Terça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Opinião: Só o tempo entende


Opinião: Só o tempo entende  - Gente de Opinião

Era uma vez uma linda ilha, onde moravam muitos sentimentos. Um dia avisaram a todos os moradores dessa ilha que ia haver uma enchente e a ilha seria inundada. O Amor, preocupado, cuidou para que todos os sentimentos se salvassem. Ele gritava:

- Fujam todos! A ilha será inundada.

Todos correram e pegaram os seus barquinhos para irem a um morro mais alto. Só o Amor não se apressou, queria ficar mais um pouco em sua ilha. Quando já estava quase se afogando, correu para pedir ajuda. Estava passando a Riqueza, e o Amor disse:
- Riqueza, leve-me com você.

Ela respondeu: - Não posso, meu barco está cheio de ouro e prata e você não vai caber. Passou então a Vaidade, e o Amor pediu:
- Oh, Vaidade, me leve com você!

A Vaidade respondeu:

– Não posso, você vai sujar o meu barco! -. Logo atrás vinha a Tristeza.

– Tristeza, posso ir com você?

- Ah!...Amor, estou tão triste que prefiro ir sozinha. Passou também a Alegria, mas estava tão alegre que nem ouviu o Amor chamar por ela. Já desesperado, achando que ia ficar só, o Amor começou a chorar. Passou então um barquinho, onde estava um velhinho que gritou:
- Sobe, Amor, que eu te levo!

O Amor ficou tão radiante de felicidade, que até se esqueceu de perguntar o nome do velhinho. Chegando ao morro onde estavam os sentimentos, o Amor perguntou à Sabedoria:

- Quem era o velhinho que me trouxe?

- O Tempo – respondeu a Sabedoria.

– O Tempo?! – continuou o Amor – Mas por que só o Tempo me trouxe aqui?

– A Sabedoria finalizou: - Porque só o Tempo é capaz de ajudar a entender um grande Amor!

A moral da historinha é muito simples. Se é verdade que o tempo cura todas as feridas, porque nos faz esquecer coisas e pessoas, ou, ao menos, as afasta cada vez mais de nós, é também verdade que o tempo valoriza o amor. Amor passageiro é amor fraco. Talvez até de mentira, de fazer de conta. Veio, mas foi embora logo. Nada ou quase ficou. O amor verdadeiro desafia o tempo, não enfraquece, não desiste, não decepciona. Com certeza muda com o passar do tempo, mas nunca deixa de ser o que é: um grande amor.

Chegando ao final do ano, todos olhamos um pouco para trás. O tempo passou para todos e com a mesma rapidez. Para alguns, muito atarefados, voou; para outros, menos afobados, demorou a passar. Para os cansados da rotina, foi insuportável; para os curiosos, sempre atrás de novidade, não foi suficiente. Para todos reservou surpresas: horas alegres e horas tristes; horas de tédio e horas de ansiedade; horas de ânimo e horas de desânimo. Para todos foi um desafio: continuar a amar e a fazer o bem. Com certeza fomos tentados a desistir de amar, de ajudar os outros, de dar atenção a quem depois, talvez, falará mal de nós.

Por isso um grande amor somente será reconhecido pelo tempo. Porque é ao longo do tempo que sobrevêm as tempestades da vida. A casa construída sobre a areia cai, mas a casa construída sobre a pedra resiste a ventos e procelas. Também os acontecimentos do ano velho, alegres ou tristes, já passaram e não voltam mais. O amor de circunstância ou de oportunidade se dissolveu. O amor verdadeiro não: sofreu, apanhou, chorou, mas não desistiu de amar aqueles com quem se comprometeu. Assim, no final do ano velho, cada um de nós pode fazer o balanço de quanto procurou amar, de quanto perdeu a chance de amar e de quanto amor, talvez, desprezou. Se tiver “sobras” de amor, fique feliz: valeu!

Começando o ano novo, temos uma nova oportunidade de tempo de vida. Como será? Saberemos usá-lo para amar e ser amados mais? Nestes dias, penso sobretudo nas nossas famílias. Quantas iniciaram e já acabaram ao longo do ano que passou. Outras deixaram para depois e terão que decidir se mudar para continuar a acreditar no amor ou se, de vez, jogarão tudo fora. Penso também em tantas pessoas doentes, acamadas ou no fundo de uma rede, dependendo das mãos e dos cuidados dos outros. Elas, às vezes, dão muito trabalho, mas nos amam também porque, sem dizer nada, lembram-nos a fragilidade e as limitações da nossa vida. A paciência delas é uma lição viva, que joga água fria sobre o fogo do orgulho e das ilusões de quem se acha imortal e poderoso.

No início do novo ano, façamos planos, mas que sejam projetos de amor. Não simplesmente de egoísmo, de autoafirmação e de sucesso pessoal. O tempo da vida nos é dado para construir e semear o amor. Todo tempo é bom e serve para isso. Minutos, horas, dias e anos... Se só o tempo revela um grande amor, é verdade também que um verdadeiro amor desafia o tempo, nunca morre, porque é dom de Deus, é um pouco dEle mesmo.

Fonte: Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá - AP
Foto ilustrativa: Fábio Rodrigues Pozzebon/ABr

Gente de OpiniãoTerça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Quarta-feira (25), o Congresso impôs mais uma derrota ao governo do presidente Lula derrubando o Decreto que aumentava o IOF. O governo perdeu mais

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

O esquema que desviou bilhões de reais de contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi apenas mais um

O Congresso é culpa do eleitor

O Congresso é culpa do eleitor

          O Congresso Nacional do Brasil é, óbvio, o Poder Legislativo e é composto por 513 deputados federais e pelos 81 senadores da República. Es

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

Em Diálogo com Platão, Jung e a Trindade num Contexto do Sexo como Ritual sagrado A humanidade é um rio que corre entre duas margens: a espiritualid

Gente de Opinião Terça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)