Terça-feira, 7 de outubro de 2025 - 08h29
AMADOR
Política não é
território para diletantes nem para quem acredita que gratidão é artigo de
luxo. É campo de guerra onde o diálogo e a confluência de interesses valem mais
que bravatas. Quem chega ao poder pelas mãos alheias e depois apunhala o criador
dificilmente sobrevive. Sérgio Gonçalves, vice-governador de Rondônia, é o
exemplo acabado do amador que acha que a esperteza compensa a experiência.
Seus movimentos nos
bastidores, mirando o governo, lembram coreografia de elefante em loja de
cristal. Em três anos e dez meses de vice, aprendeu pouco e esqueceu muito. A
ingratidão e o improviso são seus conselheiros. O resultado? Constrangimentos
para quem o colocou onde está e risadas contidas nos corredores do poder.
PROPOSTA
Até agora, Sérgio
Gonçalves não deu um passo rumo à reconciliação com o governador Marcos Rocha.
As relações seguem azedas, e qualquer veleidade de candidatura do vice
dependerá da boa vontade do titular. Rocha até flerta com a ideia de disputar o
Senado, mas o flerte é frio. Sabe que renunciar e deixar o governo nas mãos de
um vice ressentido seria um ato de fé — e não política.
RANCOR
Sem o aparato da
máquina estatal, a candidatura de Sérgio Gonçalves não enche um Fusca — e ainda
sobra banco vazio. Se tivesse senso político, adulava o criador com a devoção
de um monge beneditino, buscando o entendimento que mantém vivos os projetos e
as vaidades. Mas prefere a mágoa. Resultado: não tem grupo, partido, nem
narrativa.
É caso raro de
político que consegue perder os anéis, os dedos e ainda culpar a manicure. Se
Marcos Rocha permanecer no cargo, Gonçalves será lembrado apenas como nota de
rodapé. E olhe lá.
DESMENTIDO
Corre por aí que Sérgio
Gonçalves teria proposto ao deputado federal Fernando Máximo (União Brasil) que
desistisse da corrida ao governo em troca de uma candidatura ao Senado, numa
chapa por ele liderada. Balela. O próprio Máximo negou à coluna. Menos mal.
Ainda assim, o vice
insiste em mandar emissários aos prefeitos e parlamentares, tentando
convencê-los a embarcar em seu projeto. Até agora, coleciona portas fechadas e
suspiros de impaciência. Liderança não se improvisa — e Sérgio Gonçalves é a
prova viva disso.
PERSONAGEM
Nas redes sociais, o
vice virou personagem de si mesmo. A performance digital tenta vender um
político que ele nunca foi — e que ninguém compra. O figurino lembra mais o
irmão Júnior que o próprio Sérgio. O resultado é esteticamente duvidoso e
politicamente suicida.
Na ânsia de parecer
moderno, acaba soando artificial. A reinvenção pode render curtidas, mas
dificilmente renderá votos.
INELEGÍVEL
Impressiona a
fertilidade da imaginação jurídica dos que tentam ressuscitar políticos
atingidos pela Lei da Ficha Limpa. Com o veto de Lula às mudanças que
afrouxariam a norma — e que deixaram Ivo Cassol fora do páreo, como esta coluna
alertou repetidas vezes —, agora tentam a mesma ginástica para livrar o
ex-senador Acir Gurgacz.
Mais uma vez: Acir
está inelegível. Ponto. Quem disser o contrário está vendendo esperança
vencida. Aposto um destilado paulista contra uma pinga de Vilhena que, em 2026,
o ex-senador continuará no banco de reservas.
MARQUISE
Quem não entende
política municipal deve estar confuso com a novela da coleta de lixo em Porto
Velho. Tudo começou na gestão de Hildon Chaves, que conduziu um processo longo
e tumultuado para contratar a empresa responsável pelos resíduos sólidos. A
Marquise venceu, e o Tribunal de Contas — sempre zeloso, mas neste caso pode
ter sido exagerado — resolveu implicar com supostas irregularidades.
Hildon discordou,
assinou o contrato e seguiu em frente. O TC, como de costume, ficou com a
última palavra.
DETERMINAÇÃO
A Marquise, empresa
experiente e reconhecida no setor, participou de licitação pública regular. Não
tinha por que se preocupar com brigas institucionais entre prefeitura e
Tribunal de Contas — até que o processo foi judicializado e o novo prefeito,
Léo Moraes, herdou o abacaxi. Cumpriu a determinação do TC e suspendeu o
contrato. Fez o que manda o figurino: obedeceu.
