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Larina Rosa

Sessenta socos e o silêncio deles

“Não se trata de perguntar o porquê da agressão. Temos que passar a questionar o que leva esses homens a acreditarem que podem humilhar e matar mulheres”


Sessenta socos e o silêncio deles - Gente de Opinião

Ainda estou tentando esquecer o vídeo assustador do ataque da mulher no elevador em Natal (RN), no último fim de semana. Os segundos de imagens brutais denunciam uma mulher de 35 anos sendo esmagada pelo namorado com mais de 60 socos prestes a morrer. O vídeo que circulou amplamente nas redes sociais, gera indignação e uma vergonha inexplicável da covardia humana.

Faltam palavras para a brutalidade das imagens.  E o pior é saber que algumas pessoas ainda querem saber qual foi à motivação do crime. Como se a tentativa de feminicídio fosse justificável. Como se as inúmeras fraturas no rosto dela fossem liberadas caso o real motivo das agressões seja traição ou ciúmes.  

Não se trata de perguntar o porquê da agressão. Temos que passar a questionar o que leva esses homens a acreditarem que podem humilhar e matar mulheres. Enquanto normalizamos a agressão masculina como apenas um descontrole movido pela paixão e ciúmes, cenas como essa continuarão ocorrendo.

O silêncio ensurdecedor dos homens a respeito do caso é grave. Se eles são parte do problema porque também não estão procurando soluções? Não dá mais para a gente assistir mulheres sendo agredidas enquanto observamos homens calados e complacentes com o crime e agressores em pouco tempo livres para escolherem as próximas. Porque esse é o resultado das penas que são tão maleáveis e perpetuam a violência contra a mulher e nos amedrontam diariamente.

O caso não é isolado, a cada duas horas uma mulher no Brasil passa por violência parecida. Resultado de uma estrutura de poder que naturaliza a violência contra a mulher e tenta controlar nossos corpos e nossas vidas. É a prova de que nem dentro de casa estamos seguras, caso eles se sintam contrariados ou inseguros. Não sei onde vamos parar, sem uma mudança nessa cultura de que amor fere e também mata.  

Claustrofobia não é motivo para justificar tentativa de feminicídio. Amor nenhum te faz sangrar, quebra teus ossos e te deixa com o rosto destroçado. É importante lembrar que a violência não começa com um tapa, começa com atitudes disfarçadas com cuidado, com ciúmes que parece zelo, controle que parece proteção, com aquele incômodo que a gente insiste em aceitar. É na forma como ele te faz duvidar de você mesmo e te faz sumir aos poucos.

Não é o jeito dele de amar, ou o passado dele que justificam a falta de controle diante de problemas de relacionamento. O ciclo da violência existe e é preciso saber identificar as explosões, ataques seguidos de arrependimento e promessas.

Esse e os demais casos de agressões contra a mulher devem ser tratados com respeito e justiça. Precisamos reivindicar leis mais severas com o apoio deles, para tentar transformar a cultura onde podemos realizar nossos sonhos e viver um pouco mais seguras. É hora de entender os perigos de um relacionamento abusivo e tomar partido da dor desta mulher e tantas outras que estão sendo silenciadas, correndo o risco de serem mortas por seus próprios parceiros dentro de casa.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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