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Em Jirau, pressão por mudanças


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As cenas de destruição e vandalismo registradas nos últimos dias na usina de Jirau, em Rondônia, reacenderam o debate sobre a urgência de um "reposicionamento" nas relações da construtora Camargo Corrêa com trabalhadores, sindicatos, empresas prestadoras de serviços, Justiça e governo. As pressões por mudanças nessas relações devem afetar o cronograma da usina, uma das maiores obras de infraestrutura em execução no país.

A destruição de boa parte do canteiro de obras, além da queima de carros e ônibus por parte dos 22 mil operários, despertou questionamentos de autoridades e lideranças locais para a necessidade de rever procedimentos, ajustar normas internas e formalizar regras mais transparentes para delimitar o raio de ação do consórcio construtor. O pânico vivido nas cidades próximas da usina e na capital do Estado, e a fuga em massa de quase 20 mil operários, reforçaram esses argumentos.

Em Porto Velho, avalia-se que a Camargo trabalha "no limite" para cumprir prazos apertados e os compromissos firmados com o governo. "Há uma instabilidade grande, um clima forte de descontentamento. É muita pressão e cobrança. O cronograma deles é apertado e eles atropelam. A Camargo tem que repensar escalas, prazos e quantidade de gente. É o momento de refletir sobre a obra", diz Adélio Barofaldi, vice-presidente da federação das indústrias de Rondônia (Fiero). Dono de uma prestadora de serviços à Camargo, a quem aluga 50 ônibus e 90 carros, ele diz que a empreiteira "não dá muita chance de discutir e planejar" porque os executivos da área ficariam fora de Rondônia. "Em 2014, quando vier a demissão em massa, o que vão fazer ninguém sabe. A cidade não tinha esse pique. Criou-se uma bolha", diz.

A Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou a criação de um grupo para acompanhar as obras das usinas do rio Madeira. Proposto pelo senador Ivo Cassol (PP-RO), o grupo investigará as causas da rebelião em Jirau e a paralisação em Santo Antônio.

Na tentativa de antecipar novos problemas, o Ministério Público Federal vai criar, em conjunto com outras instituições, um "comitê de monitoramento" das obras de Jirau e da vizinha Santo Antônio, tocada pela Odebrecht. "Temos que tirar a limpo essa história, investigar causas e criar estratégias para evitar novos casos. Foi muito grave", avalia o procurador-chefe do MPF, Reginaldo Trindade.

Ele afirma que havia um "estado geral de greve" e "profunda insatisfação" dos operários por questões trabalhistas. Trindade afirma que a Camargo ainda não assinou um termo de ajustamento de conduta (TAC) para garantir direitos de rescisão e volta dos operários ao trabalho.

A Camargo informa ter iniciado ontem o "replanejamento" da obra, mas rejeita as observações e afirma ser "vítima" de vândalos e ter feito o "possível e o impossível" para remover mais de oito mil operários de Porto Velho. A empresa sustenta que não havia nenhuma reclamação até a eclosão dos tumultos no canteiro.

"Toda crítica tem que ser avaliada. E, se for correta, temos que corrigir os processos", disse ao Valor o presidente da Camargo Corrêa Construtora, Antonio Miguel. "Mas não havia movimento grevista nem pauta de reivindicações até o movimento dos vândalos".

Os operários reclamavam do corte de horas extras e de diferenças de remuneração em relação a empregados de empresas terceirizadas. Miguel diz que a lei fixa limites máximos de horas extras e que não poderia pagar acima disso. Na obras, o salário médio supera R$ 1 mil, segundo ele. A médias de extras chega a R$ 350.

O presidente da Camargo afirma que a obra "vinha numa fase muito boa, de calmaria com a sociedade e os empresários de Rondônia". E diz manter, em Porto Velho, um diretor com "poder e autonomia quase total" para a obra. "Todo mundo me conhece, tem meus telefones. Estou aberto a ouvir e melhorar", diz Antonio Miguel. O executivo agradece o "papel das autoridades" e crê que o comitê proposto pelo MPF será "positivo" se vier para "melhorar e trazer soluções" à obra.

A empresa ainda não sabe quando voltará a operar as máquinas no canteiro de obras. A reconstrução das instalações destruídas na baderna da semana passada deve começar "em breve". Ainda há um clima de insegurança no canteiro. A Força Nacional de Segurança assumiu o controle da usina. Alguns poucos operários permanecem nos alojamentos da outra margem do rio Madeira.

No sábado, a reportagem não obteve autorização para entrar no canteiro sob alegação de falta de segurança. Em duas horas de espera, o movimento ficou limitado a cinco ônibus com operários e alguns carros particulares que recolhiam pertences de trabalhadores.


 


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As carcaças queimadas de três ônibus permaneciam na entrada da usina, na estrada de acesso e na rodovia BR-364. Várias viaturas da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal circulavam pela BR. Três delas estacionaram na entrada principal. Os seguranças não quiseram falar sobre os atos de vandalismo na usina.

Após a megaoperação para receber e retirar os oito mil operários de outras cidades, a empresa informa que ainda restam 500 funcionários alojados em ginásios e pousadas da capital. A operação deve continuar hoje.

No sábado, o movimento de voos fretados alterou a rotina do aeroporto da capital. A cada momento, sob escolta da Polícia Federal, chegavam ônibus com operários que partiam para Teresina, São Luís e Belém. Muitos deles, apenas com a roupa do corpo. "Me deram R$ 15, uma banana e um colchão. Vou só com uma bolsa e sem documento", dizia Luiz Feitosa Alves, originário do interior do Piauí.

Nas rodas de conversa de Porto Velho, o assunto ainda predomina. A boataria de saques e assaltos ao comércio fez várias lojas baixarem as portas. A Polícia Militar foi às ruas e informou não ter registrado ocorrências relacionadas a operários da usina.

 

Fonte: Valor Econômico/Mauro Zanatta | De Porto Velho

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