Terça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Por que não vou ao Baile Municipal, de máscara


 

Ariel Argobe (*)

 

Quero, de público, agradecer o gentil convite da Fundação Iaripuna para participar do Baile Municipal de Carnaval. Inúmeras razões, no entanto, impedem-me de participar desse certame cultural que traduz um aspecto importante da alma do povo brasileiro. Elencarei, aqui, apenas alguns argumentos que entendo coerentes o suficiente para impedirem-me de participar desse evento momesco. Antes, porém, faz-se necessário trazer à luz, brevemente, a história dos bailes de máscaras.

Os Bailes de Máscaras, também chamados de Bailes à Fantasia ou 'Bals Masqués', foram os eventos precursores do carnaval moderno no Brasil. Importados pela elite carioca para fazerem frente ao conjunto de brincadeiras conhecido como entrudo, os bailes marcaram a adesão da nova burguesia capitalista à folia e a incorporação ao carnaval brasileiro do luxo e sofisticação característicos das festas de Paris e Veneza, como nos informa Felipe Ferreira, em O livro de ouro do carnaval brasileiro.

Combatido – como inúmeras outras manifestações populares –, o entrudo não chegou até nós. São, no entanto, resquícios dessa brincadeira a pipoca do Carnaval Axé e os blocos de sujo, cujo exemplar mais vivo em Porto Velho não ocorre no Carnaval, mas na virada do ano. Refiro-me ao Mistura Fina. E, no passado, o histórico Bloco da Cobra e o Bloco do Valdemar Cachorro, dentre tantos outros igualmente representativos.

No que diz respeito ao alcance popular, ao acesso democrático e ao repertório musical, claramente norteado para valorizar, salvaguardar e perpetuar as marchinhas de carnaval – um verdadeiro patrimônio cultural nacional – temos um conjunto de históricos cordões carnavalescos. Compõem este leque, a Banda do Vai Quem Quer, e os blocos Galo da Meia-Noite, Rio Kaiari, Pirarucu do Madeira, Coruja, Calixto & Cia, dentre outros.

Não é absurda a possibilidade de vermos desaparecer das ruas e avenidas de Porto Velho todo este patrimônio imaterial. Concepções e posturas preconceituosas de alguns setores oficiais, opções pelos eventos elitistas e excludentes e a histórica falta de compromisso dos nossos gestores públicos para com as manifestações populares são, sem dúvida alguma, uma ameaça à continuidade do nosso carnaval de rua.

O evento intitulado "Baile Municipal 2007: Resgatando a Tradição" expõe claramente o formato da nova-velha concepção de política municipal para a cultura. Trata-se, de onde vejo, de uma ação eventualista, festiva, elitista e excludente, considerando que a proposta contempla apenas seleto público. Exclui o agente cultural, o artesão, o figurinista, o serralheiro, o marceneiro, a costureira, o passista, o ritmista e, enfim, todos aqueles e aquelas que constroem - segundo alguns especialistas - a oitava maravilha do mundo moderno: o popular carnaval brasileiro.

Do baile apregoado como instrumento revitalizador de tradições – e é bom sublinhar que nem tudo que é tradicional é democrático –, até onde conheço a proposta, escapam-lhe três palavrinhas mágicas que norteiam qualquer atitude das administrações posicionadas à esquerda dos discursos e das práticas: inclusão, cidadania e democracia. Por estas e outras razões – inclusive porque se acena com a intenção de realizar um outro evento assemelhado, em local aberto para população de baixa renda e excluída do baile oficial, assentando, desta feita, a ação pública na vala do Apartheid sociocultural – não posso e não devo concordar com esse evento. Não defendo e nem acredito nessa ação como política pública eficaz e com possibilidades de consolidação da democracia cultural. Com todo respeito, declino o convite para participar do Baile Municipal. Como de costume, na sexta-feira, marcarei presença nos ensaios das Escolas de Sambas Asfaltão, Armário Grande, São João Batista e nos Blocos Calixto & Cia e Rio Kaiari, cordões carnavalescos populares e democráticos. E, mantendo a prática, farei penúltima escala no Reggae do Bairro JK e, por derradeiro, uma breve passagem no queridíssimo e animado Paposo. Nesse circuito nos encontramos.

(*) O Autor é artista plástico e carnavalesco, foi o 1º presidente da Iaripuna

Gente de OpiniãoTerça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Quarta-feira (25), o Congresso impôs mais uma derrota ao governo do presidente Lula derrubando o Decreto que aumentava o IOF. O governo perdeu mais

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

O esquema que desviou bilhões de reais de contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi apenas mais um

O Congresso é culpa do eleitor

O Congresso é culpa do eleitor

          O Congresso Nacional do Brasil é, óbvio, o Poder Legislativo e é composto por 513 deputados federais e pelos 81 senadores da República. Es

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

Em Diálogo com Platão, Jung e a Trindade num Contexto do Sexo como Ritual sagrado A humanidade é um rio que corre entre duas margens: a espiritualid

Gente de Opinião Terça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)