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Crônica

Janela da depressão


Por William Haverly Martins - Gente de Opinião
Por William Haverly Martins

Imaginem-se presos a uma enorme caixa, sem janelas, tudo escuro e uma imensa vontade de não fazer nada. Não havia vistas. Não havia janelas que me apontassem horizontes. Essa era a sensação que me atormentava, quando as ondas da depressão começaram a varrer a praia da minha mente. Não ouvia ninguém, sequer percebia minha própria voz, como se alguém invisível estivesse me sufocando, como se o vento, ao entrar pelo meu corpo, estivesse causando desordem, mas não podia culpá-lo, pois fui eu que deixei a janela da alma aberta.

Antigamente eu não sabia que estava sofrendo de uma séria enfermidade, aumentava o consumo de café, fechava os olhos, pensando que não ia ver nada, era pior, via o que não devia, me via! Começava, então, a vontade de morrer. Só a morte poderia parar a agonia da minha cabeça, pensava eu. Embora meus pensamentos estivessem aprisionados, eu me locomovia para todos os lados, mas não tinha noção da direção, aqui e acolá parava repentinamente, como se estivesse à beira de um precipício.

O mais complicado era que, essa estranha sensação, do mesmo jeito que aparecia, ia embora, sem que eu soubesse o tempo de duração. O meu silêncio momentâneo, os olhos apavorados, a vontade de chorar e de não me levantar da cama, eram interpretados pelos que me cercavam como frescurite.

Houve uma época que também eu achava que não estava doente. O sinal de alerta tocou o meu espírito, quando meu sentimento de sobrevivência começou a me mostrar que algo estava errado, pois a vontade de morrer não me abandonava. O diagnóstico foi preciso: você está com depressão. Passei uns dois anos tomando remédios inúteis, até o dia em que resolvi reciclar meus pensamentos, aprendi a controlar minha respiração e a meditar. Hoje já não medito mais e sinto como se a depressão tivesse se adaptado ao meu novo pensar.

Nesse meu novo processo natural de reciclagem mental, tomei como base princípios de uma filosofia de vida conhecida como Taoísmo, e desde então venho aprendendo a me melhorar, cada vez mais. Tao quer dizer caminho. Não tenho religião nem tomo remédios. Procuro viver em harmonia com a natureza, tentando atingir o equilíbrio, ou o Tao. De tudo que aprendi o que mais me ajudou foi o desprendimento do mundo material e a anulação dos desejos, porquanto ao realizarmos um desejo, outro surgirá em seu lugar, ensina o mestre.

Mediante novos pensamentos, elimino de dentro de mim os desejos inúteis. As coisas vão acontecendo naturalmente, conforme o equilíbrio, a harmonia entre o yin e o yang, o masculino e o feminino, o bem e o mal, etc.

Não é fácil, depende de muito estudo, dedicação e paciência. O Tao Te Ching, livro sagrado do Taoísmo, escrito por Lao Tsé, é chamado em português de livro do Caminho e da Virtude. É um livro de 5.500 palavras em que estão contidos os ensinamentos filosóficos adquiridos por Lao Tsé na busca pelo caminho.

“O tempo é uma coisa criada. Dizer ‘Eu não tenho tempo’, é o mesmo que dizer, ‘Eu não quero’.” “Não há culpa maior do que entregar-se às vontades, não há mal maior do que aquele de não saber contentar-se, não há dano maior do que nutrir o desejo de conquista.” (Lao Tse)

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