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Pontes e viadutos na Amazônia


Professor Nazareno*

A Amazônia é cortada por uma infinidade de grandes rios, furos, paranás, lagos, igapós, pântanos e igarapés, por isso tem uma necessidade muito grande de ter pontes, viadutos ou mesmo passarelas para superar os seus obstáculos naturais. O problema é que os políticos da região, aliados à burrice crônica de uma população acostumada a não cobrar os seus direitos, não conseguem ou não querem determinar quais são as reais prioridades para a construção destes empreendimentos tão vitais para o progresso amazônico. De Pimenta Bueno, no interior de Rondônia, passando pela capital deste Estado e até em Manaus, a metrópole da região, o que se observa é um festival de desperdícios do dinheiro público com a construção de verdadeiras inutilidades, enormes elefantes-brancos que em absolutamente nada vão ajudar a desenvolver a atrasada região, apenas vão encher, em alguns casos, os bolsos de políticos corruptos.

Em Manaus foi gasta a assombrosa quantia de um bilhão e 100 milhões de reais, ou  seja, quase 600 milhões de dólares no câmbio atual, para construir uma ponte sobre o rio Negro e que ligará a capital amazonense ao simpático vilarejo de Cacau Pirera que tem menos de 3 mil pessoas e pertence ao município de Iranduba. Contados um a um, os habitantes do outro lado do rio não ultrapassam as 100 mil almas e por isso teriam que trabalhar umas três eternidades e umas duzentas gerações para pagar todo o dinheiro investido naquela inútil obra. Manacapuru, distante mais de 100 quilômetros de Manaus e Novo Airão, perdida nos confins amazônicos, além de Iranduba e da vilazinha de Cacau Pirera, do ponto de vista do capitalismo, não justificavam tanto desperdício de dinheiro público. Além do mais, a ponte não tirou Manaus do secular isolamento nacional uma vez que a solução para isso deveria ser pela BR - 319.

Porém, os manauaras adoram esta “benfeitoria” e fazem até questão de mostrá-la aos quatro ventos como sendo algo que trará, não se sabe como, desenvolvimento e riquezas para a sua cidade. Nem se perguntam quanto custou a sua construção. Já em Rondônia, os absurdos e a farra com o dinheiro público são até maiores do que no Amazonas: dos desnecessários viadutos de Pimenta Bueno até a novela dos intermináveis viadutos da capital Porto Velho, que já viraram chacota nacional em programa de televisão, o que se vê é uma homenagem ao absurdo. Os seis viadutos e passagens de nível da capital de Rondônia só serviram até agora para derrotar o PT local nas últimas eleições municipais. Pior mesmo é a ponte sobre o rio Madeira, a que liga o nada a coisa alguma. Trezentos milhões de reais jogados literalmente na água caudalosa do rio fazem desta obra uma homenagem à estupidez humana. Mas o senso comum a aplaude.

Sem a estrada pronta, essa obra é um dos maiores exemplos de desperdício no país. Mas por estar ao lado de uma vitrine de 500 mil admiradores, os políticos deixaram de construir pontes bem mais importantes do ponto de vista estratégico como a de Guajará-Mirim ou mesmo a outra que tiraria o Acre do isolamento. A ponte de Porto Velho além de subsidiar a farinha de mandioca produzida no projeto Joana d’Arc servirá também para muitos incautos levarem suas famílias para tecer loas “a capacidade dos nossos políticos” e fazer fotos. Mesmo com ela, a ligação entre Porto Velho e Manaus sempre dependerá da balsa do Careiro e num Estado que já dá sinais de falência, gastar uma fortuna sem necessidade é fazer-nos de trouxas. Falaram até que ela seria entregue antes do prazo e dentro do orçamento. Duvido: o Brasil não é Primeiro Mundo e a empresa que fizer isto jamais ganhará qualquer licitação. Obras públicas neste país geralmente se confundem com desperdício, roubalheira, superfaturamento, desvios de verba e enganação do público, que paga e aplaude “a generosidade e o trabalho” de suas autoridades.

*É Professor em Porto Velho.

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