Sexta-feira, 26 de junho de 2015 - 11h37
Em Machadinho do Oeste é cada vez maior a possibilidade
de confronto armado pela posse de terra
Deputados que integram a comissão especial da Assembleia Legislativa formada para intermediar o conflito entre trabalhadores rurais e invasores de terra em Machadinho do Oeste foram hostilizados por pessoas que se intitularam dirigentes do Movimento Camponês de Rondônia (MCR). Os parlamentares foram até a área invadida na tarde da última quinta-feira (25), encontraram a porteira fechada com cadeado e foram impedidos de entrar para tomar depoimentos.
Assim que os deputados Ezequiel Júnior (PSDC), Alex Redano (SD) e Dr. Neidson (PTdoB), acompanhados de assessores, chegaram ao acampamento dos invasores, estranharam a estratégia utilizada pelos sem terra. Eles recorreram a uma conhecida tática de guerrilha, a de colocar crianças à frente do grupo. A dura conversa foi conduzida por um cidadão bem vestido, que usava óculos Ray-ban e não tinha a menor aparência de trabalhador rural.
O homem, que se intitulou um dos líderes do MCR, disse que os deputados não tinham nada a fazer no acampamento, porque tinham ouvido primeiro os trabalhadores rurais. Ele tentou impedir a assessoria de filmar a conversa, embora tivesse determinado a dois sem terra que registrassem as cenas através de celulares.
Ezequiel Júnior disse que o grupo estava perdendo a oportunidade de explicar a versão do MCR. “Ouvimos os trabalhadores rurais, e eles se identificaram. Também viemos ouvir vocês. Na verdade é difícil saber com quem estamos tratando, porque o movimento de vocês não tem registro legal”, explicou o parlamentar.
O líder dos invasores, em tom truculento, disse que o grupo tem em seu favor decisão judicial e que não precisa dar explicações a ninguém. Irritado porque a filmagem não foi interrompida, passou a gritar e a exigir o nome dos jornalistas que acompanhavam a dura conversa.
Posteriormente, os deputados Dr. Neidson e Alex Redano disseram que é preciso agir com celeridade, porque existe o risco de haver derramamento de sangue no local, porque os sem terra são acusados de atear fogo, na última quarta-feira (24), na sede e no curral da fazenda de Olendino Ninke, mais conhecido como “seu Dino”, proprietário da área invadida. Alguns trabalhadores rurais se disseram dispostos a retirar os invasores “no braço”, se for preciso.
Entre Rios
Às 14h de quinta-feira os deputados foram até a comunidade de Entre Rios, oficialmente denominada MA 28, a 70 km de Machadinho, perto da fronteira com o Mato Grosso, onde conversaram inicialmente com trabalhadores rurais. A equipe de taquigrafia gravou e tomou nota de tudo o que foi dito. Os trabalhadores acusaram o Incra de fomentar a invasão. O instituto fornece cestas básicas para os sem terra, que são divididas com os bem vestidos líderes do denominado MCR.
Ezequiel Júnior, que preside a comissão de parlamentares, abriu a reunião explicando que a comissão da Assembleia Legislativa buscava uma solução pacífica para o problema, por isso iria ouvir trabalhadores rurais e invasores. Ele pediu calma aos proprietários de terra, explicando que é necessário evitar derramamento de sangue.
O vice-presidente da comissão, Alex Redano, disse que em sua visão não é justo que pessoas que chegaram à região quando ninguém queria vir sejam colocadas para fora por um grupo de sem terra. O deputado explicou que o mais estranho foi a suspensão do cumprimento da liminar expedida pela Justiça Federal, decisão tomada em Brasília.
A retirada dos invasores já havia sido determinada pela Justiça Federal, em Rondônia. Deveria ter acontecido na quinta-feira (25). O proprietário da terra teve que alugar um ônibus para que os policiais militares que retirariam os ocupantes fossem até Entre Rios. Acontece que às 00h20 de quinta-feira uma desembargadora federal substituta, em Brasília, suspendeu o cumprimento a liminar.
“Está na cara que tem gente poderosa por trás disso. Com o Fórum fechado, alguém foi de madrugada até a casa de uma desembargadora em Brasília e conseguiu uma decisão suspendendo o cumprimento de uma liminar. É força política. Querem dar terra produtiva a um pessoal que chegou à região agora”, disse Alex Redano.
O deputado Dr. Neidson disse que o povo de Machadinho do Oeste está de parabéns por ter elegido Ezequiel Júnior. “O Ezequiel denunciou essa situação na Assembleia Legislativa e alertou para o risco de um confronto armado. Estamos vendo que esse risco existe”.
Segundo Dr. Neidson, está claro que os trabalhadores rurais não devem entregar terra produtiva aos invasores. “Mas peço que a situação seja resolvida pela via legal. A Assembleia Legislativa pode intermediar essa questão, porque esse caso é grave”, acrescentou.
Ezequiel Júnior disse que o próximo passo é marcar uma reunião com dirigentes do Incra. “Se entendermos que o Incra está fazendo corpo mole, vamos acionar a bancada federal de Rondônia. Não podemos permitir que vidas sejam perdidas em um confronto”, detalhou.
