Vinício Carrilho

Terça-feira, 30 de julho de 2024 - 08h16

Dois poemas concretos que se ligam, no que se perdeu, não mais havendo - especialmente o que poderia ter sido.

Por Vinício Carrilho Martinez

1. A-nastásia

Anastácia

Não é santa

Não é sacra

Não é "homo"

Anastásia

A-nastásia

Acondicionamento

Anestésico

Adormecimento

Arrefecimento

Atordoamento

Atropelamento

A-nastásia...

Da Utopia, que você não foi, à sua negação.

A-nastásia, da Casa Grande à Senzala, e daí ao "seu" quartinho de empregada...da sua empregadora.

A-nastásia

Eutanásia moral

Stasi

Servil

Nem viva, nem morta

É a sua punição

Sua suspensão

Está suspensa do mundo

Expulsa da vida

Servil, você serviu

- já não serve mais

Anastácia

Filha da eugenia

Na sua Stasi, "a-" sua negação não tem dúvida

A-nastásia...

O seu homo sacer não está

É você

O homem lobo

2. 2020 - Quando não temos

Odisseia sem Homero

Nada homérico

O que lembramos

O que lembram?

Quem não tem...

O que perderam?

O que não veio?

Perdemos a nós

- Perdemos todo dia

Perdemos toda hora

Mantemos pouco

- um pouco se foi

- de todos

- todas perderam mais

Quem se achou?

- perdas

- sem perdão

Perdido, é difícil se achar

Perdida, ela precisou encontrar

Não queria ter

Queria estar

E quem está hoje?

Tudo mudou

Pouco ficou

Não somos achados

Perdidas, elas se encontram

- se encontraram

- não havia alternativa

Mas também se perderam

- no mundo ruim

Se não havia paz

Agora só há guerras

- e todo mundo com suas guerras

No ano perdido

Vidas perdidas

Nos perdemos

Não amamos como ontem

O tempo passou

A certeza é perene

O amor imperfeito

Ausente

Muito mais do que inconstante

Menos humanos

Humanos menores

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