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Amazônia já sofre mudança no clima



Chico Santos

O primeiro relatório regionalizado sobre as alterações climáticas na Região Amazônica, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), sob encomenda da Vale, comprova o que estudos menos específicos já diziam: está havendo um processo acelerado de aumento dos extremos climáticos na região, com elevação da temperatura geral, aumento da mínima e da máxima, maior concentração de chuvas em menor número de dias, resultando em alternância de fortes precipitações com longos períodos de seca.

O trabalho, específico para os Estados do Maranhão e do Pará, que concentram as atividades da Vale na região, prevê que a temperatura média pode subir até 2 graus Celsius do leste do Pará até o Maranhão de 2010 a 2040, quando em todo o século passado o aumento da temperatura terra foi de apenas 0,8 grau Celsius.  O resultado até o fim deste século pode ser a transformação de toda a área que vai do leste do Amazonas até o Maranhão em uma vegetação rala, semelhante à savana da África.

O estudo tomou por base observações de 36 estações meteorológicas, selecionadas entre mais de cem para aumentar a confiabilidade, e combinou modelos regionais com os critérios de avaliação adotado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) das Nações Unidas.  Segundo o pesquisador Gilvan Sampaio, coordenador-adjunto do trabalho, como os modelos utilizados dividem os territórios estudados em áreas de 200 a 300 quilômetros, foram utilizados métodos de refinamento que permitiram reduzir a escala para 50 quilômetros.

Como em outros estudos semelhantes, foram utilizados dois cenários, o primeiro, benigno, no qual as emissões de carbono pela atividade humana passa das atuais 380 partes por milhão (ppm) para 620 ppm em 2100 e o segundo, com as emissões saltando de 380 para 850 ppm .

Sob a coordenação do pesquisador Carlos Nobre, do Inpe, considerado uma das maiores autoridades do país em meteorologia, o trabalho testou o modelo em dados já existentes de 1977 a 2007, constatando na prática a tendência ao aumento dos extremos climáticos, para em seguida construir os cenários para três períodos: de 2010 a 2040, de 2041 a 2070 e de 2071 a 2100.  De acordo com as projeções, que Sampaio admite estarem ainda sujeitas a muitas ressalvas por falta de dados e por divergências entre os modelos, a temperatura do Estado do Maranhão pode subir de 4,5 a 6 graus Celsius até o fim deste século.  O índice pluviométrico pode baixar de 1,5 a 1mm por dia (no cenário de maiores emissões, chove mais).

Sampaio disse que a transformação do Maranhão e do Pará em uma região semi-árida, à semelhança da existente em parte do Nordeste brasileiro, não deve ocorrer por causa da influência positiva que o fluxo de unidade do Oceano Atlântico tem sobre a região.  Mas ele adverte que, se antes de chegar a savana a área for ocupada por plantações, de soja, por exemplo, os efeitos podem ser mais graves, dada a influência que a alteração pode ter sobre o regime de chuvas.  O pesquisador disse não ter dúvidas de que os maiores problemas climáticos, não só da área estudada como de todo o Brasil, são o desmatamento e as queimadas.

No fim da apresentação do trabalho, feita em um hotel de Belém, pesquisadores locais questionaram o estudo, especialmente a não incorporação como parceiro, da área de pesquisas climáticas da Universidade Federal do Pará (UFPA).  O professor Everaldo de Souza, um dos que mais questionaram, disse não discordar das conclusões, mas ressaltou que ainda falta uma metodologia que permita separar o que é o efeito das mudanças naturais e o que é o efeito da ação humana.

O estudo encomendado pela Vale ao Inpe, ao custo de R$ 1,5 milhão, está dividido em três etapas.  As duas próximas, segundo Flávio Barbosa Montenegro, gerente-geral de Mudanças Climáticas e Assuntos Estratégicos de Sustentabilidade da mineradora, vão especificar conseqüências das mudanças climáticas sobre os vários aspectos da vida na região, incluindo agricultura, saúde e outros.  Originalmente elas estão previstas para serem concluídas daqui a seis meses e a um ano, mas, segundo ele, pode ser que tudo fique pronto em seis meses.  Ele disse também que o convênio com o Inpe deve ser o ponto de partida para uma série de estudos da empresa sobre questões climáticas e ambientais na região.

Montenegro disse que o objetivo da Vale é tanto obter informações para planejar a sustentabilidade ambiental e sócio-econômica das suas atividades, como também oferecer dados para o planejamento de políticas públicas.  Segundo dados da mineradora, ela investiu no ano passado US$ 110,2 milhões em projetos ambientais no Pará e US$ 25,4 milhões no Maranhão, respectivamente, 834% e 234% a mais do que em 2006.

Fonte: Jornal Valor Econômico

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