Depoimentos
O primeiro a ser ouvido pela comissão especial da Assembleia Legislativa foi o presidente do Sindicato Rural de Machadinho do Oeste, Leomar Patrício. Ele disse que os invasores se instalaram em uma área produtiva, pertencente ao “seu Dino”, e que na iminência de serem retirados atearam fogo na sede da fazenda e também no curral.
Ele explicou, ainda, que o dono da terra teve que pagar o deslocamento da Polícia Militar até Entre Rios para retirar os invasores, mas a desocupação acabou não acontecendo. O presidente do sindicato disse que a fazenda é maior do que as pequenas propriedades, mas pertence à família de “seu Dino”, que trabalha a terra com ajuda de seus filhos.
Onilto Carvalho de Araújo, mais conhecido como “Velho do Baú”, disse estar na área há 12 anos, explicando que contraiu malária diversas vezes. “Agora o Incra quer tirar a gente daqui. Depois de todo o esforço para trabalharmos a terra. Querem dar área produtiva a outras pessoas”, reclamou.
O proprietário da fazenda Ferradura, Cláudio Francisco, questionou o papel da Justiça. “Após muita luta a Justiça determina a desocupação da área. Depois, de repente tem uma decisão parando tudo. Que Justiça é essa?”, questionou.
Nelson de Oliveira, mais conhecido como “Nelson da Balsa”, disse que chegou à região há 14 anos e foi incentivado pelo Incra e tomar posse de alguma das áreas que estavam desocupadas, mas não concordou. “Tinha famílias abandonando as terras dadas pelo Incra, porque estavam desassistidas. O instituto abandonou esse pessoal. Mas não quero o que é dos outros, por isso comprei um pedaço de terra”, destacou.
Ele se disse indignado com o governo federal, que está distribuindo cestas básicas aos invasores. Para Nelson da Balsa, isso é incentivo a ocupações e à violência no campo. Ele foi o primeiro a dizer o que seria o pensamento de diversos trabalhadores rurais. “Se não for tomada uma providência é capaz de muita gente ser enterrada aqui. Não vamos permitir que tomem nossa terra”, afirmou.
O proprietário da fazenda Mulambaia, Daniel Alves Ferreira, disse ter ouvido funcionários do Incra admitindo que o instituto está incentivando a invasão. “O Incra dá comida para esse pessoal. O instituto protege esses invasores. Essa terra é produtiva, querem tirar o que é nosso por direito”, detalhou.
Ele também acabou expondo o que muitos trabalhadores rurais da região têm dito. “Vamos fazer que nem os sem terra. Vamos apertar o cerco. Se a Justiça não resolve, nós mesmos vamos resolver. Nós mesmos vamos retirar esses invasores de nossas propriedades”, destacou.
Após os depoimentos mais inflamados, o deputado Ezequiel Júnior pedia calma aos trabalhadores rurais. O parlamentar alegava que o melhor caminho é o Incra comprar uma área e colocar os invasores, ou encontrar uma área que não seja produtiva para promover um assentamento.
Explicação técnica
O advogado Elias Estevão, que também é produtor rural, agradeceu a atitude dos deputados e disse que não há como concordar com a invasão. “Se os sem terra podem tomar terra dos outros, os sem dinheiro também podem tomar dinheiro de quem tem. Disponho-me a explicar tecnicamente o que está havendo aqui”, enfatizou.
Ele contou que o proprietário da terra invadida recorreu à Justiça e conseguiu uma liminar determinando a desocupação. Segundo ele, depois disso o Incra entrou no meio, alegando que a terra não era de ninguém, e sim do próprio instituto, e levou a questão para a Justiça Federal. A liminar foi mantida, mas a Polícia Militar fez um estudo e lembrou que o juiz federal não determinou onde os invasores deveriam ser colocados.
“Não adiantava que eles ficassem perto daqui, porque invadiriam outra propriedade. Então o juiz determinou que eles deveriam ser colocados em uma área distante 70 ou 90 km daqui. A decisão deveria ser cumprida no dia 25, por isso no dia anterior os sem terra incendiaram a sede e o curral da fazenda invadida. Depois de meia noite, uma desembargadora federal, em Brasília, suspendeu o cumprimento da decisão. Não tenho dúvida de que o Incra colocou aquele pessoal lá (na área invadida). Como acordaram uma desembargadora para dar uma decisão dessas, com o Fórum fechado?”, indagou o advogado.
Confusão
Enquanto os deputados ouviam os trabalhadores rurais na localidade de Entre Rios, um sem terra chegou ao local e tentou ouvir o que estava sendo dito. O clima ficou tenso, com os participantes mandando que ele se retirasse. Policiais militares encarregados da segurança dos deputados e dos servidores da Assembleia Legislativa não chegaram a intervir porque o sem terra se retirou.
Depois de tomar os depoimentos dos trabalhadores rurais os parlamentares foram até o acampamento dos invasores, que se negaram a conversar. Os deputados disseram que, apesar do clima hostil por parte dos sem terra, recomendariam ao Incra que encontrasse uma área onde eles possam ser colocados.
Fonte: Nilton Salina
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