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Opinão: Confúcio e os vícios das representações de ensino


 
Prof. Diogo Tobias Filho*

O governador escreveu no seu blog que está um tanto quanto desconfiado ante o excesso de funcionários lotados nas representações de ensino. E esse fato, por acaso é novidade? Confúcio não sabe da missa nem a metade. Quem lida no cotidiano da educação conhece de perto essas mazelas de desvio de função. Em algumas REN’s do interior há casos não raros de professores recém-concursados que estão lotados em funções meramente burocráticas ou assumindo vagas de pedagogos (gerências pedagógicas, por exemplo), enquanto as escolas se excedem nas sacudidelas para suprir a falta crônica de professores em sala de aula.

Esses vícios são antigos. Não é fácil reverter essa situação do dia para noite, pois se trata duma prática assaz arraigada nos grupelhos partidários e cinicamente planejada durante a campanha eletiva. E só existe uma forma de combatê-la com o rigor que a situação exige: extinguir as REN’s, esses órgãos perdulários, ineficazes e que só são úteis para acomodar apadrinhados políticos dos chefes locais. Mas para o sucesso desta corajosa empreitada, também é indispensável que se dê autonomia às escolas assim como ocorre nas universidades e institutos federais, tanto no campo gerencial como no setor financeiro, descentralizando certas decisões de gabinete, sobretudo porque, é o grupo gestor e não o representante de ensino que lida com os múltiplos problemas elementares do dia-a-dia de uma instituição escolar.

As REN’s nada mais significam que um modelo ultrapassado de gerenciar o nada, um cabide grosso de funções gratificadas, onde alguns professores e funcionários são recompensados pela opção política vencedora que fizeram tendo o usufruto de ficar distante do trabalho cansativo e mal remunerado de sala de aula. Há casos de docentes formados em áreas distintas às atividades de organização pedagógica, porém estão lá, exercendo gerência, coordenando supostos projetos, sabe-se lá de quê, executando prestação de contas ou até montados em cargos de gestão, mesmo havendo em certos casos, especialistas para área. São os que mais viajam para cursos inócuos e dispendiosos que se apresentassem resultados profícuos, o governo Cassol teria elevado Rondônia aos patamares do primeiro mundo em apropriação de conhecimento.

Ainda se utiliza no staff dos bambambãs das REN’s, motoristas, vigilantes, auxiliares de serviços gerais, profissionais da área administrativa e sucedâneos, malgrado a estrutura de algumas escolas pulular para conseguir cumprir suas jornadas na base da gambiarra funcional. O mais grave é quando se utiliza nestas ações pífias, profissionais das áreas críticas tipo química, biologia, matemática, inglês, física, etc., deixando alunos à mingua e o ensino à beira da bancarrota.

Então entra em cena a figura daquele lobo em pele de cordeiro que é o representante de ensino, comumente, alguém envolvido em política partidária, com perfil de professor que sequer se recorda mais qual foi o último dia em que lecionou na profissão. De posse dum pacote de contratos emergenciais destinados aos futuros fazedores de bico, o cidadão anuncia o pregão de contratações. Contrata-se muitas vezes alguém completamente despreparado ou de formação oposta à docência e o resultado todos sabem: fiasco na hora da avaliação oficial, notas ruins que generalizam o baixo desempenho da educação. Na hora de escolher os culpados pelo fracasso, a corda arrebenta nas costas dos professores titulares, deixando ilesos de culpabilidades, os sem-compromisso com o processo de ensino-aprendizagem.

Se o governador Confúcio quiser realmente começar a inovar na educação, deve ser radical e extinguir todas as REN’s, instituir a democracia plena na rede, livrando-a do jugo político em que se encontra refém. Entendo que as coisas não são tão simples assim. Tudo é consequência. Mas para todos os atos de inovação existe sempre o dia seguinte. E ele chegará com uma grande quantidade de servidores buscando lotação nas escolas, oriundos das representações de ensino. Finalmente teremos aquele prazer de ver um ex-representante de ensino trabalhar de verdade em sala de aula. E a carência de mão-de-obra diminuir com a chegada de antigos novos professores.

O autor é professor de filosofia em Ji-Paraná – E-mail: [email protected]

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