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Crônica

Janela fechada


Janela fechada - Gente de Opinião

Nem todos, ao abrirem uma janela, conseguem divisar a vista, é como se a janela estivesse fechada, estão cegos, cegos que pensam que veem, ou, como dizia Saramago, cegos que vendo não veem.

A ignorância cega, o medo cega, a paixão cega, e há os que de tão toscos sequer enxergam à frente, mal veem um palmo além do nariz. Um velho irmão marista, professor de literatura, nos anos da minha adolescência, costumava dizer em sala de aula que “horizonte não é pra qualquer um, só se vê a vista com preparo”.

O horizonte é uma conquista, depende de leitura, é um estado de espírito, muitos o olham, mas poucos o enxergam. A sala de aula bem aproveitada, regurgitada em anotações, é o início da educação do olhar, amacia a caminhada e firma os passos ao futuro, abrindo janelas, ainda que algumas insistam em permanecerem fechadas. Machado de Assis dizia que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra.

Os onívoros culturais, ao lerem de tudo, adquirem uma capacidade especial de compreensão, fazem parte de uma seleta minoria, a dos que apuram a vista com um sorriso compenetrado. Cada texto vencido vai fornecendo apetrechos à memória, acumulando capital na conquista dos horizontes visuais e intelectuais.

Com estudo e leitura, as paredes da ignorância vão paulatinamente recebendo janelas, sensibilizando os cenários, como a vista de uma borboletinha multicor, que, fugindo do vento frio, bate na sua vidraça, querendo abrigo, com um sorriso enigmático. Abra a janela, acompanhe com o olhar o ziguezague do voo mágico do pequeno ser, feito o desenho da estrada da vida, deixe que a singeleza do belo mergulhe em seu interior, permita que a arte do simples também faça parte das suas vistas.

Não existe janela que não se possa abrir, cada uma delas possui uma relação de dependência com a vista almejada. O efeito simbólico de abrir janelas é produto do esforço de cada um, gratificado com vistas significativas.

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