Quarta-feira, 8 de dezembro de 2010 - 10h07
De São Paulo - A descoberta argentina pode ser uma má notícia para a Bolívia, mas não uma preocupação imediata. Os dois países têm um contrato que prevê que as exportações de gás natural da Bolívia chegarão a 27,7 milhões de metros cúbicos por dia em 20 anos. Hoje são de 5 milhões e em 2011, a previsão é que cheguem a 7,7 milhões. A Argentina é o segundo maior comprador de gás boliviano, depois do Brasil.
A pergunta é: com mais reservas, por que a Argentina continuaria precisando da Bolívia? O governo argentino disse que a jazida "permitirá no longo prazo substituir as importações de gás".
Analistas dizem, no entanto, que esse processo tende a não ser tão fácil. Youssef Akly, da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos, acredita que a jazida não é uma ameaça aos planos bolivianos. Primeiro porque o contrato entre os dois países inclui uma cláusula de take or pay, que estipula que a Argentina terá de comprar uma cota mínima de gás ainda que não precise. Diz que Buenos Aires confirmou que iniciará em janeiro a licitação para ampliação do gasoduto que aumentará a capacidade de transporte do gás boliviano. Além disso, diz, os preços da produção do gás de xisto são muito mais altos que o do gás natural.
"Claro que a descoberta é uma boa notícia para a Argentina, mas ainda parece uma boa opção ao país manter as opções de compra da Bolívia", diz Erasto Almeida, do Eurasia Group. Ele lembra que o governo argentino não tem adotado políticas de preços muito atraentes para as petroleiras e que seria preciso mudar as condições para assegurar os investimentos necessários. E por garantia, diz, a Argentina deveria manter a porta aberta para as compras da Bolívia.
Fonte: Valor Econômico
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