Terça-feira, 23 de agosto de 2022 - 06h17

Hoje, um menino, uma menina, foi-se pra sempre, de nós.
Menino, menina, porque a vida prometia ser longa.
Como será longo seu destino, até nos encontrar de novo - e
irá.
É muito triste falar disso, mas escrever é pior, porque é
você sozinho.
Nós pensamos um milhão de coisas, ouvimos suas vozes.
Todo mundo fala.
- menos ele.
-- talvez tenha falado, ninguém ouvido, aí se foi.
Minha maior tristeza é não ter chegado antes, ou até no
minuto final, porque com certeza não teria acontecido.
- consegui parar antes de começar, faria de novo.
-- ou lutaria muito pra não acontecer.
A idade prepara você para as perdas, nem sei quantas tive,
menos para essas.
- essas pouco avisam.
-- mas, se pouco avisam, é exatamente para os poucos avisos
que devemos dar atenção redobrada.
Você quer saber se já pensei sobre isso?
Com certeza.
Compartilho com vocês os pensamentos iniciais desse menino,
menina: será que vou agora ou depois?
Resolvi ir depois.
Tinha um milhão de "possíveis razões" pra partir
antes da hora.
Hoje sei que nenhuma era válida, não pertenciam a mim.
O que mudou minha rota eu não sei.
Só sei que vou quando não mais puder ficar.
É a primeira vez que conto isso, e penso que seja na
esperança de que ninguém tente ir antes do seu tempo.
Sou "meio que" sobrevivente, e o tempo de
escrever aqui não é pra mim.
É para esse menino, menina, tanto faz, que foi quando não
deveria ter ido.
Não importa aqui a descrição de quem era, como vivia. Até
pra não estimular os ranços, os estigmas.
A minha pergunta é e sempre será a mesma: porque somos tão
errados que não vemos pessoas tão boas?
Não vemos as pessoas boas, com tanta indiscrição, que elas
preferem partir antes da hora.
O que vemos, no fim da história, é quem restou: nós.
Somos nós que não atuamos, não unimos, não amamos.
Nós somos apenas pequenos nós, de nós mesmos, despejados
uns nos outros.
Com tanta gente que conheci - e, sinceramente, gostaria de
desconhecer -, esse menino, menina, ao conhecer, me faria mais humano: humilde
diante da vida.
Tenho poucos encantos, mas um presente de Ogum foi meu
visual: a deficiência física que remove minhas montanhas, todos os segundos do
dia.
Tenho certeza de que se esse menino, menina, me visse,
tivesse só uma aula, uma conversa comigo, sua história seria outra.
Por uma razão simples: eu não desisto, não desistiria dele,
dela, e nem permitiria que desistisse.
Estou muito emocionado, pelo fato, obviamente, mas, mais
ainda, pela impotência.
Nós, humanos, temos que nos resgatar.
Estamos no limbo.
Hoje se foi um menino, uma menina, um múltiplo, uma
grandeza que não conhecemos.
Porque somos limitados e limitadas a um só.
Quem mais perdeu fomos nós, traçados, travados, pelo sim e
não.
Eu perdi, porque não o/a conheci. Mas, todos nós perdemos,
limítrofes na conta binária do zero e do um.
O que quero dizer de fato é que, não nos deve interessar o
que ele, ela, fez. Mas, o que nós não fizemos ou desfizemos pra chegarmos nesse
poço.
Usei "mas" em demasia sim, mas foi mais pra somar
nossos erros e culpas.
Esteja onde estiver, me procure na próxima vez.
Sempre haverá mais uma vez.
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