Quarta-feira, 10 de junho de 2009 - 16h46
Quem poderia imaginar que o deserto teria alguma ligação com a Amazônia? Mas alguém desconfiou da possibilidade e foi atrás. A revista científica Nature Geoscience publicou uma pesquisa mostrando que o material que sai do Saara e atravessa o Atlântico está ligado diretamente à intensidade da precipitação na Amazônia. Todo ano, entre fevereiro e abril, a areia suspensa por tempestades no deserto sai da África, cruza o oceano e alcança a América. Em processos já conhecidos, ela influencia o clima e até a biodiversidade do Atlântico. Mas até agora não havia sido ligada com tanta propriedade às chuvas na região tropical americana.
O físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores do estudo, explica que a poeira do Saara apresenta características que favorecem o aparecimento de cristais de gelo nas nuvens convectivas - que, na Amazônia, respondem por 90% da chuva. Essas nuvens se formam na alta atmosfera, de 15 a 18 quilômetros de altura, e são feitas de gelo. Nem toda partícula em suspensão tem a capacidade de nuclear cristais de gelo. O material do deserto, contudo, é rico em ferro. Quando está em alta altitude, o ferro tem a capacidade de condensar vapor d'água sobre ele, compondo então as nuvens convectivas.
Estudos indicam que o Saara pode ficar ainda mais seco - o que pode se traduzir em mais chuva na Amazônia e contradiz projeções para o futuro da região.
Jornal O Estado de São Paulo
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