos para se Fazer uma Omeleta

 

Felizmente o governo abandonou sua surrada cartilha ambientalista e está construindo as tão necessárias Hidrelétricas no Xingu, Madeira e planejando as do Tapajós. Sem estes projetos o país mergulharia definitivamente no lodaçal da estagnação. A falta de investimentos de toda ordem gerariam, sem dúvida, a curto prazo o desemprego, e a recessão se instalaria. É preciso conhecer a realidade da Amazônia e do Brasil para não se deixar levar por movimentos hipócritas dos que não se interessam pelo futuro de nossa gente e de nossa nação. Aos abutres estrangeiros interessa o engessamento da região para que, em caso de necessidade, no futuro, dela se sirvam como lhes aprouver, sem resistência nem luta.

 

Mitigação dos Impactos e Compensação Ambiental

 

O Setor Elétrico vem cumprindo fielmente as obrigações de mitigação dos impactos e de compensação ambiental. Tucuruí, por exemplo, já recuperou pratica­mente 100% das áreas degradadas com espécies nativas oriundas do Banco de Germoplasma (um dos projetos ambientais desenvolvidos pela Eletrobras/Eletronorte), onde permanecem armazenadas as espécies florestais coletadas na época do enchimento do reservatório.

 

O Projeto Banco de Germoplasma conta com mais de 400 espécies de árvores produtoras de sementes e mudas de alta qualidade.

 

Talibãs Verdes

 

Os meios de comunicação, contrapondo-se à construção de hidrelétricas, apresentam, sistemati­camente, fontes alternativas de energia, carregadas de lirismo e totalmente desvinculadas da realidade.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·     Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·     Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);

·     Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·     Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·     Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·     Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·     Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·     Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·     Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·     Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·     Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·     Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·     Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·     E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 29 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Porque Sou Brasileiro Republicano

Porque Sou Brasileiro Republicano

Bagé, RS, 27.10.2025 Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo. “Consentio in genere, numero et gradu” Po

Da Natureza do Militar

Da Natureza do Militar

Bagé, RS, 06.10.2025 Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo. “Consentio in genere, numero et gradu” Da

Ideologias e Seus Restos

Ideologias e Seus Restos

Bagé, RS, 03.09.2025 Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo. “Consentio in genere, numero et gradu” Id

Soldado Holístico

Soldado Holístico

Bagé, RS, 25.08.2025 Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo. “Consentio in genere, numero et gradu” So

Gente de Opinião Quarta-feira, 29 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)