Quarta-feira, 24 de setembro de 2025 - 10h05
PESADELO
A censura imposta ao site Joio e Trigo foi uma dessas decisões
judiciais que cheiram a curral fechado. Impedir a imprensa de noticiar suposta
relação de empresas de gado com o senador Jaime Bagattoli é mais que um erro
jurídico — é um atentado contra o ar fresco da democracia. Parece que alguns
ainda sonham com a velha porteira trancada, onde só entra a versão oficial.
LEMBRANDO
Felizmente, o Tribunal de Justiça de Rondônia corrigiu a censura, liberando a
reportagem. Foi um tapa de luva contra o autoritarismo e em defesa da liberdade
de imprensa . Nada mais constrangedor do que a Justiça ter de lembrar a si
mesma que censura prévia é coisa de ditadura, não de República. A famigerada
Lei de Impresa é lembrança pra o lixo da história.
MORDAÇA
Para Bagattoli, o estrago está feito. A tentativa de amordaçar a imprensa só
reforça o estigma de quem não tolera o contraditório. No fim, mais do que o
gado, foi a própria reputação política que entrou na linha de abate. A pergunta
que fica: será que o senador aguenta a transparência, ou prefere continuar tentando
vender silêncio como se fosse boi no leilão?
VESPEIRO
Até ontem eu não havia me detido sobre os fatos nem lido a reportagem que tanto
incomodou a família Bagattoli em Vilhena. Fiz isso agora, com a devida atenção,
e constato: o texto assinado pela colega Bruna Bronoski, publicado no Joio
e o Trigo, é jornalismo do bom, daqueles que cutucam vespeiro e expõem
desconfortos.
FAREJANDO
Não é à toa que
tentaram calá-lo pela via judicial — quando a família poderosa se remexe, é
porque a pedra no sapato incomoda. A censura, felizmente revertida, apenas
acrescenta molho à história. E esta coluna, como não foge de briga, promete:
vai destrinchar o caso em breve. Afinal, onde há tanto esforço para esconder,
quase sempre sobra pasto fértil para farejar coisa malcheirosa.
BLINDAGEM
A Câmara dos
Deputados, em mais um daqueles momentos que fazem a política parecer uma casa
de horrores, aprovou a PEC da blindagem parlamentar, apelidada carinhosamente
de PEC da Bandidagem. Mas a festa ainda não acabou: após as
manifestações espontâneas do último domingo, que pintaram ruas e redes de
repúdio à iniciativa, o Senado já sinaliza que vai barrar a proposta. Uma
derrota anunciada para deputados que acreditavam que poderiam legislar à margem
do bom senso e da opinião pública.
REAÇÃO
Domingo foi dia de
teste de popularidade para os congressistas: cidadãos comuns tomaram as ruas em
protesto contra a PEC que buscava transformar o Congresso em um bunker jurídico
para parlamentares. Cartazes, buzinaços e redes sociais em chamas mostraram
que, por mais que se tente, o eleitorado ainda não está disposto a aceitar a
impunidade institucionalizada. A política nacional ganhou mais um lembrete
ácido: a população percebe e reage quando a “blindagem” passa do limite.
ESCÁRNIO
Enquanto deputados
comemoravam a aprovação como se tivessem conquistado algum feito heroico, as
manifestações mostraram que a sociedade não está para folia: o que era para ser
vitória virou escárnio.
CONTRASTE
A PEC da Bandidagem
deve naufragar no Senado, mas não sem deixar claro o contraste entre o
Congresso que legisla para si e uma população que exige, com força, respeito à
lei e à ética. A ironia do episódio é tamanha que até o mais cinismo
parlamentar parece modesto diante do humor ácido da rua.
IRRESPONSABILIDADE
Enquanto a população
se manifestou nas ruas repudiando a PEC da Bandidagem, a maioria dos deputados
federais de Rondônia resolveu dar um show de desconexão com a realidade.
Votaram a favor da proposta como se blindar a própria impunidade fosse
prioridade maior do que qualquer compromisso com o eleitor. É o típico gesto de
quem confunde mandato com carteirinha VIP de proteção política, numa
demonstração que beira a irresponsabilidade pública.
INDIFERENTES
As manifestações do
último domingo deixaram claro que Rondônia não é apenas um mapa político, mas
também uma sociedade que observa e julga. Enquanto cidadãos comuns gritam
contra a PEC, a maioria dos deputados federais do estado se alinha à excrescência,
como se ignorar a ética e o clamor popular fosse natural. Um contraste
doloroso: de um lado, ruas cheias de indignação; do outro, cadeiras vazias de
sensibilidade política.
