Por Artur Quintela (*)
Ernesto já me convidou várias vezes para dar uma “palhinha” no Mercado Cultural.
Até tinha acertado com ele para fazer uma participação na sexta-feira santa, mas, infelizmente cortei o dedo e tocador de violão tem que estar com os dedos perfeitos, incólumes, não é mesmo?
Bom, a verdade é que nunca quis “violentar” a pureza da sexta no Mercado Cultural. Ernesto Melo criou realmente um ponto de cultura gostoso de curtir. Sempre apareço por lá, não para ouvir “som do barzinho”, mas para me sentir em Porto Velho. É isso que o projeto do Ernesto faz. Põe-nos dentro da verdadeira Porto Velho. Suas canções, bem como de outros compositores locais que são interpretadas lá, nos embalam, fazendo reviver a melhor das capitais brasileiras. Quando aqui se cheirava “ddt” e “combustol”. Lembra? Óleo combustível queimando na lamparina e o DDT da “CEM” nas paredes até das sentinas.
Aquela Porto Velho em que ladrão era tratado como ladrão e assassino como assassino. Coisas raras, então.
A Porto Velho do legítimo Rio Madeira. Quanta água bebi, sôfrego, às suas margens!...
Pois é!...
Me conhecem em Porto Velho como músico, mas a maioria das pessoas acha que só sei tocar Jovem Guarda, talvez devido à participação no Grupo Retorno – que esnobava no repertório dos Anos 60.
E isso me fez relutar muito em aceitar o convite do amigo Ernesto para participar da sexta no Mercado. Ali, quem comanda é A Fina Flor do Samba. Como vou colocar Jovem Guarda num ambiente desses? Como posso alterar o que está tão bom, em nome apenas do meu amor pela música?
Claro que preparei repertório com músicas de Benito de Paula, Paulo Vanzolini, Dorival Caymmi, dentre outros. Mas, tenho certeza que “meu público” iria cobrar Jovem Guarda e não acredito que seria de bom alvitre alterar tanto assim a “cara” da sexta feira no mercado. Por isso a relutância.
E o que aconteceu na sexta passada, embora possa provar a comunhão entre músicos, alterou substancialmente o propósito inicial de Ernesto e A Fina flor do Samba. Som do barzinho a gente escuta em qualquer lugar, mas as composições locais só no Mercado Cultural. Com certeza!
Ali é nosso espaço! Tenho certeza que não vai haver espaço para que mostremos nossas composições nos bares das cercanias. E ali está presente a História de Porto Velho, de Rondônia! O que também não se encontra nos outros locais.
Claro que o som que o pessoal da UNIR é de excelente qualidade. E podem até voltar, creio. Mas que se reserve apenas a uma participação singela, como dos outros tantos.
E outra coisa que não foi correto, a meu ver.
Zizi é a própria resistência personificada! O único a não largar o Mercado na mão da ganância, como bem disse Ernesto em sua música. Precisa e deve ser prestigiado.
O pessoal da ADUNIR não ligou, como não ligaram os que derrubaram “um bar aqui, outro ali”. Não perguntaram se gostávamos ou não de pagar os R$ 2,50 pela cerveja do Zizi. Isso não me pesa. Pesa, sim, é fazer propaganda no microfone d’A Fina Flor, afirmando que sua cerveja estava sendo vendida mais barata na Praça do que no Bar do Zizi. Isso foi uma afronta. Soou mal e pegou mal. A educação faltou ao universitário.
Por isso e por outras, fui embora mais cedo. Mas não tão cedo a ponto de não ver o amigo chegar.
E sexta que vem estarei lá, sim.
Um abração.
(*) O autor é músico, compositor e cantor
Sexta-feira, 6 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)