Sábado, 5 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Os jovens e as questões sociais


Agência O Globo Por Engel Paschoal* Apesar de batida, a frase "a juventude é o futuro da nação" exprime uma verdade. Incontestável, a lei da vida determina que os jovens assumam os papéis e os demais saiam de cena. Os constantes problemas com a educação já seriam suficientes para nos alarmar quanto ao futuro. No entanto, pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) veio botar mais lenha nesta fogueira. Realizado pela pedagoga e psicóloga Denise Tardeli, o estudo mostrou que "jovens engajados, lutando por uma causa comum, parecem artigo em extinção" (Jornal de Brasília, 4/9/06). Foram ouvidos jovens entre 16 e 18 anos, estudantes do 3º ano do Ensino Médio em escolas de classe média. Quando a pesquisa tratou da solidariedade de forma mais explícita, o resultado foi bastante negativo: "Os jovens manifestaram interesse em ajudar apenas alguém próximo, um parente ou um aluno bolsista do colégio que sofresse discriminação, por exemplo. Apenas 15% dos entrevistados manifestaram solidariedade, um índice muito baixo, de acordo com a psicóloga". A matéria citava Brasilmar Nunes, professor de Sociologia da Universidade de Brasília: "É necessário um número bem maior para formarmos adultos conscientes. A meninada perdeu os vínculos sociais. Crescem na frente de computadores, em condomínios fechados, shoppings e escolas particulares. Estão à parte da realidade do País. Vivem na cultura do individualismo. A era do idealismo onde os jovens eram engajados e lutavam por algo não existe mais. (...) Desde crianças, os jovens recebem de suas famílias e da sociedade influências sobre o que é bom e o que é ruim. (...) Bom seria usar roupa de marca, passear no shopping, morar no Plano Piloto e estudar em escola particular. Ruim é a periferia, o outro". De acordo com o professor, quando se aproximam da fase adulta, os jovens têm a preocupação de passar no vestibular e arranjar um bom emprego para sempre seguir o padrão do bom: "Por isso, não há preocupação com as causas sociais. O que há é um individualismo, uma naturalização das diferenças onde o jovem de classe média e alta cresce considerando-se normal". Há controvérsias. Em entrevista à revista Neurônio (26/2/05), Milú Villela, que tem marcante atuação na área social, disse: "É cada vez maior o número de jovens engajados à causa do voluntariado. Consolidar a cultura do voluntariado entre os jovens é preparar o País para um futuro melhor. Há inúmeros motivos para que olhemos o jovem como uma força transformadora. No Brasil, são milhões deles que se preocupam com as oportunidades de educação e emprego, que enfrentam no cotidiano as mesmas dificuldades e compartilham as mesmas esperanças. Querem mudar o mundo, buscam um país diferente, justo e igualitário". Mais adiante, Milú Villela completou: "O trabalho voluntário é sinônimo de liderança, transforma potencialidades em capacidades, competências em habilidades. O trabalho voluntário entre os jovens proporciona o enfrentamento de problemas reais na universidade, família e comunidade, a criação de espaços para a formação do mesmo. Uma proposta formativa que ajuda a conhecer a si mesmo e a descobrir novas habilidades". O Jornal da Unicamp (Universidade de Campinas, 15-21/9/03) mostrou os dois lados. Revelou que, para a dissertação de mestrado pela Pia Universidade Católica de Campinas, a psicóloga Viviane Melo de Mendonça Magro "foi conversar com grupinhos de estudantes das classes média e média baixa nas calçadas de uma escola pública da cidade. Encontrou adolescentes cooptados pelo consumo, acomodados, sem projetos claros de vida, ansiosos por festas, desesperançados frente às condições do País e distantes de um engajamento social e político". Segundo o jornal, então a psicóloga "foi até a periferia atrás de jovens engajados em projetos sociais, encontrando parte deles no hip hop, um movimento juvenil de periferia". E ali viu "adolescentes que procuram seu espaço enquanto agentes sociais, que lêem e pensam sobre o país e o mundo, e por isso capazes de formular questões significativas. 'Eles vivem uma situação de opressão e exclusão, sentem de perto o problema da violência e do tráfico, vêem amigos e parentes sendo assassinados', conta a psicóloga". Tentando mudar tal realidade, as meninas da Casa do Hip Hop "reúnem crianças e adolescentes em oficinas e projetos para falar sobre drogas, gravidez precoce e outros assuntos que lhes dizem respeito. Buscam financiamentos na prefeitura e negociam o apoio dos vereadores para estes programas". As discordâncias são importantes. Mas cabe a todos um alerta: é nossa responsabilidade contribuir para que os jovens sejam mais conscientes também em relação a questões sociais. ........................................................................ (*) Engel Paschoal ([email protected]) é jornalista, especialista em assuntos relacionados ao chamado Terceiro Setor, e realiza cursos e palestras sobre Responsabilidade Social. Este artigo somente poderá ser reproduzido ou publicado com autorização prévia do autor.

Gente de OpiniãoSábado, 5 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Perdeu Mané! Entre o Batom e a Foice

Perdeu Mané! Entre o Batom e a Foice

Há muitos anos, quando ainda era estudante de Direito, lembro de uma aula sobre a Constituição em que o professor nos desafiou: “A Constituição é pa

Reta final da corrida pela prefeitura de Porto Velho

Reta final da corrida pela prefeitura de Porto Velho

Estamos chegando na reta final da corrida pela prefeitura de Porto Velho. Apenas quatro dias nos separam do grande evento da democracia, quando vamo

"Ação ou Desperdício? Medidas de Combate a Incêndios em Rondônia no Contexto da Chegada das Chuvas"

"Ação ou Desperdício? Medidas de Combate a Incêndios em Rondônia no Contexto da Chegada das Chuvas"

Recentemente, o governo de Rondônia anunciou um conjunto ostensivo de medidas para combater os incêndios florestais no estado, incluindo a contrataç

“Isso é uma vergonha”

“Isso é uma vergonha”

Tivéssemos governantes verdadeiramente comprometidos com o bem-estar da população rondoniense é certo que a o desabastecimento de água na cidade de

Gente de Opinião Sábado, 5 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)