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É hora de repartir o pão (e a carne)


Por Paulo de Castro Marques*

O Brasil caminha para bater novo recorde de exportação de carne bovina. Os dados preliminares apontam para desempenho fantástico, com vendas superiores a 1,5 milhão de toneladas – em valores: US$ 3,85 bilhões. Trata-se de um resultado realmente espetacular. Palmas para nossos frigoríficos, que mesmo com as restrições internacionais impostas por conta da febre aftosa mais uma vez foram profissionais e impulsionam a carne brasileira no cenário mundial.

Em uníssono, o discurso das cada vez mais fortes – e internacionalizadas – organizações frigoríficas do País é: "não atingiríamos esse resultado se não fosse o investimento dos pecuaristas em animais de qualidade genética, abatidos cada vez mais cedo, mais padronizados e com carne de padrão superior...".

E eles estão certos. Mas onde está a valorização dos produtores por disponibilizar esses bovinos de qualidade que levam o Brasil a consolidar sua posição de maior exportador mundial de carne bovina e, como conseqüência direta, fortalecem economicamente umas poucas empresas?

2006 foi um ano exemplar no baixo (ou nenhum) reconhecimento do trabalho sério, incansável e inquestionável dos pecuaristas brasileiros em busca da melhor genética, da alimentação correta, do necessário controle sanitário, do manejo mais apurado. Em poucas palavras: investimos como nunca; fomos pessimamente remunerados com sempre.

A arroba do boi gordo chegou ao fundo do poço, atingindo os menores patamares dos últimos 35 anos – isso porque há poucas estatísticas anteriores à década de 70. E, por outro lado, as exportações batem recordes. Aliás, com um agravante ao mesmo tempo extremamente positivo e esclarecedor: os preços internacionais subiram em média 5% e em alguns casos até 30%.

Desconheço atividade econômica que sobreviva durante muito tempo com uma realidade em que só alguns segmentos ganham. Especialmente quando os que mais sofrem estão na base da cadeia. Sim, porque sem bovinos precoces, pesados e com rendimento de carcaça não há carne para atender os contratos de exportação.

Avançando na cadeia produtiva, se os fornecedores de bois gordos não estão motivados não investem no necessário melhoramento genético. E aí o refluxo é inevitável. Além das perdas econômicas já esperadas em termos de produção de carne, há um preocupante retrocesso na seleção dos animais, o que em outras palavras pode significar a perda de investimentos feitos durante décadas.

Claro, não sejamos alarmistas. A pecuária brasileira está longe de chegar a esse patamar. Ocorre que vejo com extrema preocupação o desânimo que ataca a atividade. Com o avanço de culturas agrícolas, especialmente a cana-de-açúcar, o criador não pensa duas vezes em arrendar suas terras. E, o pior, com rendimento líquido superior ao penoso investimento na produção animal.

O momento é de reflexão. Mais do que isso, é de pensamento coletivo. Não se trata de impedir o ganho de alguns, mas defender a sobrevivência de muitos.  

*O autor é pecuarista há 30 anos e proprietário da Casa Branca Agropastoril, empresa pecuária que investe nas raças Angus, Brahman e Simental em Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso.

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