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Energia e Meio Ambiente - Internacional

Usina de Jirau, equívocos e Shakespeare...


 

*David Nogueira
 

Os números de Jirau sempre foram superlativos. Segundo o BNDES, a obra geraria 12.000 empregos diretos e mais de 30.000 empregos indiretos. Seriam aplicados R$ 532,2 milhões de reais em Programas Socioambientais capazes de minimizar os danosos impactos que uma obra desse tamanho provoca na cidade e na região. Com um custo total previsto de R$10,5 bilhões de reais, a usina de Jirau é uma das maiores obras do setor elétrico do país. Depois de pronta, esse gigante teria capacidade de produzir 3.300MW, o que seria suficiente para abastecer 11 milhões de residências. O comando de tudo isso ficou com a empresa ESBR (Energia Sustentável do Brasil), criada exclusivamente para esse fim, cujo braço operacional era a Camargo Correia.

 

Nós contribuímos para a festa.
 

Rondônia não se furtou em contribuir com o esforço nacional na garantia de condições de oferta energética dentro de nossa matriz prioritária. O Brasil optou, de forma correta, pela hidroenergia. Somos um país com grande potencial instalado e com possibilidade de mais do que duplicar essa produção a partir da otimização do que já temos e da exploração dos potenciais ainda existentes em nossas bacias hidrográficas, particularmente na Amazônia.
 

Mas isso pode ser feito de qualquer maneira?
 

Aqui é de fato a casa da mãe Joana? (Perdoem-me as mães Joanas).
 

O fato de o povo da região aceitar a instalação desses empreendimentos não significa que o país, como um todo, não tenha responsabilidade conosco. Faz-se mister o erigir de compensações possibilitadoras de uma melhoria na qualidade de vida de nosso povo, conjugado com a necessidade de serem criadas condições para a superação das desigualdades regionais ainda existentes. Não basta produzir energia em abundância nestas searas e mandá-la diretamente para o Sudeste. Aqui não é o quintal de nenhuma “Casa Grande”. Pelo menos precisa “parecer” que não o é.
 

Mentiras, enganações e degradações.
 

O valor negociado pelos empreendimentos, a título de “compensação”, tem sido muito questionado e com justiça. Num empreendimento cujo montante, inicialmente, passará de 10 bilhões de reais, Jirau destinou ao Estado apenas 90 milhões. Nesse tipo de empreendimento, as compensações podem atingir percentuais superiores a 2% do total do custo da obra. Santo Antônio não foi diferente. A obra custará mais de 10 bi e teve como compensação apenas 75 milhões. O mais grave é que, a esta altura, Jirau só liberou 17,5 milhões, sendo que desse quantitativo, apenas 6 milhões foram executados. Santo Antônio já liberou 61 milhões, sendo executado pouco mais de 40 milhões. Para cumprirem seus objetivos, essas compensações já deveriam estar praticamente todas realizadas. Essas ações teriam que ser preventivas e sempre propositivas. As obras e serviços dessa meta passaram a ser reativas. Isso não ajuda.
 

Mais mentiras.
 

Jirau foi de uma irresponsabilidade lamentável. As condições de trabalho nesses espaços são difíceis e ali não existe marinheiro de primeira viagem. Com ampla experiência em construções desse porte, a empresa não poderia deixar o caos se instalar naquelas proporções. No mínimo, trata-se de grave insensatez a ser apurada. Não existe a mínima possibilidade de algo daquele porte acontecer por causa de uma briga simples entre trabalhadores. Rusgas e desentendimentos num universo daquela dimensão são previsíveis e perfeitamente administráveis. O que ali ocorreu é resultado de um somatório. Um acumular de desrespeitos com pessoas, com a cidade e com o Estado que os acolheu.
 

O pequeno distrito de Jacy está um caos total. Porto Velho está pagando um elevado ônus... Não foi para isso que lutamos pelas obras.
 

Por trás das cortinas...
 

Há que se investigar um pouco mais a fundo tudo isso. Sabe-se que o Consórcio ESBR movimentou-se intensamente no sentido de aumentar o valor da tarifa de energia a ser cobrada do Governo e da nação. Ao arguir um longo arrazoado, ousou pleitear reajustes, no entanto, até agora, seu intento não teve eco. Só para lembrar, o processo de leilão foi transparente e bem participativo. Tive a oportunidade de tomar parte dos dois leilões em Brasília e ver de perto todas as movimentações. Todos questionaram a exequibilidade da obra pelo preço proposto, e eles tinham as respostas na ponta da língua: fariam a obra em outro local, barateariam o custo e o país ganharia muito. Não havia golpe nem intenções pouco republicanas.
 

Caberá ao poder político o legítimo e necessário papel de apuração e de fiscalização.
 

Lembrei-me de Shakespeare: “Há algo de podre no reino da Dinamarca!”



David Nogueira

É professor-fundador do Sintero

Secretário de Comunicação do PT/RO

Foi Dirigente da Cut e da CNTE


 

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