Quarta-feira, 29 de outubro de 2025 - 17h38

O leitor terá a seguir apresentação
do mais recente livro de Vinício Carrilho Martinez, professor titular da
Universidade Federal de São Carlos. Acessível no link abaixo, na versão
impressa e digital – ao preço de um dólar:
MARTINEZ, Vinício Carrilho. *Educação e
Sociedade*: Sociologia Política da Educação. São
Carlos: Amazon, 2025. Disponível em: https://www.amazon.com.br/dp/B0FXSXHN7R.
.......
APRESENTAÇÃO – Sociologia Política
da Educação
Educação, política e emancipação
social; a articulação entre esses três é o cerne deste livro. Trabalho
intelectual de grande fôlego, esta obra constata que vivemos sob a constante
ameaça de um Estado de Exceção normalizado, no qual a aparência de democracia oculta
práticas excludentes e autoritárias. A despeito das potencialidades da
Constituição Federal de 1988, o autor afirma que a democracia brasileira
permanecerá incompleta e vulnerável enquanto não houver uma autoeducação das
massas exploradas, que desdobre em uma revolução cultural.
Resultado de pesquisa de
pós-doutorado do autor Vinício Carrilho Martinez, a reflexão apresentada nas
páginas a seguir recupera a essencialidade da consciência crítica e coletiva
prevista por Paulo Freire – uma autoeducação voltada à descompressão, concepção
basilar desta obra. Como sinalizado no prólogo pelo supervisor da pesquisa,
Prof. Marcos Del Roio (UNESP/Marília-SP), o livro transita entre a Filosofia da
Educação e a Filosofia do Direito.
Martinez apresenta desde o início o
problema que será o fio condutor do livro: a tensão entre autonomia e
institucionalidade. Dentro de uma estrutura em que a institucionalidade é
mantida pelo Estado com a limitação da liberdade, a autonomia é condição para a
humanização. O que se propõe é um olhar dialético sobre esse paradoxo,
argumento apresentado na Introdução da obra. É central, desde já, o papel da
autoeducação política como instrumento de libertação: contra as estruturas
externas e objetivas de opressão e contra o opressor interno que cada um
carrega dentro de si. A descompressão é um movimento paralelamente social e
subjetivo.
A Parte I – Da dinâmica e dos
processos investigativos, traz o questionamento: “Se toda regra tem uma
exceção, qual a regra da exceção?”. À luz dessa questão, Martinez afirma que no
Brasil contemporâneo o Estado de Exceção tem se configurado como um modo
recorrente de governar, a exemplo do golpe sofrido pela presidenta Dilma
Roussef em 2016 e a tentativa de golpe de Estado de 08 de janeiro de 2023 –
expressões da exceção mascarada, dissimulada de legalidade. O contraponto é uma
educação para descompressão – antirracista, antifascista e constitucional.
Inspirada na educação libertadora de Paulo Freire, uma educação orientada à
justiça social, à igualdade e à equidade, um caminho para a negação da negação,
que recuse a “normalização da exceção”.
Os capítulos seguintes da Parte I
dialogam fortemente com Freire, tanto em Pedagogia do Oprimido quanto em
Pedagogia da Autonomia. Assim, a educação como prática de liberdade, que
promove a transição da ingenuidade à criticidade, se contrapõe à prática de
dominação característica da educação bancária. A autoeducação política proposta
por Martinez é um processo histórico e coletivo, asserção que se sustenta na
máxima freireana de que “ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os
homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Na mesma via, retoma-se o
“medo à liberdade” para aprofundar a ideia de uma educação para além da
exceção.
Na seção Da Institucionalidade o
autor discute a questão da legitimidade: institucionalidade e normalização são
distintos, a primeira pode ser tanto instrumento de dominação quanto de
justiça, dependendo de quem a exerce e em nome de quais juízos. Não são nas
elites nem nas burocracias de Estado que se encontrará essa legitimidade, nem
nas novas formas de dominação capitalista (uberização, precarização das
relações sociais) que reproduzem o Estado de Exceção (sob aparência de
normalidade democrática). Aqui a potência do livro de Vinício Carrilho
Martinez: a reflexão teórica até então apresentada conduz à constatação de que
é nas classes subalternas, nos sujeitos oprimidos que lutam pela própria
descompressão, que se encontrará a legitimidade.
A Parte II – A insubmissão: o desejo
incontrolável pela liberdade traz outro tronco de autores para debater as
possibilidades de resistência e emancipação. Inspirado na hegemonia proposta
por Gramsci, Martinez defende que a luta pela descompressão passa, acima de
tudo, por uma organização política e revolução cultural que corporifique o povo
– negro, pobre, oprimido – em torno de um projeto político. O eixo nesta parte
do livro é a constituição de uma nova subjetividade política; é a síntese do
sentido político da obra como um todo: só com auto-organização, consciência
crítica e práxis que se alcançará a emancipação. Nesse processo, a educação é o
próprio campo de batalha da transformação social (simbólico e material).
O que o leitor tem diante de si é
uma escrita densa, as vezes ensaística, mas sempre firmemente compromissada
ética e politicamente com os grupos subalternos. O conceito de autoeducação
política para a descompressão proposto por Vinício Carrilho Martinez carrega
sua originalidade na integração entre as dimensões estruturais, institucionais
e subjetivas da opressão. Ainda, a crítica à “normalização da exceção”
possibilita uma análise incisiva da democracia contemporânea.
Em Sociologia Política da Educação
desvela-se a permanência do Estado de Exceção como regra. O diagnóstico central
do autor ilumina, dentre tantos outros casos, a chacina no Complexo da Penha,
no Rio de Janeiro, que ocorreu em outubro de 2025. O massacre foi justificado
como “combate ao crime”, o extermínio entendido como rotina administrativa e a
violência do Estado contra corpos negros e pobres naturalizada. É a legitimação
da morte sob a forma da lei, a normalização da exceção, que Martinez denuncia e
propõe enfrentar a partir da educação política e da consciência crítica.
Portanto, esta obra não é apenas um tratado teórico, mas um apelo ético à
resistência e à reconstrução da democracia a partir das margens.
Boa leitura.
Tainá Reis.
Doutora em Sociologia.
Docente da Universidade do Estado da
Bahia
Quinta-feira, 30 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)
Ela pensa? - a inteligência desumana
Tanto fizemos e desfizemos que, afinal de contas, e ainda estamos no início do século XXI, conseguimos produzir uma inteligência desumana, absolutam

Pensamento Escravista no Brasil atual
Esse texto foi pensado como contribuição pessoal ao Fórum Rondoniense de Direitos Humanos – FORO DH, na fala dirigida por mim na mesa Enfr

Ensaio sobre Capitalismo digital e Tecnofascismo
Veremos um pouco da junção entre os termos que compõem o conjunto do título, e, mais do que um conceito para cada um deles, buscamos ressaltar algum

● “Mas o povo não está interessado nas eleições, que é cavalo de Troia que aparece de quatro em quatro anos” [1]. Lendo assim, apenas esse reco
Quinta-feira, 30 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)