Por Denise Ribeiro, da Envolverde - especial para o Instituto Ethos
Instituto Ethos entrevista Júlio Barbosa, secretário nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT.
Um dos companheiros mais próximos da ex-petista Marina Silva, Júlio Barbosa continua firme no partido que ambos ajudaram a fundar há 30 anos, mesmo depois da mudança da senadora para o PV. Ex-seringueiro e prefeito de Xapuri (Acre) por dois mandatos consecutivos (de 1997 a 2004), Barbosa é secretário nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT. Nesta entrevista ele faz um balanço dos avanços do país no quesito sustentabilidade e admite: “O governo é mais avançado do que o PT nas questões ambientais”. Júlio Barbosa inaugura a série de entrevistas que o Instituto Ethos fará com os responsáveis pelas políticas de meio ambiente dos principais partidos brasileiros.
Instituto Ethos: De que maneira o PT incorpora a sustentabilidade à sua agenda?
Júlio Barbosa: O PT, na sua essência, não foi criado na visão ambiental, mas voltado para a defesa do emprego e do salário. Nossa função é justamente trazer esse debate para dentro do partido, que ainda não assimilou totalmente essas questões ao seu programa. No entanto, creio que, no governo, o PT tem feito o Brasil avançar muito, com alguns dos melhores mecanismos de sustentabilidade do mundo, especialmente os relacionados à questão climática. Tanto Marina Silva quanto Carlos Minc, à frente do Ministério do Meio Ambiente, são os responsáveis por esses avanços.
IE: Mas esses avanços se chocaram com a visão desenvolvimentista da ministra Dilma Roussef. Como lidar com essa contradição?
JB: O PT perdeu demais por não ter valorizado o papel da ministra Marina Silva, a mais gabaritada dentro do partido e a mais reconhecida internacionalmente por suas posições ambientais. Ela dava o norte à política que defendíamos, mas é apenas uma pessoa, enquanto o partido, uma entidade maior, continua existindo, tendo de assumir seus erros, agora com responsabilidades ainda maiores. A Marina prestou um serviço à nação ao trazer o tema ambiental para o centro do debate sobre a sucessão do presidente Lula. Um desafio que o comando geral do partido ainda não sabe direito como enfrentar, mas está escolhendo um grupo de especialistas no assunto para integrar a Comissão de Programa que vai elaborar a plataforma da ministra Dilma Roussef. A missão deles será integrar a questão ambiental ao desenvolvimento e criar mecanismos que orientem o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
IE: Cite um exemplo em que os eixos econômico, social e ambiental caminham juntos num programa do governo.
JB: No Acre, estamos implementando processos de desenvolvimento regional fundamentais para a construção da Agenda 21. O Estado foi dividido em cinco regiões, com três a cinco municípios cada, e consórcios intermunicipais decidem desde o ordenamento territorial até incentivos à produção familiar. Trata-se de uma articulação entre os poderes públicos municipal, estadual e federal baseada numa estratégia de ação social, econômica e ambiental – o tripé da sustentabilidade –, com gestão participativa e troca de experiências bem-sucedidas entre os municípios. De obras de infraestrutura a programas de educação, saúde e turismo, tudo é feito visando a integração, a qualidade de vida e as prioridades locais.
Fonte: Envolverde/Instituto Ethos

Quinta-feira, 3 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)