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Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Minha emoção


Minha emoção - Gente de Opinião

        Pode ser voz corrente para muita gente, desse tipo que passa pela vida, mas, para mim, é corrente apenas a emoção que sinto cada vez que leio uma parte desse livro. Fico emocionado a cada página, com o diário de mulheres e de crianças pobres e famintas e, por isso, leio a conta gotas. Não é algo que consiga ler em disparada, como costumo fazer com qualquer outro tipo de leitura.

          Esse é o poder de provocar empatia quando se lê a verdade sobre a realidade e as pessoas que movem esses moinhos do sofrimento nacional. Aliás, se você buscar relatos do século passado, como Vidas Secas de Graciliano Ramos, verá que pouco mudou. Verá também que Quarto de Despejo não é romance, é um Diário – um relato diário da vida nua e crua de quem passa fome.

          Como escrevi em outro lugar “só ama quem já amou” e, em referência ao Diário que conta as lutas diárias de Carolina de Jesus e seus filhos famintos, só promove Interação Social quem tem empatia. Não são sentimentos que se fabricam, nem se compram, como ocorre com os prêmios do orgulho egoísta, da honra nervosa, da vaidade poderosa.

A Interação Social pode ser escalonada, com reflexões instigadas, provocando mudanças sociais aprofundadas, porém, a empatia é aquela própria, naturalmente nascida do amor, de quem ama porque já amou antes. Não são de escalas diferentes, nem pertencem a níveis diferentes; são de origens e de natureza diversas. A empatia é humanamente natural a Carolina de Jesus, também poderia ser da sua “literatura da vida” – como no “jornalismo literário” –, enquanto a Interação é sociológica. Carolina de Jesus não faz Sociologia, ainda que provoque uma análise social, uma crônica por políticas públicas de combate à fome.

      “Já estou na maturidade, quadra que o senso já criou raízes...Os favelados aos poucos estão convencendo-se que para vier precisam imitar os corvos[1] 

Carolina de Jesus manifesta o amor, ainda que à sua volta só haja dor.



[1] CAROLINA Maria de Jesus. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014, p. 40-41.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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