BOLHA
Nossa bancada
federal, com raríssimas exceções, parece viver em uma bolha extrema, totalmente
desconectada da realidade do estado. Entre discursos vazios e votos em favor de
interesses próprios — como a PEC da Bandidagem — fica claro que muitos
deputados só habitam o Congresso em Brasília, enquanto Rondônia pulsa nas ruas
e nas demandas do cotidiano. Aqueles que não conseguirem se reeleger não farão
falta, nem serão lembrados no futuro; o estado seguirá adiante, sem saudade de
quem preferiu blindar a própria impunidade em vez de servir à população. Nossas
demanda são enormes, mas nossa bancada, presa na bolha, faz que não enxerga. Em
2026, ano eleitoral, é uma ótima oportunidade para furar este Milius.
DESCONVERSANDO
Na próxima terça-feira, no podcast Resenha Política, ancorado por
este cabeça-chata, o prefeito da capital, Léo Moraes, em entrevista já gravada,
contradiz declarações feitas na semana passada pelo deputado federal Fernando
Máximo sobre a união dos grupos políticos em torno das eleições do ano que vem.
Segundo Léo Moraes, ainda não há nenhum compromisso firmado para as eleições
majoritárias de 2026. Há conversas, mas compromissos, ainda, não.
JUDICIÁRIO
Também entrevistamos o desembargador Alexandre Miguel, atualmente à frente da
Escola da Magistratura, que destacou, entre outras ações, a qualificação dos
quadros do Tribunal de Justiça com novas ferramentas de Inteligência
Artificial. Pela linha sucessória historicamente adotada pelo TJ, deverá ser o
próximo presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia. Além de magistrado
respeitado por todos os operadores do direito rondoniense, Alexandre Miguel é
membro da Academia Rondoniense de Letras, demonstrando, com elegância, que sabe
manejar a pena tanto na poesia quanto na sentença.
RADAR
O senador Marcos Rogério (PL), que anunciou no nosso podcast, no mês passado, a
intenção de disputar a reeleição, pode reconsiderar e se lançar candidato do PL
ao governo. Embora ainda não tenha declarado publicamente, ele tem avisado em
conversas reservadas que a possibilidade de disputar o cargo voltou ao seu
radar.
TAPETE
Se a hipótese se confirmar, estaremos diante da primeira rachadura no tal
“grupo unido” que Fernando Máximo jurou existir em entrevista ao podcast Resenha
Política. Duas candidaturas ao governo com o mesmo perfil — Marcos Rogério
e o próprio Máximo — são o presente dos sonhos para os adversários. A
matemática é simples: um deles, inevitavelmente, não passa ao segundo turno.
Máximo terá de olhar no espelho e refletir. Afinal, é o único sem partido
próprio, sem uma sigla para chamar de lar. O caminho natural seria uma guinada
para o Senado, onde, paradoxalmente, suas chances são maiores. No fim, não
seria novidade: o tapete de Máximo sempre acaba mais curto do que o tamanho de
seu nome.
RAIZ
O deputado estadual Delegado Camargo transformou-se no mais barulhento
representante da direita raiz em Rondônia. Usa a tribuna da Assembleia como
palanque permanente para seu arsenal de discursos inflamados, sempre pintando o
país dividido entre progressistas e conservadores. Curiosamente, é também o que
mais bate no governo estadual, embora compartilhem praticamente a mesma
cartilha ideológica. Agora, o Podemos pressiona Camargo a disputar o Senado, o
que só serviria para pulverizar ainda mais as candidaturas do mesmo campo
político. Não espanta que ele consiga incomodar os nomes de “primeiro escalão”.
Espanta seria vencer — por enquanto, essa possibilidade ainda é uma miragem que
ele parece enxergar. Embora as dificuldades sejam enormes, subestimar sua
peroração é temerário.
GASOLINA
Os pré-candidatos ao
governo já fazem suas apostas: Adailton Fúria (PSD), prefeito de Cacoal,
dificilmente alcançará os concorrentes com a mesma velocidade de combustão que
imagina ter para explodir em apoio popular. Sua candidatura, até aqui, parece
mais um carro flex rodando na reserva. Se a gasolina acabar no meio da estrada
— o que é bastante provável — restará ao prefeito aproveitar a experiência e
abrir um posto de combustíveis. Ao menos, clientela não faltará: a política
rondoniense é especialista em queimar combustível à toa.
BURAREIRONo fim da década de 70, com os programas de colonização militar em Rondônia, o governo decidiu despejar multidões de colonos vindos do Sul