LIMINAR
Esta coluna folheou o
processo e constatou: há elementos suficientes para que a Justiça decida logo.
A liminar que devolveu à Marquise o serviço de coleta foi medida profilática —
um antídoto contra o caos urbano. É uma empresa sólida que desempenha com
competência suas atividades na capital há mais de três décadas.
Nos bastidores, o
imbróglio cheira a disputa empresarial travestida de zelo jurídico. Mas o
cidadão comum, cansado de lixo e lama, quer apenas que o caminhão passe na hora
certa. E nisso, convenhamos, o juiz prestou um serviço melhor que muita gente
que fiscaliza. E a cidade escapa da proliferação dos urubus. Parte
superior do formulário
PODCAST
Expedito Junior,
presidente estadual do PSD, é nosso entrevistado no podcast Resenha Política,
desta terça-feira. No papo reto com este cabeça-chata Junior confirma a
pré-candidatura de Adailto Fúria a governador (prefeito de Cacoal), explica o
distanciamento político com Hildon Chaves e cogita em disputar as eleições para
deputado federal.
AGENDA
Nos próximos podcasts
ouviremos o desembargador Alexandre Miguel (provável próximo presidente do TJ),
Ramon Cujui (dirigente do PT), Elias Resende (Chefe da Casa Civil), Dr. Lauro
Fernandes (Secretário Desenvolvimento Estadual), Fátima Cleide (Ex-senadora do
PT), Dr. Santana (Vereador da capital), entre outros. Todos já gravados.
Gratidão
Nestes quarenta anos
de profissão, dei modestas contribuições para a vitória de muitos políticos.
Alguns se apresentavam como competitivos; outros, sequer acreditavam nas
próprias chances — e, ainda assim, venceram.
Nunca esqueci um
deles: no auge da sua solene arrogância, afirmou, com todas as letras, que não
me devia nada, já que havia pago pelo trabalho. É verdade — os votos que o
elegeram vieram do eleitor. Ainda assim, lembro-me de quantas vezes, durante a
campanha, ele se desanimava com as pesquisas ruins, e, em todas essas ocasiões,
eu o lembrava de que as eleições se decidem na véspera. Injetando novo ânimo
para que não desistisse.
Outro político, com
quem caminhei numa jornada governamental dura, simplesmente me ignorou após a
vitória. Aliás, membros da própria família chegaram a me perseguir. Faz parte
da vida de quem trabalha nas coxias das campanhas — onde o esforço é invisível
e o reconhecimento, efêmero.
Faço este relato para
destacar, por contraste, a forma gentil, humana e respeitosa com que
o prefeito da capital, Léo Moraes, tem me tratado. No aniversário da
cidade, ele me presenteou com a maior comenda do município — e o fez por
iniciativa própria, sem pedido, sem intermediação, apenas movido pela consideração
pessoal.
Lembro-me vivamente
do momento. Ao me entregar a comenda, Léo fez questão de dizer que a homenagem
era um reconhecimento a quem dedicou a vida à cidade e à política com seriedade
e fé no diálogo. Disse ainda que as conquistas de Porto Velho são, em parte,
fruto do trabalho silencioso de muitos que acreditaram no futuro da capital —
palavras simples, mas que tocaram fundo.
Na última campanha,
minha contribuição foi modesta, mas sempre acreditei em seu sucesso eleitoral —
e ele veio, com uma vitória retumbante. O gesto de Léo Moraes permanecerá na
minha memória, não apenas pelo brilho da honraria, mas pelo significado e
simbolismo de gratidão e reconhecimento que carrega.
Não esperava tal
deferência. Conheço bem a alma dos políticos e sei que, em sua maioria, são
frios, distantes e indiferentes com os que os ajudam na caminhada: são relações
superficiais, interesseiras e passageiras. Léo Moraes é a exceção que reacende
a crença na amizade, na lealdade e no respeito como valores ainda possíveis na
política.
Agradeço de coração
pela homenagem e registro aqui minha convicção: meu amigo Léo Moraes será
não apenas um grande prefeito, mas um líder que sabe valorizar as pessoas —
antes, durante e depois do poder. Um dia (não muito longe) ainda governará o
estado com o mesmo denodo. Se depender deste voto pode comprar a fatiota. Nunca
fui de cultuar horarias, mas esta medalha significa muito e renova minha
admiração por quem a concedeu.
Veja a entrevista:
BURAREIRONo fim da década de 70, com os programas de colonização militar em Rondônia, o governo decidiu despejar multidões de colonos vindos do Sul