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Nem tudo são flores: os desafios da maternidade conciliar e do empreendedorismo

Como mães empreendedoras enfrentam a dupla carga do cuidado e da gestão


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Conciliar a maternidade com a gestão de um negócio próprio representativo, para muitas mulheres brasileiras, um percurso permeado por desafios estruturais, estigmas sociais e a insuficiência de políticas públicas adequadas. Em um país onde o trabalho de cuidado segue subvalorizado, o acesso ao crédito permanece limitado e o machismo estrutural infelizmente ainda se faz presente, as mães empreendedoras enfrentaram barreiras que ultrapassaram o alcance empresarial.

O preconceito, muitas vezes, não se apresenta de forma explícita, mas se revela por meio de sutilezas: questionamentos que colocam em dúvida a legitimidade do negócio, negociações por interlocutores masculinos por parte de fornecedores ou a evasão de clientes ao saberem que uma fundadora é mãe de crianças pequenas ou neuroatípicas.

Terezinha Santiago, Analista da Unidade de Suporte Operacional (USO) do Sebrae em Rondônia, explica que conciliar a maternidade com a carreira se tornou um grande desafio — ainda mais sendo mãe de irmãs gêmeas. A situação ficou ainda mais desafiadora quando um de seus filhos foi diagnosticado com um grau de autismo, o que exige atenção e cuidados especiais. “Se não fosse pela rede de apoio — meus pais, familiares, meu marido e a flexibilidade que o trabalho oferece — eu não teria conseguido equilibrar a vida profissional com a maternidade”, afirma Terezinha.

Esse cenário leva muitas mulheres à autocensura, diante do dilema entre tornar pública sua condição de mãe ou ocultá-la em nome de uma imagem tida como mais “profissional”. Tal contradição se intensifica em uma sociedade que celebra a maternidade em campanhas publicitárias, mas que oferece escasso ou nenhum suporte concreto às mães, especialmente aquelas que optam pelo empreendedorismo.

O acesso ao crédito continua sendo um obstáculo significativo. Em muitos casos, sua concessão ainda depende da figura masculina, como na exigência de aval do comparecimento. Os incentivos estatais, por sua vez, são limitados e frequentemente vinculados a processos burocráticos incompatíveis com a realidade de mães solo, como editais que desativam CNPJ consolidados, histórico empresarial robusto e tempo disponível para lidar com extensas documentações — um desafio para quem divide seu tempo entre a criação de filhos e a gestão de um empreendimento.

Nesse contexto, iniciativas como o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe) Mulher , vinculado ao Sebrae, representam importantes mecanismos de incentivo. O Fampe Mulher atua como um aval complementar para facilitar o acesso ao crédito por negócios liderados por mulheres, oferecendo garantia de até 100% do valor solicitado, considerando exclusivamente o principal da dívida. Trata-se de uma política que, embora ainda iniciante, representa um passo necessário na direção à equidade de gênero no ambiente empreendedor.

Grande parte desses empreendimentos nascem de vivências pessoais por exemplo: fraldas biodegradáveis desenvolvidas por mães ambientalmente conscientes, refeições preparadas para crianças com restrições alimentares, roupas infantis acessíveis. A dor transforma-se em produto; o produto gera renda; e a renda, por sua vez, promove autonomia.

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Um exemplo claro dessa realidade é Amanda Chagas, microempreendedora à frente do Studio Sempre Bella , um salão de beleza na zona sul de Porto Velho. Ao ser questionada sobre os maiores desafios de conciliar a maternidade com a gestão do negócio, ela foi direta:

“Não é fácil. É uma batalha diária, da hora que a gente acorda até a hora de dormir. Eu até brinco com as meninas dizendo que sou a faxineira, a responsável pela agenda, atende os clientes, quem faz o café… e quando chego em casa, ainda tenho o papel de mãe. O descanso mesmo só vem quando me deito à noite. Mas, no fim, vale a pena. Saber que, todos os dinheiro dias, a gente corre atrás do nosso pra garantir uma vida digna, pra dar conforto, boa alimentação e uma moradia decente pros nossos filhos — isso compensa tudo.”, afirma.

Mais do que empreender, trata-se de um ato de resistência e afirmação em um sistema historicamente excludente. Essas mulheres não aguardam transformações externas — elas protagonizam mudanças, criando soluções em meio à deficiência, superando o cansaço, a culpa e o medo com criatividade, força coletiva e resiliência.

O caminho do empreendedorismo está longe de ser fácil — e para mulheres que enfrentam uma jornada dupla de maternidade, ele pode se tornar ainda mais desafiador. Muitas vezes, essas mães empreendedoras precisam contar com uma rede de apoio para dar conta de tudo. Amanda Chaga é formada em Contabilidade, mas nunca chegou a atuar na área. Ela conta que foi a estética que a encontrou — despertando nela um fascínio que a levou a se capacitar profissionalmente. Hoje, mãe de dois filhos, Amanda registrou que só conseguiu conciliar seus sonhos com a maternidade graças ao suporte que recebeu: "A minha rede de apoio em casa é meu esposo. A gente é super parceiro. Deixamos as crianças na escola juntos, ele vai buscar, se eu estou cozinhando, ele está estendendo roupa... é parceria mesmo. E no trabalho, minha rede de apoio são as meninas que colaboram comigo. Ninguém é uma ilha, ninguém faz nada sozinho. Eu preciso delas, e também preciso de mim. Mas, elas honestamente, acho que eu preciso ainda mais delas. Então, minha rede de apoio é essa: meu marido em casa e minhas colaboradoras aqui no salão”, afirma Amanda.

O que essas empreendedoras como Amanda estão construindo vai além da busca por lucro. É a semente de um novo modelo econômico: mais empático, enraizado na realidade e sustentado por vínculos humanos verdadeiros. Amanda explica que esses laços e o senso de comunidade não se restringem ao tempo de colaboradoras — eles se espalham por todo o ambiente do negócio. “A experiência de cada pessoa que atendemos nos toca profundamente. Não dá pra separar. A dor delas também nos atravessa. Então, na medida do possível, a gente se apoia — emocionalmente ou do jeito que der. Cada cliente traz uma história, e a gente se surpreende, pensa: 'Meu Deus, isso acontece mesmo'. São vivências, encontros entre pessoas.” Esse modelo não floresce por acaso. Ele é o fruto direto da coragem de quem transformou a dureza da vida em força criativa e potência coletiva.

Neste domingo (11) de maio não celebramos apenas o Dia das Mães, aquelas que nos deram a vida, mas também todas as formas de cuidado, afeto e presença que constroem vínculos familiares. Homenageamos as mães biológicas, adotivas, as avós, os pais que também exercem a função materna, as famílias monoparentais, homoafetivas e todas as configurações que, com amor e dedicação, formam lares acolhedores. Que este dia seja um tributo à força, à resiliência e à ternura de quem cuida, ensina e transforma vidas todos os dias.

Dito isso, o Sebrae é uma instituição que, além de empreendedores empreendedores no mercado, desenvolve iniciativas voltadas ao apoio de mães empreendedoras e famílias com diferentes composições, oferecendo tanto suporte para que incluam presentes na vida de seus filhos quanto para alcançarem sucesso em seus negócios.

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