Quarta-feira, 1 de outubro de 2025 - 08h15
BURAREIRO
No fim da década de
70, com os programas de colonização militar em Rondônia, o governo decidiu
despejar multidões de colonos vindos do Sul e Sudeste. Resultado? Quatro
décadas depois, um problemão fundiário. O projeto Burareiro, por exemplo,
assentou famílias em cima de terras indígenas uru-eu-au-au —
exatamente no território “sagrado” da etnia, onde repousam os ancestrais.
Planejamento de Estado digno de piada de mau gosto.
DESINTRUSÃO
Na época, os povos
originários eram ignorados solenemente pelos governos e não existiam as normas
protetivas atuais. Agora, caberá ao Judiciário ordenar a desocupação. O Incra,
numa tentativa de lavar as mãos, argumenta que o cacau previsto para o projeto
foi trocado pela pecuária. Como se a troca de cultura fosse o problema central.
O ponto não é o gado nem o cacau, é a ilegalidade pura e simples: a área é
indígena e nunca poderia ter virado assentamento.
GRITARIA
A reação política
contra a desintrusão é enorme — e compreensível pelo tempo decorrido. Mas,
convenhamos, gritaria não legaliza invasão. Terra indígena é terra indígena,
ponto final. Podem berrar até ficarem roucos, mas os cinco municípios que
englobam a área terão de engolir a desocupação.
VETO
Como esta coluna já
previu, Lula vetou a gambiarra que afrouxava a Lei da Ficha Limpa. Sepultou, de
vez, as esperanças dos fichas-sujas voltarem às urnas. Em Rondônia, o veto
atinge nomes conhecidos: Ivo Cassol, Acir Gurgacz, Natan e Marcos Donadon,
entre outros. A turma que adora posar de vítima agora vai ter que se contentar
com a biografia.
LOROTA
A direita histérica
resolveu bater no prefeito de Ji-Paraná, Afonso Cândido, porque ele não foi ao
palco armado pelo PL Mulher para receber Michele Bolsonaro. Normal. Seria
estranho se não reclamassem. O prefeito, com razão, parece preferir quatro anos
resolvendo problemas locais a posar de figurante no evento. Quanto à
“ingratidão” que tanto falam, olhando o palco armado, o que não faltava era
ingrato — o festival da infidelidade pululava. O resto é lorota.
PL
Michele Bolsonaro, a
estrela do evento, arrastou liberais (especialmente mulheres), mas a festa não
“estourou a boca do balão” como prometido. Quem saiu momentaneamente no lucro
foi Bruno Schaid, pré-candidato a senador pela graça e ordem da família
Bolsonaro.
OBSCURO
Bruno Schaid, até
ontem ausente do noticiário, ganhou o carimbo de Michele. Mas segue o mistério:
o que, afinal, liga o rapaz ao clã Bolsonaro? Por enquanto, só os bastidores
obscuros sabem.
BOLHA
Não é preciso ser
filósofo para notar que a bolha bolsonarista começa a esvaziar. Com a sentença
de Jair prestes a transitar em julgado, ele ficará fora da disputa. E o
brasileiro, sabemos, esquece rápido. Resta, ainda, um eleitorado conservador
expressivo, mas muitos já flertam com o “centro”, esse purgatório político onde
ninguém se assume, mas todo mundo se salva.
ESCÁRNIO
O Congresso não tem
limites. Depois de aliviar leis que ajudam o crime organizado, aprovou cinco
bilhões para os partidos torrarem em 2026. Sim, bilhões, com B de bufunfa. A
bancada rondoniense, gastadora contumaz, votou a favor e correu para as redes
sociais com cara de pau, omitindo a farra. Enquanto isso, hospitais seguem na
idade da pedra. É a política brasileira: champagne para as campanhas, soro
vencido para os doentes.
BANCADA
O STF decidiu:
Rondônia continua com oito deputados federais em 2026. Melhor assim, porque
havia risco de cair para sete. Aliás, diante da baixíssima produtividade dos
nossos parlamentares, a redução não seria um castigo, mas um favor ao
contribuinte.
HOSPITAL
O governador Marcos
Rocha prepara o terreno para pavimentar com mais solidez sua candidatura ao
Senado. Não por acaso, escolheu atacar um dos maiores gargalos de sua gestão: a
saúde pública. Rocha acelera as tratativas para adquirir uma grande estrutura
em Porto Velho, onde pretende instalar o novo hospital de pronto-socorro em
substituição ao combalido João Paulo II — unidade que, há décadas, simboliza a
falência do sistema estadual.
XEQUE
A jogada é cirúrgica:
três governadores prometeram erguer um “novo João Paulo” e fracassaram. Rocha
também prometeu, e tudo indicava que seria apenas mais um no rol dos que
alimentaram ilusões. Se entregar, entretanto, dará um xeque-mate político. O
eleitor, cansado de promessas vazias, tende a esquecer os tropeços do passado e
agradecer o gesto concreto.
OXIGÊNIO
Um hospital moderno,
capaz de oferecer atendimento digno, tem peso eleitoral muito maior do que
qualquer propaganda. Ao trocar corredores e chão superlotados por leitos reais,
Rocha não apenas socorre pacientes: injeta oxigênio em seu futuro político.
Fracassando, o Senado fica mais distante.
PODCAST
Repercutiu
positivamente a entrevista do prefeito da capital concedida a este cabeça-chata
no podcast Resenha Política. Sem rodeios, Léo Moraes deixou claro
que não pretende ficar em cima do muro em 2026. Disse ainda não ter decidido
quem apoiar ao governo, embora tenha distribuído elogios a quase todos os
pré-candidatos. Elogios, aliás, sem direito a piscadela para ninguém. Bem
avaliado na gestão, Moraes se dá ao luxo de ser cortejado por todos — e quanto
mais ele nega, mais aumenta a fila de pretendentes. Política, como sempre, é
jogo de sedução.
Robson Oliveira entrevista Raniery Coelho presidente do Sistema Fecomércio, Sesc e Senac
Veja a entrevista:
PESADELO A censura imposta ao site Joio e Trigo foi uma dessas decisões judiciais que cheiram a curral fechado. Impedir a imprensa de noticiar supos