Segunda-feira, 24 de novembro de 2025 - 15h41

“Que ingenuidade pedir a quem tem poder para mudar o poder”
Giordano Bruno (frade dominicano, teólogo, filósofo e matemático)
Um dos aspectos mais sensíveis do
setor elétrico nacional é à influência exercida pelos lobistas, que tem
comprometido a gestão, a eficiência, a transparência e a modicidade tarifária.
Esta situação chega a níveis intoleráveis provocando desarranjos importantes na
governança do setor. Por tais abusos quem tem pagado a conta, literalmente, é o
consumidor.
O atual Congresso Nacional
(legislatura 2023-2027) é reconhecido como um dos piores dos últimos tempos,
tanto do ponto de vista, moral, ético, político, o de mais “baixo nível” em
décadas, com parlamentares concentrados no partido de extrema direita, o PL,
com o maior número de representantes na Câmara Federal, e um número expressivo
de senadores. Ao se aliar ao Centrão (aglomerado de parlamentares fisiológicos
de vários partidos), formam uma maioria que tem sabotado pautas progressistas e
de interesse nacional. Ao mesmo tempo frentes e grupos parlamentares têm agido,
juntamente com os lobistas, aprovando matérias de interesses específicos, em
detrimento daquelas de interesse da maioria da população.
A situação chegou a tal ponto que
o próprio ministro de Minas e Energia, logo após a votação da medida provisória
1304/2025 (PEC do setor elétrico), cujo objetivo principal, segundo o governo
federal, seria promover a modernização e a eficiência do setor elétrico
brasileiro, tornando-o mais competitivo e com regras mais claras para os
consumidores, declarou “os lobbies venceram o interesse público”. Uma
afirmativa que deixa claro que o Estado brasileiro perdeu sua capacidade de
planejar, formular e executar políticas públicas para a gestão sustentável dos
recursos energéticos.
Sem dúvida o ministro Alexandre
Silveira (o das “boas ideias”) se referiu aos diversos lobbies que atuam junto
ao setor, como o “lobby das baterias”, do “curtailment” (cortes na geração
renovável) que briga pelo ressarcimento financeiro, o da “geração distribuída”,
do “carvão mineral”, o “lobby do gás natural”, o “lobby das hidroelétricas” que
querem reduzir as exigências ambientais, o da “abertura do mercado”, o “lobby
nuclear”, entre outros. Nenhum outro ramo da economia tem atualmente um lobby
tão pulverizado na Esplanada dos Ministérios e no Congresso Nacional.
Em julho deste ano o ministro já
havia declarado “se os lobbies continuarem prevalecendo e não tiver uma
compreensão mais generosa da visão do todo, nós vamos, de alguma forma,
colapsar o setor elétrico brasileiro”.
A multiplicidade de lobbies
infiltrados, cuja busca por benefícios pontuais contribuem para a
desorganização do arcabouço regulatório do setor elétrico e de sua governança,
tem dificultado o planejamento coerente e transparente. A incerteza sobre como
as decisões são tomadas e quais interesses estão sendo atendidos, alimenta a
percepção de que o setor é "refém" desses grupos, que tem parlamentares
inescrupulosos e oportunistas agindo contra os interesses nacionais, como
verdadeiros inimigos do povo.
A situação é tão grave que a
falta de planejamento contribuiu para que o país conviva com um paradoxo dentro
do Sistema Interligado Nacional (SIN). Ao mesmo tempo que avança a produção de
energia de fontes renováveis altamente desejáveis, especialmente solar e
eólica, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), tem decidido cortar a
geração destas fontes, impedindo que sejam injetadas na rede, devido a
problemas de infraestrutura (na transmissão) e na demanda, não permitindo o
escoamento dessa geração. Essas operações são conhecidas como curtailment.
Nesse cenário, as usinas termelétricas poluentes são acionadas para cobrir a
demanda em horários de pico, justificando assim a oneração das tarifas.
Os cortes promovidos pela ONS na
geração das fontes renováveis, ultrapassam as fronteiras nacionais. As empresas
geradoras alegam prejuízos e exigem ressarcimento. Em defesa das empresas o
presidente francês Emmanuel Macron, segundo noticiado quando de sua vinda para
participar da COP30, chegou a fazer um pedido ao presidente Lula para que não
vetasse a cláusula no Projeto de Lei de Conversão no 10 (PEC
1304/2025, aprovada com modificações) que prevê o ressarcimento às empresas
afetadas pelos cortes.
Mesmo com uma participação de
mais de 85% na matriz elétrica por fontes renováveis (solar, eólica, biomassa e
hidrelétricas) que são as mais baratas, segundo os diversos leilões realizados,
o consumidor acaba pagando uma das tarifas mais caras do mundo. Obviamente quem
perde é o consumidor, mas também é facilmente identificado quem ganha, e muito.
Não somente as empresas que têm em seus demonstrativos econômico-financeiros a
“confissão” de tais ganhos exorbitantes, diante da situação econômica do país;
mas também lobistas parlamentares ou não.
Infelizmente esta situação não
está restrita ao setor elétrico, pois situação análoga é verificada nos
assuntos do agronegócio, com a atuação da poderosa Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Com muito dinheiro este setor tem eleito e “convencido” parlamentares a votarem
em propostas que beneficiam o setor agropecuário extremamente ganancioso e
predatório, prejudicando em vários aspectos, a população brasileira. O setor
juntamente com o desmatamento são os maiores emissores de gases de efeito
estufa no país, o que por si só é um grande problema tanto a nível nacional
como mundial.
O que evidencia nas ações dos
lobbies é que o setor elétrico brasileiro é "refém" de interesses
privados, em detrimento de um planejamento energético de interesse público. O
setor virou um balcão de negócios, legislado pelos lobistas.
_________________________________
* Físico, graduado na Universidade
Estadual de Campinas-UNICAMP, com mestre em Ciências e Tecnologia Nuclear na
UFPE, e doutor em Energética pela Universidade de Marselha/Centro de Estudos de
Cadarache-Comissariado de Energia Atômica-França.
Segunda-feira, 24 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)
Reforma do IR deve ser sancionada dia 26 e libera isenção para salários até R$ 5 mil
A Reforma do Imposto de Renda tem data prevista para sair do papel: 26 de novembro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve sancionar o p

Conectados, mas sós: o novo colapso silencioso do trabalho moderno
As vezes me pego pensando no que há de pior neste mundo corporativo: não é o estresse, nem as metas — é estar rodeado de pessoas e ainda assim senti

Do metanol à saúde animal: o perigo desconhecido da falsificação de produtos veterinários
A tragédia recente envolvendo bebidas adulteradas com metanol, que causou dezenas de mortes no país, levantou um alerta urgente sobre o risco de pro

Usinas nucleares e manipulações retóricas
“É necessário se espantar, se indignar e se contagiar,só assim é possível mudar a realidade”Nise da Silveira (médica psiquiatra) Tem se tornado lug
Segunda-feira, 24 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)