Sábado, 13 de junho de 2009 - 16h22
Frei Betto *
Adital - Ecologia vem do grego "oikos", casa, e "logos", conhecimento. Portanto, é a ciência que estuda as condições da natureza e as relações entre tudo que existe - pois tudo que existe coexiste, pré-existe e subsiste. A ecologia trata, pois, das conexões entre os organismos vivos, como plantas e animais (incluindo homens e mulheres), e o seu meio ambiente.
Talvez fosse mais correto, embora não tão apropriado, falar em ecobionomia. Biologia é a ciência do conhecimento da vida. Ecologia é mais do que o conhecimento da casa em que vivemos, o planeta. Assim como economia significa ‘administração da casa’, ecobionomia quer dizer ‘administração da vida na casa’. E vale chamar o meio ambiente de mãe ambiente, pois ele é o nosso solo, a nossa raiz, o nosso alimento. Dele viemos e para ele voltaremos.
Essa visão de interdependência entre todos os seres da natureza foi perdida pela modernidade. Nisso ajudou uma interpretação equivocada da Bíblia - a ideia de que Deus criou tudo e, por fim, entregou aos seres humanos para que "dominassem" a Terra. O domínio virou sinônimo de espoliação, estupro, exploração. Procurou-se arrancar do planeta o máximo de lucro. Os rios foram poluídos; os mares, contaminados; o ar que respiramos, envenenado.
Ora, não existe separação entre a natureza e os seres humanos. Somos seres naturais, porém humanos porque dotados de consciência e inteligência. E espirituais, porque abertos à comunhão de amor com o próximo e com Deus.
O Universo tem cerca de 14 bilhões de anos. O ser humano existe há apenas 2 milhões de anos. Isso significa que somos resultado da evolução do Universo que, como dizia Teilhard de Chardin, é movida por uma "energia divina".
Antes do surgimento do homem e da mulher, o Universo era belo, porém cego. Um cego não pode contemplar a própria beleza. Quando surgimos, o Universo ganhou, em nós, mente e olhos para se olhar no espelho. Ao olharmos a natureza, é o Universo que se olha através de nossos olhos. E vê que é belo. Daí ser chamado de Cosmo. Palavra grega que dá também origem à palavra cosmético - aquilo que imprime beleza.
A Terra, agora, está poluída. E nós sofremos os efeitos de sua devastação, pois tudo que fazemos se reflete na Terra, e tudo que se passa na Terra se reflete em nós. Como dizia Gandhi, "a Terra satisfaz as necessidades de todos, menos a voracidade dos consumistas". São os países ricos do Norte do mundo que mais contribuem para a contaminação do planeta. São responsáveis por 80% da contaminação, dos quais os EUA contribuem com 23% e insistem em não assinar o Protocolo de Kyoto.
"Quando a última árvore for derrubada - disse um índio dos EUA -, o último rio envenenado e o último peixe pescado, então vamos nos dar conta de que não podemos comer dinheiro".
O maior problema ambiental, hoje, não é o ar poluído ou os mares sujos. É a ameaça de extinção da espécie humana, devido à pobreza e à violência. Salvar a Terra é libertar as pessoas de todas as situações de injustiça e opressão.
A Amazônia brasileira é um exemplo triste de agressão à mãe ambiente. No início do século XX, empresas enriqueceram com a exploração da borracha e deixaram por lá o rastro da miséria. Nos anos 1970, o bilionário americano Daniel Ludwing cercou um dos maiores latifúndios do mundo - 2 milhões de hectares - para explorar celulose e madeira, deixando-nos como herança terra devastada e solo esgotado virando deserto. É o que pretende repetir, agora, o agronegócio interessado em derrubar a floresta para plantar soja e criar gado.
A injustiça social produz desequilíbrio ambiental e isso gera injustiça social. Bem alertava Chico Mendes para a economia sustentável (isto é, capaz de não prejudicar as futuras gerações) e a ecologia centrada na vida digna dos povos da floresta.
A mística bíblica nos convida a contemplar toda a Criação como obra divina. Jesus nos mobiliza na luta a favor da vida - dos outros, da natureza, do planeta e do Universo. Dizem os Atos dos Apóstolos: "Ele não está longe de cada um de nós. Pois Nele vivemos, nos movemos e existimos. Somos da raça do próprio Deus" (17, 28). Todo esse mundo é morada divina. Devemos ter uma relação de complementação com a natureza e com o próximo, dos quais dependemos para viver e ser felizes. Isso se chama amor.
[Autor de "O amor fecunda o Universo - ecologia e espiritualidade" (Agir), em parceria com Marcelo Barros.
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* Escritor e assessor de movimentos sociais
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