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Robson Oliveira

Eleições majoritárias são como corridas de jegue: vence quem tropeça menos


Eleições majoritárias são como corridas de jegue: vence quem tropeça menos - Gente de Opinião

ADULAÇÃO                                                                              

Não houve um único dirigente partidário entrevistado por este cabeça chata no Podcast Resenha Política que não tenha se ajoelhado em louvores ao prefeito da capital, Léo Moraes. É uma unanimidade digna de missa de corpo presente: todos querem o apoio do homem. As razões não exigem esforço analítico — basta olhar as pesquisas. Os números de aprovação de Léo explicam por que tanto figurão o trata com o fervor reservado a santos de devoção repentina. A política, afinal, é o único altar onde se reza por interesse.

SANTINHO

A história eleitoral de Porto Velho é avara em dados sobre quem realmente transfere votos. Mas é certo que hoje, quem subir no mesmo palanque de Léo Moraes sai na frente — ainda que leve o microfone desligado. Em tempos de candidatos que não arrastam nem parente, o prefeito virou ativo valioso. Um aval de Léo vale mais que santinho em domingo de eleição.

TIKTOK

Léo Moraes, o “prefeito TikTok”, reina nas redes com a desenvoltura de um influencer em campanha eterna. O homem dança, sorri, põe colante, peruca e fala com o eleitor como quem vende açaí — e dá certo. Cada vídeo é um comício em miniatura. O sucesso irrita um vereador desafeto, que se corroem entre filtros e hashtags furiosos. Mesmo sem disputar cargo em 2026, Léo continuará sendo o político mais paparicado do pedaço. A inveja, como se sabe, é o mais democrático dos sentimentos políticos. Ele aparece é todas as plataformas. Dia e noite.

ISOLAMENTO

Enquanto isso, o ex-prefeito Hildon Chaves tenta ressuscitar o PSDB com a energia de quem sopra brasa molhada. Anunciou sua pré-candidatura ao governo prometendo, em trinta dias, apresentar uma nominata de tucanos competitivos. O prazo venceu, e o que se viu foi uma revoada solitária: Hildon, ele mesmo, e o eco do seu próprio discurso. O isolamento político é cruel — sobretudo quando o sujeito acredita que liderança é sinônimo de autoelogio.

PLANOS

Mantido o isolamento, Hildon terá de descer do pedestal e rever planos. O sonho de disputar o governo pode se transformar, no máximo, em uma candidatura de consolação — talvez a deputado federal, onde há oxigênio em abundância. O Senado, ele sabe, é uma arena congestionada de vaidades e egos hipertrofiados. A vice-governadoria, por outro lado, é o cargo que todos os adversários adorariam empurrar para ele, com tapinha nas costas e sorriso de velório. À medida que 2026 se aproxima, o ex-prefeito terá de escolher entre reinventar-se ou permanecer como está: isolado e redundante. Quem viver, verá.

PROFETAS

O senador Marcos Rogério (PL) anda proclamando aos quatro ventos sua candidatura ao governo, como se fosse profeta em terra de incrédulos. É lembrado para o Senado e pontua também para o governo, o que já é mais do que a maioria consegue. Os sabichões de plantão garantem que, em um eventual segundo turno, Rogério seria presa fácil. Esquecem que, em Rondônia, o improvável é regra e o previsível, exceção.

BOÇAL

Eleições majoritárias são como corridas de jegue: vence quem tropeça menos. O perfil do candidato pesa mais que qualquer discurso decorado. Nesse quesito, a boçalidade jovial de Adailton Fúria — que confunde empolgação com preparo — pode ser seu maior inimigo. A gritaria, o improviso e o espetáculo permanente encantam por um instante, mas cansam rápido.

CONTRASTE

Já Marcos Rogério, com toda sua pompa de político estudioso e metódico, acaba parecendo um estadista comparado ao prefeito guri de Cacoal. Em um eventual segundo turno, a comparação entre o improviso barulhento e a experiência ensaiada pode jogar o eleitor no colo do senador. Em política, o excesso de entusiasmo é tão fatal quanto a falta de noção — e Fúria, nesse quesito, é um entusiasta profissional.

TURISMO

O carioca Cabo Daciolo resolveu transferir o título para Rondônia. Anuncia, sem corar, que será candidato ao Senado. É direito dele — e desgraça nossa — que a legislação eleitoral permita esse tipo de turismo político. O sujeito sequer mora aqui, mas a lei, generosa como uma mãe desnaturada, autoriza a farra.

VASSOURADA

A candidatura, sejamos francos, não mereceria nem uma nota de rodapé. Mas, como o Cabo já se aventurou na eleição presidencial — terminando, claro, no fim do cabo da vassoura —, este escriba se vê obrigado, por dever de ofício, a gastar algumas linhas com a figura.

CABO

Não é análise, é necropsia política. A pretensão eleitoral de Daciolo é tão rasa que até poça d’água se sente ofendida com a comparação. Aposto os pelos de uma vassoura velha que o Cabo vai pontuar nas urnas em algo entre o zero e a imaginação de seus devotos. Há por aí quem aposte o contrário — deve ser algum soldado do Cabo, desses que acreditam que fé multiplica voto.

MESSISMO

Não é a primeira aparição desse tipo em Rondônia. Já tivemos o “Homem do Chapéu”, o cantor Dalvan e outros aventureiros do populismo tropical. Todos vieram com a mesma ladainha messiânica e terminaram no mesmo lugar: o esquecimento.

MILAGRE

Cabo Daciolo não será exceção. Mas, justiça se faça, já conseguiu mais do que merecia: parágrafos inteiros nesta coluna. Um milagre maior que todos os que ele promete. Nem Zé Carioca conseguiria algo igual.

CRIME

É comovente — quase uma coreografia de cinismo — ver nossos parlamentares se dedicarem a justificar o injustificável, transformando o crime em ato de bravura cívica. A exploração de ouro no Rio Madeira, sem autorização legal, é crime — simples assim. Mas, para suas excelências, parece um detalhe burocrático. Garimpeiros rasgam o leito do rio e despejam mercúrio como quem joga confete em carnaval fora de época, celebrando a própria ilegalidade sob aplausos cúmplices. E ainda há quem critique os policiais por fazerem o que deveriam: cumprir a lei. No Brasil, o crime não é apenas tolerado — é tratado como expressão de liberdade econômica.

COP

Faltando poucos dias para a COP 30, o governo brasileiro se empenha, com inegável competência diplomática, em transformar Belém na vitrine de um país que pretende conciliar desenvolvimento e preservação. Um esforço legítimo e necessário. Mas, enquanto Brasília ensaia discursos verdes para impressionar o mundo, parte do Congresso rema em sentido contrário — defendendo, sem pudor, atividades que depredam o meio ambiente e afrontam a legislação. O governo tenta mostrar civilização; o Parlamento insiste na Idade da Pedra. Assim, o país que busca protagonismo climático corre o risco de ser lembrado como o velho Brasil: abundante em recursos, miserável em juízo.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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