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Vinício Carrilho

7 de Setembro Pesquisas sobre o Brasil


Vinício Carrilho Martinez - Cientista Social  - Gente de Opinião
Vinício Carrilho Martinez - Cientista Social

O que as tais pesquisas eleitorais, agora tão recorrentes, realmente revelam sobre o Brasil?

Mais do que as inclinações do(a) eleitor(a), as pesquisas falam sobre o que somos: qual é o Espírito do povo, neste momento (2018-2022)?

É óbvio que indicam pistas sobre o fenômeno do Bolsonarismo – em si, um traço cultural, de humanidade ou desumanidade, da moral ou da imoralidade, que abriga a mentalidade de mais de um terço da população: armas, desmatamento, lavagem de dinheiro, crença num Deus que se manifesta em plantas. Revela, ainda, que outro tanto – mais de um terço do povo – não aceita tais valores; essa parcela (aparentemente a maioria) quer saúde, educação, trabalho, paz e cultura. Tem algum miolo, entre os dois extremos, que é nem-nem, nem aí para o país, nem aí para si mesmo, nem aí para a civilização ou para a barbárie social: votos nulos, branco e abstenção – sobretudo.

O que, então, essa simples lógica de tripartição política diz sobre nós enquanto povo? 

Diz que nosso povo, em sua imensa maioria (90%), luta pela vida todos os dias, passa fome, não tem serviços públicos adequados, muitas vezes vivem embaixo de pontes e viadutos, temem a polícia como resistem à morte anunciada pelo esculacho. 

Na outra ponta estão os 10% (ou um por cento) que detém o resto dos prazeres, segurança e felicidade social, ou seja, dependendo de quem olha (ou como olha), ver-seá que uma ínfima parcela social é dona, proprietária, de metade da riqueza nacional. 

O Produto Interno Bruto (PIB) não é do país, nem do Estado e muito menos do povo; o PIB reside na Avenida Paulista, na Faria Lima ou nos sertões desérticos do agronegócio.

Uma das maiores mentiras já contadas atende pelo pseudônimo de “renda per capta” – soma-se toda a grana e se divide pelo número de indivíduos, como se todos recebessem o mesmo –, tal qual o tal PIB que, certamente, está pouco se lixando para a fome e a morte por desnutrição de milhares de crianças pobres e negras.

O auxílio emergencial destinado à compra de votos, por exemplo, não encontrou recursos no tal PIB e muito menos no agronegócio. O auxílio emergencial e outros que tais alimenta-se dos dinheiro provindo da privatização da Eletrobrás e dos dividendos (rendimentos) auferidos pelas maiores empresas públicas, listadas na Bolsa de Valores (B3).

As pesquisas indicam, por fim, que 2023 – seja qual for o resultado do processo eleitoral: recondução, defenestração, golpe – será muito difícil: para quem governa, para os 99% do povo. Aquele um por cento de abnegados, muito ricos, milionários ou bilionários nunca estiveram nem aí para o preço do leite, do doce da criança ou da cesta básica. São os que sempre ficaram muito mais ricos com a inflação, em outro exemplo – ou com a deflação também.

O preço da cesta básica só interessa ao pobre, pois é só o pobre que faz conta de chegar quando vai ao supermercado – que retira produtos do carrinho, porque não tem como pagar –, isso é certo. Porém, errado está essa mesma pessoa que ameaça depositar seu voto neste grupo de poder que nos trouxe a esse caos, que relegou aos pobres o osso de segunda, a bandeja com pele de frango.

Nunca, jamais, na história desse país – em que nós estivéssemos presentes –, imaginamos ter que escrever algo desse gênero: uma crônica do desespero social, humano. E se você quer uma fórmula sociológica que nos contenha, nesse estágio do descalabro social, pense que nem a literatura da ficção mais surreal – de Gabriel Garcia Márquez – poderia nos recontar. Mas, numa corruptela, diga-se que somos o resultado social do realismo trágico. Nem Graciliano Ramos, nem Machado de Assis, definitivamente, estamos para além de tudo na imaginação sórdida.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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