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Passado o segundo turno das eleições, o Brasil acorda nesta segunda-feira em uma situação inédita. Em vez de garantir que o presidente eleito cumprirá suas promessas de campanha, muitos de seus apoiadores tentam nos convencer de que ele apenas exagerou na retórica e jamais colocará em prática algumas das medidas que anunciou.


Também chegamos pela primeira vez nas últimas décadas à escolha de um presidente que durante sua campanha se esquivou de perguntas cruciais sobre seu plano de governo. E que optou por canais exclusivos e diretos de comunicação com seu eleitorado, protegendo-se da exposição pública e do escrutínio da sociedade, inclusive da imprensa.

Entre as promessas de campanha que seus apoiadores afirmam ser “da boca para fora” – desde banir ou prender opositores de esquerda a alterar a Constituição de 1988 –, o então candidato do PSL afirmou em alto e bom som que impediria fiscais de órgãos ambientais de autuarem infrações de proprietários rurais e que não permitiria a continuidade da demarcação de terras indígenas, além de outras juras proferidas em palanques.

Algumas delas já foram acenadas por ele como em revisão, como a retirada do Brasil do Acordo de Paris e a incorporação do Ministério do Meio Ambiente ao da Agricultura.

O próprio jornal paulistano O Estado de S. Paulo, que não é nem de longe um arauto do ativismo no qual o então candidato prometeu “botar um ponto final”, nesta segunda-feira, em seu editorial “Salto no escuro” afirmou que o eleitor escolheu Bolsonaro sem ter a mais remota ideia do que ele fará quando estiver na cadeira presidencial. Não é um bom augúrio, justamente no momento em que o País mais precisa de clareza, competência e liderança.

Faz parte das regras do jogo democrático respeitar o resultado de eleições. Ontem à noite, o Tribunal Superior Eleitoral divulgou que informou que, com 94,44% das urnas do país apuradas, Jair Messias Bolsonaro, da coligação PSL-PRTB, obteve 55.205.640 votos, correspondendo a 55,54% dos votos válidos, contra 44.193.523 de Fernando Haddad (PT/PC do B/PROS), equivalentes a 44,46% dos votos válidos.

Faz parte também das regras da democracia os governantes respeitarem a atuação da imprensa. Mas isso o presidente eleito tem demonstrado não compreender. Assim como em outros países, aqui no Brasil o Código de Ética dos Jornalistas estabelece que é dever da profissão “divulgar todos os fatos que sejam de interesse público” e veda “frustrar a manifestação de opiniões divergentes ou impedir o livre debate”.

Em função dessa deontologia da profissão, escritores como George Orwell (1903-1950), publishers como William Randolph Hearst (1863-1951) e Katharine Graham (1917-2001) e até nosso saudoso escritor, humorista e cartunista Millôr Fernandes (1923-2012),* entre outros, legaram para a posteridade a compreensão de que fazer jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que seja divulgado – o resto é propaganda.

Tivesse Haddad sido o vencedor da disputa eleitoral, um editorial mais ou menos semelhante a este estaria sendo publicado. Inclusive porque faz parte do programa de governo da coligação PT-PCdoB-PROS a proposta de um marco regulatório para a comunicação social, cuja criação, apesar da afirmação do respeito à liberdade de expressão, exigiria forte vigilância da sociedade contra algumas tendências dentro da esquerda que já se mostraram interessadas no controle da imprensa.

É perfeitamente legítimo governantes reclamarem da imprensa. O presidente eleito não é o primeiro a reclamar da cobertura jornalística de sua campanha eleitoral. Mas sua retórica inflamada foi muito além disso, chegando até à tentativa de intimidação de veículos de comunicação.

Direto da Ciência respeita o resultado das urnas e faz votos ao governo do presidente eleito que tenha sucesso na solução dos graves problemas que afligem o Brasil. Mas, em que pesem as declarações contra a imprensa e estar a sociedade cada vez mais absorvida pelo entretenimento em detrimento da informação, este site não recuará de seu dever de informar e criticar no âmbito do interesse público nas áreas de ciência, do meio ambiente e do ensino superior.

* “Jornalismo é oposição. O resto é secos e molhados. (Millôr Fernandes)

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